segunda-feira, 25 de maio de 2009

Haidamaky --- Lebedyn

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Eu sou a órfã de Olshana
--- sou órfã, avó.
Meu pai foi castigado pelos lyakhy e,
eu... eu tenho medo.
Tenho medo de recordar o passado,
vovozinha de cabelos brancos...
Levaram-me com eles.
Não me pergunte mais nada
sobre o que aconteceu comigo.
Eu rezei muito, chorei ---
o meu coração espedaçou-se;
as lágrimas secaram e
a minha alma mortificou-se...
Se eu soubesse
que o veria mais uma vez
--- que o vereria de novo,
suportaria as dores em dobro
e por mais de uma vez.
Uma palavra dele apenas bastaria!
Perdoa-me, minha velhinha;
talvez, eu tenha pecado ---
será que Deus, por isto,
terá me castigado?
Eu amei apenas
aquele jovem elegante
de olhos castanhos.
Eu amei apenas
do jeito que o meu coração sabia.
Quando estava em cativeiro,
não rezei por mim,
nem por meus pais --- eu rezei
por ele e pela sorte dele.
Deus que me castigue!
A verdade dEle eu aceito.
É triste dizê-lo: eu pensava
perder a minh'alma.
Se por ele não fosse,
talvez teria perdido... talvez
a minh'alma não teria sobrevivido.
Triste era! Eu pensava:
"Deus querido!
Ele é órfão, --- sem que seja eu,
quem o terá acolhido?
Quem lhe terá perguntado
qual a sorte e qual a desgraça,
ao seu redor, teria pousado?
Quem o terá abraçado,
abrindo-lhe a alma sua?
Quem, ao pobre órfão,
dará uma palavra amiga, de conforto
--- sem deixá-lo no olho da rua?"

Quando assim pensava eu,
o meu coração sorria:
"Também sou órfã: sem mãe e
sem pai. Estou só no mundo...
Também, ele sozinho vagueia.
Se souber que eu não existo,
dará fim à sua vida". Este era
o meu pensamento. --- Rezei,
rezei muito; esperei na janela.
O meu amado não apareceu
--- talvez, jamais volte:
ficarei sozinha para sempre..."

Pela face, a lágrima rolou.
A freira, a seu lado,
ficou entristecida --- nada falou.
"Minha anciã senhora!
Por favor, diga-me onde estou?"
"Meu pássaro singelo, estás em Lebedyn.
Não te levantes --- estás adoentada".
"Em Lebedyn! Há quanto tempo?"
"Pois não tão muito. Desde ante-ontem".
"Desde ante-ontem?.. Espere um pouco!..
Incêndio às margens do rio...
Taberneiro, castelo, Maidanivka...
Chamavam-no de Halaida..."
"Halaida Yarema, ele
disse que era o nome dele
--- aquele que te trouxe..."
"Onde está ele, onde?
Agora eu sei!.."
"Disse que, em uma semana,
voltaria para buscar-te".
"Uma semana! Uma semana!
Deus meu, que valha-me a sorte!
Minha anciã senhora,
a hora triste da desventura está passando!
Aquele Halaida --- meu Yarema!..
Ele é conhecido por toda a Ucrânia. Eu vi
quando os vilarejos queimavam; eu vi ---
os lyakhy tremendo de pavor, simplesmente
por ouvirem o nome dele sendo pronunciado.
Sabem todos quem é ele e de onde ele veio!
Halaida sabe a quem procura!
Ele procurou-me e me achou.
Vem buscar-me, ó águia minha!
Como é belo viver neste mundo...
Uma semana apenas;
minha anciã senhora --- restam três dias tão só.
Como o tempo demora a passar!..

“Загрібай, мамо, жар, жар,
Буде тобі дочки жаль, жаль…”

Como é belo viver neste mundo...
O que me diz, minha anciã senhora.
--- Sentes alegria, também?"

"Estou contente mais contigo, minha pequena".
"Por que, então, não cantas tu?"
"Já cantei demais na minha vida..."

Os sinos badalaram
--- era o sinal da hora de rezar.
Oksana ficou sozinha meditando e
a freira, após a sua reza vespertina,
se recolheu para repousar.

No final da semana,
na igreja de Lebedyn,
os fieis cantavam "Que se Rejubile Isaias!".
Logo pela manhã,
o Yarema e a Oksana se casavam.
Depois, à tarde --- para não contrariar o otomano,
(Que menino, cumpridor de seus deveres!)
Yarema deixava a sua Oksana:
Era preciso exterminar os inimigos
nas fogueiras de Umanshchyna.
Oksana, paciente espera ---
não virão buscá-la, os pais de Yarema,
para levá-la desta cela do mosteiro,
para a rica casa do seu amado?

Não fique tristonha, tenha a esperança
a reze a Deus. Que Ele não te abandona!

Eu, darei um pulo para outro lado
--- quero ver o que se passa
pelas bandas lá de Uman.
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"Que se Rejubile Isaias!" --- Canto eclesial, por ocasião da celebração
de casamentos (Isaiya, lykui!)
Uman --- Grande centro comercial, durante os anos 60, do séc. XVIII
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05/25/2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

Haidamaky --- Banquete em Lysianka

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Entardecia... De Lysianka,
ao redor, tudo ilumonou-se:
Era Honta e Zalyzniak ---
seus cachimbos acendiam.
Horrívelmente fumaram tanto
que até no inferno não se faz
tanta fumaça como produzir.
Hnylyj Tykych todo vermelho,
tingido de sangue mercantil e
da nobreza dos dvoriany.
As labaredas encobriram
as simples choupanas e
as mansões de renome;
Parece que a sorte dá o castigo
ao todo poderoso e, também, ao
pobretão --- aquele sem nome.

No centro da praça
o Honta hirsuto, ao lado de Zalyzniak,
ordena aos gritos: "Morte aos lyakhy!
Castigo sem tregua! Se arrependam!
--- de nos terem zombado. Aprendam".
Os rapazes aplicavam os castigos.
Todos gemiam, choravam, gritavam
--- não achavam abrigos. Maldiziam,
outros rezavam: perdão, aos já mortos,
pediam. Confessavam pecados; porém,
nem assim sobreviviam. E, ...morriam!..
A morte severa a todos levava
--- não dava ouvidos aos gritos
nem os anos em conta apontava;
meninas, donzelas e velhos:
a todos ceifava. Mesmo um aleijado
que houvesse, a ela não escpava.
Não restou uma alma viva
que, da hora vingativa,
pudesse contar a história, ---
de como arderam as chamas
da festa macabra de Lysianka.

Gritava Halaida... enfurecido gritava:
"Gastigo aos lyakhy, castigo!"
Até parecia um doido ---
por sobre os caidos pisava;
os já mortos, incinerar mandava.
"Mais um lyakhy, um inimigo!
Muito pouco... tragam mais!
O mar é pequeno... é vermelho demais...
Oksana! Oksana!
Onde estás tu?" --- seus gritos ecoam;
saidos das chamas. Labaredas encobrem
os seus ziguezagues bestiais...

Neste instante, os haidamaky
estenderam as mesas na praça
--- era hora de ingerir alimentos;
conseguidos alhures, sem pejo.
Um jantar, antes do sol se deitar.

"À farra!" --- todos gritaram.
Ao redor da mesa se postaram.
Mais além, o inferno a tudo envolvia.
Entre as labaredas, vultos em brasa
--- senhores de outrora; nada agora!
Junto aos caibros, todos queimando.
"Bebam, rapazes! Bebam!
Derramem toda a bebida;
talvez encontremos outros senhores
--- então, uma nova farra teremos!"

E, Zalyzniak, numa tragada só,
com maestria, a sua taça enxuga.

"Sufrago pela alma dos que partiram
--- os malditos condenados a purgar
os seus pecados na terra cometidos.
Bebamos mais, rapazes! Bebamos!..
Meu irmão Honta, bebamos mais!
À farra, todos! Todos aos pares.
Onde está o Volokh?
Venha cantar-nos... ó, velho kobzar!
Mas não nos cante dos nossos pais.
Os nossos atos também são imortais
--- soubemos derrotar os inimigos;
também, não fales sobre a tristeza ---
alegres somos: só vejas esta mesa...
Uma canção alegre executes,
até que a terra toda estremeça ---
mostre-nos uma donzela, uma viuva.
Como contê-la entre os abraços,
até que totalmente ela se aborreça".

Kobzar (tocando e cantando)

"De vilarejo em vilarejo ---
por toda a parte,
só se ouve a música e
se dança com arte.
Vendi os ovos e a galinha;
comprarei sapatos amanhã.

De vilarejo em vilarejo ---
por toda a parte,
só se dança com arte:
Não tenho vaca,
não tenho toro;
tenho uma casa
em que eu moro.

Venderei esta casa.
Talvez, até de graça darei
ao meu compadre... Farei
uma tenda beirando mural
-- venderei bebes e comes.
Que tal?

De farras, a vida levarei ---
dançarina eterna eu serei!
Ouçam, meus filhos:
Mus frágeis pombinhos,
Nã se entristeçam!..
Apreciem os passos meus
-- de dança os compassos,
são vossos abraços. Tereis
seus sapatos vermelhos e,
tereis a escola. Vos darei!.."

"Muito bem! Muito bem!
Queremos que dance agora.
És kobzar e tua é esta hora!"

O cego tangeu as cordas;
agachado, jogou as pernas
de um lado para outro --- e,
saltitando dançava o hopak.

A praça toda estremecia ---
vergava a terra sob os pés...
"Entre na dança, Honta!"
"Vamos então, irmão Maksym!
Enquanto vivos estamos. Afinal,
nós irmanados somos por que!"

"Não se espantem
que sou maltrapilho;
meu pai sempre foi honesto
--- como ele, também sou".
"Estás certo, irmãozinho ---
por Deus, juro!"
"Vez agora é tua, Maksym!"
"Espere um pouco... mais um pouco só!"

"Desse jeito, como eu faço:
ame a filha, seja ela de quem for
--- pode ser do padre, ou do sacristão,
também pode ser a do campônio.
Desde que seja bela e aceite a tua mão".

Alegres, todos dançando;
Halaida fechado em si mesmo
--- sentado na ponta da mesa,
nada ouvindo, nem vendo;
apenas triste chorando.
Até parece uma criança.
Mas chora por que? Direi agora:

Vestido de zhupan vermelho...
Tem glória, tem ouro e tem fama;
porém, não tem junto de si
a sua querida Oksana.
Não tem com quem dividir a sorte desdita,
nem cantar os sofrimentos, ao lado daquela,
que poderia minorar as suas dores: Só ela!..

Mas o Halaida não sabe,
que a sua Oksana,
do outro lado do rio,
os seus dias afoga em tristeza
--- nos umbrais e janelas dos lyakhy,
daqueles que o seu pai trucidaram.
Como outros irmãos --- seus patrícios,
escrava de nobres velhacos ela ficara.

Os raios das luzes,
de Lysianka em chamas,
as janelas todas iluminam e
induzem ao pensamento:
"Onde estará o meu Yarema?" ---
pensando assim, Oksana clama.
Não sabe ela, que está ali
o seu amado, sofrendo em Lysianka.
Não mais um simples maltrapilho;
agora é um mandante,
vestido de zhupan vermelho.

Sentado junto à mesa, ele pensa:
"Onde estará a minha Oksana?
Minha querida, minha pombinha.
Submissa, estará chorando?.."
Abatido, sobre a mesa se reclina.

Na encosta
um vulto cossaco
leve se desloca.
"Quem é?" --- Pergunta Halaida.
"Sou mensageiro do Honta.
Ele está se divertindo ---
eu não tenho pressa".
"Mas eu tenho; fale logo,
seu Leiba cachorro!"
"Deus me livre, não sou Leiba!
Estás me vendo? Sr. Haidamaka!
Eis a kopiyka... Queiras ver!..
Ou, tu não a conheces?"
"Sim, conheço! --- sacando da botina
o tarani bento. --- Quero a verdade.
Onde está a minha Oksana?" ---
Meneou as mãos...

"Deus a guarde!..
Está com os senhorios...
nos aposentos. Coberta de ouro".
"Quero a tua ajuda!
Tua ajuda agora, ó maldito!"
"Sim senhor! Agora mesmo...
Sr. Yarema enamorado!
Irei agora libertá-la:
Um bom dinheiro consegue tudo.
Direi aos lyakhy --- ao invés de Pac..."
"De acordo! Entendo a trama.
Depressa! Que vas agora!"
"Vou indo já, agora!
Mantenham o Honta se distraindo;
que ele se divirta até a meia-noite.
O resto fica por minha conta...
Saber quero apenas:
levá-la devo para onde?"
"Para Lebedyn!
Para Lebedyn, --- ouviste?"
"Ouvi, ouvi".

A bailado cossaco continua.
Halaida e Honta hopak saltitam e
Zalyzniak toma a kobza;
ferindo-lhe as cordas,
convida o kobzar
para que este mostre
como sabe ele dançar.
"Kobzar é tua vez agora
--- enquanto eu tocarei,
dançarás tu a tua hora".
E começou o dançarino
--- tomou a conta do bazar.
Saltitando se animou tanto que,
a seguir, começou a cantar:

"Nos jardins há pastinacas...
Eu não sou o teu cossaco taco?
Ou será que não te amo?.. Te amo!
Não daria eu te sapatos lindos?..
Sim, daria!.. Compraria tudo novo
para a minha moreninha ---
a amada de olhos castanhos".

"Hup-lá!.. Hurra! Hip.. hopak!
Apaixonou-se pelo cossaco,
que era um ruivo e muito velho
--- que sorte ingrata era a dela!..

Ó sorte! Siga a sua desventura
e tu --- ó velho!, saias desta com finura.
Eu, por mim, irei até à taverna.
Tomarei um gole, tomarei dois goles;
um terceiro, para sentir-me mais triste.
Mais um gole --- um quinto, um sexto,
até o final... Vejo mulheres bailando,
seguidas por um pardal.
Sapateando --- batendo os pés,
saltitando --- palmas batendo...
Mas não te acanhes, ó pardal!..

O velho ruivo convida uma velha para dançar;
recebe, em troca, uma figa --- sem disfarçar.

Depois: "Seu capeta traquinas, por que
não te casas, para não vadiares pelas esquinas;
deverias aprender a descortiçar o painço ---
alimentar as cianças e, de seus filhos cuidar.
Da minha parte, eu vou os meus proventos ganhar;
e tu, já velho de idade, não peques tanto assim ---
é melhor que, numa estufa, te busques aquecer.
De bruços deitado, respirando sem esmorecer".

"Quando eu era mais novinha e mais agradável,
pindurava a minha zapaska no postigo de janela;
e quem por ali passava --- sempre a notava.
Acenava e sussurrava; depois, para mim piscava.
Enquanto em seda eu bordava, pelo postigo,
o passeio dos rapazes deliciosamente apreciava!
Eram os Semen, eram os Ivan
--- todos vestidos de zhupan...
Passeavamos pelos campos;
depois, cantavamos todos ambos".

"Que se tranque a poedeira numa gaiola,
os pintinhos --- seus filhinhos, na primeira..."
............................................
............................................
"Eia! Hurra! Entortou o velho a ferradura;
a mãe puxa a barrigueira --- filha, força!
Amarre agora, na parte traseira".

"Mais ainda? Ou, já basta?"
"Mais um pouco!
Não sendo eu assim bela!
Porém, são pernas próprias que me carregam."

"Ah! Sirva um drinque de syrivets
com agárico e salsinha picadinhos:
Com babunha e didunha,
sempre juntinhos, ---
felizes e sorridentes!

* * *
"Ah! Sirva um drinque de syrivets
com agárico e salsinha picadinhos:
.....................
.....................

* * *
"Ah! Sirva um drinque de syrivets
com rábano-bastardo picadinho:

* * *
"Ah! Sirva água, muito mais água; depois,
procuremos um caminho pelo rio --- um vau!.."

"Basta! Basta! --- grita o Honta.
Basta, anoitece.
Rapaziada, luz acendam!..
E o Leiba onde está?
Não chegou ainda?
Encontremo-lo, agora.
Que enforcado ele seja! Ali... --- lá.
Porcalhão de botoeira!
Rapazes, Halaida! Já se apaga
o lampião cossaco".
Responde o Halaida: "Otamano!
Passeiemos, ó meu caro!
Vejas --- há labaredas; lá na praça,
que todos vejam
as chamas limpando tudo.
À dança. Vamos, toque a kobza!"

"Não. A dança não mais se coaduna!
Agora, mais fogo precisamos implementar!
Tragam mais alcatrão e mais estopa!
Tragam morteiros ---
lancem obuses sobre os esconderijos!
Que ninguem pense, que estou brincando!"

Os haidamaky puseram-se a gritar.

"Muito bem, nosso guia! Estamos ouvidos!"

Pelo açude se lançara,
os haidamaky gritando e cantando.
Lá de longe, o Halaida clama: "Guia!
Esperes por mim!.. Perdido, eu estou morrendo!
Tenhais misericórdia, não queimeis:
Lá está a minha Oksana! Compaixão dela tenhais!
Mais uma horinha, apenas
--- para que eu possa resgatá-la!"

"Está bem!.. Zalyzniak,
ordene para que incendeiem.
Ela partirá junto com os lyakhy...
E tu, pombo apaixonado,
encontrarás uma outra".

Olhou para trás ---
não mais viu o Halaida.
Brada o monte --- a velha fortaleza,
com os lyakhy se diverte,
esbarrando até as nuvens.
O restante, transformou-se num inferno...
"Onde está o halaida?" --- Maksym chama.
Nem sinal dele restou...
--- No silêncio mergulhou.

Enquanto os rapazes dançavam,
Leiba com o Yarema,
nos esconderijos do forte,
de mansinho se infiltravam.
Resgatarm a Oksana --- já quase sem vida.
Yarema, cumprindo as ordens,
levou a Oksana até o Lebedyn...

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Hnyly Tykych --- Rio sobre o qual está o vilarejo de Lysianka. É afluente de Buh.
dvoriany --- Grandes proprietários de terras, latifundiários
Leiba --- Era um taberneiro que, depois de ser caloteado pelos confederados,
juntou-se aos haidamaky
Haidamaka --- Forma singular (caso nominativo) de haidamaky
kopiyka --- Havia uma lenda de que uma moeda de 1 kopiyka com esfígie de
Kateryna II (1 copeque, moeda de liga de prata, equivalia a 1 centésimo
de rublo) servia de identificação entre os haidamaky.
ao invés de Pac --- Referência original ao Pac (Jan Pac) se fez em "Haidamaky -
Introdução"
Lebedyn --- Monastério feminino que ficava no vilarejo de nome igual
bazar --- Lugar a céu aberto, onde se faz o comércio em geral, ou uma praça onde
se reune o povo
pastinacas --- (pastinagas) Plural de "pastinaca", ervas eurásias, com folhas pinadas
e umbelas compostas de flores amarelas e muitas sementes ovais
achatadas
cossaco taco --- cossaco corajoso (adj. taco = corajoso)
zapaska --- Vestimenta feminina que era usada em substituição à anagua (saia
de baixo)
drinque de syrivets --- Bebida fermentada, feita de farinha
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05/19/2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Haidamaky --- Hupalivshchyna

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Sol nascente; Ucrânia ---
ardia em chamas lentamente e,
a shliakhta trancafiada,
em seus aposentos, desfalecia.

Por todos os vilarejos, enforcamentos;
Corpos pindurados ---
dos magnatas; os comuns da shliakhta
eram todos amontoados.
Pelas ruas, nas encruzilhadas
cães e corvos vorazes
deliciavam-se a contento,
bicando os olhos da shliakhta.
Ninguém proibia nada...
Nem havia para quem ficassem
os cães e as crianças; ---
As mulheres, com os seus cavalos,
se aliaram aos haidamaky.

Assim era o desmando
por toda a Ucrânia!

Mais terrível que o inferno... E, por que?
Por que o povo sofre?
Tal pai, serão assim os filhos, ---
viver apenas e fraternizar-se...
Mas não, não souberam, não quiseram;
era preciso separar-se!
Era preciso ver sangue, sangue de irmãos;
a inveja não permitia que, na sua despensa,
proventos houvesse e, nos seus jardins,
a alegria bailasse a contento! Oh! ... não!..
"Mataremos a nosso irmão!
Queimaremos a sua choupana!" ---
Disseram, e assim o fizeram.
Parece tudo ser um castigo
--- órfãos restaram. E só!..
Cresceram chorando. Adultos se tornaram;
mãos calejadas suas ficaram --- sangue
pelo sangue. Assim se vingaram!
O coração se contrai dolorido,
ao recordar o passado partido:
dos eslavos antigos, os filhos,
o gosto de sangue respiram.
De quem foi a culpa? Não há?
--- Na certa que são
os ksendzy, os jesuitas.

Trafegavam os haidamaky
pelas florestas, pelos bosques.
Eram seguidos pelo Halaida
com as lágrimas nos olhos.
Já passaram a Voronivka,
a Verbivka e adentraram em Olshava.
"Não será de bom alvitre perguntar
se a Oksana ainda existe? Não!
Não farei esta pergunta nunca
para que jamais descubram
por quem tanto o meu ser padece".
A Olshava já ficou distante agora.
A pergunta se refez, de novo:
"É verdade que o tytar foi batido?"
"Sim, meu senhorio. Meu pai disse
que ele foi queimado pelos lyakhy
e a sua filha foi por eles capturada.
Ontem mesmo, o tytar foi sepultado."

Nem todo ouvidos... "Leve, o cavalo ruço!"
E jogou as rédeas.
"Por que ontem, enquanto eu não sabia,
não deixei a vida!..
Porém hoje, mesmo morto,
levantar-me-ei da tumba
para castigar os lyakhy. Coração meu!
Oksana! Oksana!
Onde estás agora?"
Calou-se, ficou triste,
seguiu sem urgência.
Pobre-diabo oprimido ---
não pode vencer o enfado.
Alcançou os seus, quando
já deixavam para trás
o vilarejo de Borovykiv.
Korchma queima com suas adegas,
nem sinal de Leiba --- como se sumisse.
Um sorriso de Yarema
--- triste e cansado. Recordou:
"Foi aqui, foi ante-ontem ---
me verguei perante o Leiba.
Hoje, é diferente..." A tristeza
tomou o peito. Por que tanta desventura!

Os haidamaky sobre os barrancos
--- por entre os desfiladerios,
da estrada se desviaram.
Juntaram-se ao menino-homem,
que no caminho encontraram
--- vestido em trapos,
calçando alpargatas;
sobre os ombros, uma sacola.

Se apresentaram.

"Olá! Velho mendigo! Espere, um pouco!"
"Não sou um velho, meu Senhorio!
Como estais vendo, eu sou um haidamaka".
"Mas, como estrambótico és tu!"
"De onde és?"
"Sou de Kyrylivka".
"Conheces tu a Budyshch?
e o lago junto ao local?"
"Conheço o lago, ali;
beirando o despenhadeiro, chegareis lá".
"Tens visto hoje alguns lyakhy?"
"Não vi nenhum, em parte alguma;
mas, ontem havia muitos.
As coroas não puderam ser benzidas:
os lyakhy malditos não permitiram.
Por isso eles foram massacrados
--- eu e o meu pai o fizemos,
com o tarani bento;
A mamãe está doente;
senão, ela também tomaria parte".
"Muito bem, menino.
Tome este ducado...
Seja ele de muita valia".
Tomou o ouro, olhou...
"Agradecido fico!"

"Agora rapaziada, a caminho!
Ouvido atento? Sem conversa.
Siga-me, Halaida!
Neste vale há um lago ---
junto ao bosque, no sopé da montanha.
No bosque, há um tesouro!..
Ao chegarmos lá, tudo sitiaremos.
Diga aos rapazes. Poderão estar
os porões sendo vigiados
por alguns nefastos miseráveis".
Chegaram ao local.
Sitiaram o bosque;
espreitaram --- ninguém havia...
"Que o diabo os carregue!
Que peras bonitas!
Derrubem aos montes!
Mais depressa! Mais depressa!
Assim! Assim, rapaziada!"

Os confederados pelo chão rolaram
--- peras todas podres. E, as outras,
derrubaram todas --- deram conta;
acharam os tesouros --- ficaram com tudo.
Revistaram da shliakhta os bolsos...
Levaram para Lysyanka, os cães inimigos
--- para castigos vindouros.

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ksendzy --- Na Polônia, era a designação dos padres católicos romanos
korchma --- Casa onde se vendia bebidas fortes
haidamaka --- É forma singular de haidamaky (que é plural)
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05/13/2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Haidamaky --- Banquete Vermelho

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Todos os sinos repicaram
por toda a nossa Ucrânia;
Reverberaram os haidamaky:
"Morre a shlyakhta!? Morre!..
--- Morre a shlyakhta!
Festejemos ---
até que as nuvens se inflamem!".

A Smilianshchyna pegou fogo
--- as nuvens se coloriram.
Também, a Medvedivka
de vermelho incandesceu os ceus.
A Smila se envolveu em chamas,
enquanto a Smilianshchyna,
em rio de sangue se transformou!

Queima Korsun, queima Kanivo,
queimam também Cherkassy e Chyhyryn.

Chorny Shlyakh arde em chamas
--- o sangue corre como um rio...
Até a Volyniya chegou.

Gonta festeja em Polisya;
por sua vez, em Smilianshchyna
a festa está por conta de Zaliznyak e,
em Cherkasy, a tarefa coube a Yarema
para mostrar a força do benzido tarani...

"Sim, assim! Muito bem, filhos ---
atormentem os inimigos seculares!
Muito bem, rapaziada!" --- lá fora
o Zaliznyak está gritando.

Ao redor, vê-se o inferno; os haidamaky
passeiam por sobre as labaredas.
E, Yarema --- pensando. Triste a visão:
"Muito bem, filhos. Que a mãe deles endoideça!
Atormentem, atormentem, tereis paraiso
ou então, sereis yasaulos.
Divirtam-se, rapazes! Vamos, todos!"

E todos se foram.
Pelos sótãos, pelas despensas e copas,
pelos porões e adegas, e lá onde houvesse
buscar algo de valor --- o que aprouvesse...

"Chega, rapazes, agora!
Cansados --- descansem".

Ruas, bazares e centros
cobertos de corpos,
flutuam em sangue.

"Foi pouco castigo!
Mais uma rodada,
para que não se levantem
as almas malditas".

Reuniram-se os haidamaky
na praça da feira. Vem Yarema
e, depois, Zaliznyak proclama:
"Venha cá, menino! Ouça!
Medo não tenha;
não sou espantalho".
"Medo não tenho!" --- de chapeu na mão,
postou-se, como se diante do amo.
"De onde és tu? Quem és tu?"
"Meu senhor, sou de Olshana".
"De Olshana, lá onde o cães
deram cabo ao tytar profano?"
"Que tytar? Onde?"
"Lá em Olshana;
Dizem que levaram a filha dele.
Poiis que saibas".
"Filha, lá em Olshana?"
"Filha do tytar, lá em Olshana".
"Oksana! Oksana!" --- Yarema
enguliu seco e caiu ao chão...

"Pois então! A questão é...
Pena do menino!
Refresque o garoto, Mykola!"

Animado. "Meu pai! meu irmão!
Por que não sou um centímano?
Deem-me um tarani, deem-me poder
--- tormenta aos lyakhy, tormenta!
Tormenta terrível, para que o inferno
sinta o calor das chamas!"

"Filho, terás o teu tarani
--- a obra santa não espera.
Irás conosco até a Lysyanka
p'ra darmos rijeza aos nossos tarani!"

"Vamos, vamos, sr. otomano
--- meu pai, meu irmão. Meu tudo!
Irei até o fim do mundo...
Voarei, conseguirei
--- arrancarei do próprio inferno, sr. otomano...
Até o fim do mundo, sr....
Até o fim do mundo;
porém, não encontrarei a Oksana!"

"Talvez, possas encontrá-la.
Qual é o teu nome? Não sei ainda".

"Yarema".

"O sobrenome?"

"Não tenho um sobrenome!"

"Serás um bastardo? Não tens sobrenome;
escreva, Mykola, no livro de registros.
Será, a partir de hoje ---
será Pelado, escreva assim mesmo!"

"Não, é feio!"

"Então, será Desgraça?"

"Também, não".

"Espere, um pouco, escreva Halaida".

Assim foi registrado.

"Então, Halaida, vamos ao passeio.
Acharás a tua sorte... Se não a encontrares...
Partamos agora, rapaziada".

Deram um cavalo a Yarema
--- reserva do comboio.
Sorrizo nos lábios, montou o seu baio
--- irrompeu em choro de tanta leveza!
Romperam a fronteira
--- Cherkasy em labaredas...

"Estão todos?"
"Sim, estamos!"
"Haida!"

Estendeu-se,
ao longo da mata
-- beirando o Dnipro,
a tropa cossaca.

Também, ali estava
o cego kobzar Volokh,
em seu cavalo cansado,
de leve mancando.
Aos cossacos,
o seu canto ele cantava:

"Haidamaky, haidamaky,
Zaliznyak está passeando!"

Partiram... Deixaram Cherkasy
--- permaneceu queimando,
uma fogueira só --- só, queimando.
Para o diabo! Nem olhar p'ra ela...

Insultos e risos --- shlyakhta maldita.
Alguns tecem comentários;
outros, do kobzar o canto ouvem...

Lá, à frente, Zaliznyak ouvidos atiça.
Caminha tranquilo, fumando cachimbo,
nem uma palavra com ninguém partilha.
A seguir seus passos, está o Yarema.

Verdes borsques, arvoredo negrume e,
Dnipro gigante; mais além, montes altos
debaixo do ceu estrelado
--- tudo é silêncio e muita gente,
com as suas dores, sofrendo ---
Perdeu-se tudo..., tudo!
Nada mais resta. Nada se vê.
Nada se ouve. Parece que tudo está morto.

Só e triste, ele não chora.
Não, não chora: uma serpente feroz,
com suas lágrimas se embebeda e
estrangula-lhe a alma, despedaçando
o seu sofrido coração.

"Eh!, lágrimas, lágrimas minhas!
Podeis lavar a tristeza;
por que, então, não o fazeis?..

Triste! Sinto-me nauseabundo!
Nem o mar azul,
nem o Dnipro comportariam
toda a desgraça e a tristeza minhas.

Ou, terei de perder a alma minha?
Oksana! Oksana!
Onde estás tu? Olhes para mim
--- és tu a única vida minha:
tenhas compaixão de Yarema.

Onde estás tu?
Talvez, ela esteja definhando, ou
talvez, está maldizendo a sorte
--- está definhando, está maldizendo;
ou, agrilhoada pelo senhorio,
está morrendo.

Talvez, tenha lembranças de Yarema,
ainda se recorde de Olshana.
E, clame ainda:
"Coração meu, abraçe a tua Oksana!
Fiquemos abraçados para sempre!
Que os lyakhy nos maltratem,
assim não sentiremos!.."

Sopram os ventos
--- vindos do mar, passando pelo Lyman,
vergando os álamos e os choupos, ---
Toda menina se volve sempre
para o lado em que estiver se debruçando
o infortúnio da desgraça e de má sorte.
Se aflige, se entristece; depois,
esquece tudo... Depois, pode tornar-se
uma senhora de respeito;
o senhorio lyakh... Coitado! Não tem jeito!

Que me lancem ao inferno,
dêm-me um banho de sofrimento,
os trovões que me ensurdeçam;
mas, não permitam que eu veja
a minha Oksana ser de outro ---
uma senhora de um lyakhy maldito.

Recebo os castigos,
mas não desta sorte.
Oksana! Oksana!
Onde tu te encontras?"

E, as lágrimas cairam;
mas, de onde elas vieram?
Zaliznyak ordena:
"Todos, para o bosque!
Está amanhecendo...
Os cavalos, já cansados,
devem ser alimentados", ---
e silentes, os haidamaky
na floresta se esconderam.

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Chorny Shlyakh --- Antiga via mercantil, usada pelos tártaros da Criméia para
atacar as terras ucranianas e a Polônia, nos séc. XVI - XVII.
Começava no poto de ligação da Criméia com o continente e
seguia para o norte, para as bacias de Ingul, Ingultz e Tyasmin,
depois voltava-se para o ocidente --- subdividindo-se em três
outros caminhos.
yasaulos --- (deriva do turco) Chemefe dos kozaky, equivalente a rotmistrz na
cavalaria polonesa, ou a capitão na infantaria russa.
Pelado --- No original, "holyj" que significa "nú", ou "pelado"
Desgraça --- No original, "bida" que significa "desgraça"
Halaida --- Significa "abandonado", "sem familiares"
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05/08/2009