sexta-feira, 8 de maio de 2009

Haidamaky --- Banquete Vermelho

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Todos os sinos repicaram
por toda a nossa Ucrânia;
Reverberaram os haidamaky:
"Morre a shlyakhta!? Morre!..
--- Morre a shlyakhta!
Festejemos ---
até que as nuvens se inflamem!".

A Smilianshchyna pegou fogo
--- as nuvens se coloriram.
Também, a Medvedivka
de vermelho incandesceu os ceus.
A Smila se envolveu em chamas,
enquanto a Smilianshchyna,
em rio de sangue se transformou!

Queima Korsun, queima Kanivo,
queimam também Cherkassy e Chyhyryn.

Chorny Shlyakh arde em chamas
--- o sangue corre como um rio...
Até a Volyniya chegou.

Gonta festeja em Polisya;
por sua vez, em Smilianshchyna
a festa está por conta de Zaliznyak e,
em Cherkasy, a tarefa coube a Yarema
para mostrar a força do benzido tarani...

"Sim, assim! Muito bem, filhos ---
atormentem os inimigos seculares!
Muito bem, rapaziada!" --- lá fora
o Zaliznyak está gritando.

Ao redor, vê-se o inferno; os haidamaky
passeiam por sobre as labaredas.
E, Yarema --- pensando. Triste a visão:
"Muito bem, filhos. Que a mãe deles endoideça!
Atormentem, atormentem, tereis paraiso
ou então, sereis yasaulos.
Divirtam-se, rapazes! Vamos, todos!"

E todos se foram.
Pelos sótãos, pelas despensas e copas,
pelos porões e adegas, e lá onde houvesse
buscar algo de valor --- o que aprouvesse...

"Chega, rapazes, agora!
Cansados --- descansem".

Ruas, bazares e centros
cobertos de corpos,
flutuam em sangue.

"Foi pouco castigo!
Mais uma rodada,
para que não se levantem
as almas malditas".

Reuniram-se os haidamaky
na praça da feira. Vem Yarema
e, depois, Zaliznyak proclama:
"Venha cá, menino! Ouça!
Medo não tenha;
não sou espantalho".
"Medo não tenho!" --- de chapeu na mão,
postou-se, como se diante do amo.
"De onde és tu? Quem és tu?"
"Meu senhor, sou de Olshana".
"De Olshana, lá onde o cães
deram cabo ao tytar profano?"
"Que tytar? Onde?"
"Lá em Olshana;
Dizem que levaram a filha dele.
Poiis que saibas".
"Filha, lá em Olshana?"
"Filha do tytar, lá em Olshana".
"Oksana! Oksana!" --- Yarema
enguliu seco e caiu ao chão...

"Pois então! A questão é...
Pena do menino!
Refresque o garoto, Mykola!"

Animado. "Meu pai! meu irmão!
Por que não sou um centímano?
Deem-me um tarani, deem-me poder
--- tormenta aos lyakhy, tormenta!
Tormenta terrível, para que o inferno
sinta o calor das chamas!"

"Filho, terás o teu tarani
--- a obra santa não espera.
Irás conosco até a Lysyanka
p'ra darmos rijeza aos nossos tarani!"

"Vamos, vamos, sr. otomano
--- meu pai, meu irmão. Meu tudo!
Irei até o fim do mundo...
Voarei, conseguirei
--- arrancarei do próprio inferno, sr. otomano...
Até o fim do mundo, sr....
Até o fim do mundo;
porém, não encontrarei a Oksana!"

"Talvez, possas encontrá-la.
Qual é o teu nome? Não sei ainda".

"Yarema".

"O sobrenome?"

"Não tenho um sobrenome!"

"Serás um bastardo? Não tens sobrenome;
escreva, Mykola, no livro de registros.
Será, a partir de hoje ---
será Pelado, escreva assim mesmo!"

"Não, é feio!"

"Então, será Desgraça?"

"Também, não".

"Espere, um pouco, escreva Halaida".

Assim foi registrado.

"Então, Halaida, vamos ao passeio.
Acharás a tua sorte... Se não a encontrares...
Partamos agora, rapaziada".

Deram um cavalo a Yarema
--- reserva do comboio.
Sorrizo nos lábios, montou o seu baio
--- irrompeu em choro de tanta leveza!
Romperam a fronteira
--- Cherkasy em labaredas...

"Estão todos?"
"Sim, estamos!"
"Haida!"

Estendeu-se,
ao longo da mata
-- beirando o Dnipro,
a tropa cossaca.

Também, ali estava
o cego kobzar Volokh,
em seu cavalo cansado,
de leve mancando.
Aos cossacos,
o seu canto ele cantava:

"Haidamaky, haidamaky,
Zaliznyak está passeando!"

Partiram... Deixaram Cherkasy
--- permaneceu queimando,
uma fogueira só --- só, queimando.
Para o diabo! Nem olhar p'ra ela...

Insultos e risos --- shlyakhta maldita.
Alguns tecem comentários;
outros, do kobzar o canto ouvem...

Lá, à frente, Zaliznyak ouvidos atiça.
Caminha tranquilo, fumando cachimbo,
nem uma palavra com ninguém partilha.
A seguir seus passos, está o Yarema.

Verdes borsques, arvoredo negrume e,
Dnipro gigante; mais além, montes altos
debaixo do ceu estrelado
--- tudo é silêncio e muita gente,
com as suas dores, sofrendo ---
Perdeu-se tudo..., tudo!
Nada mais resta. Nada se vê.
Nada se ouve. Parece que tudo está morto.

Só e triste, ele não chora.
Não, não chora: uma serpente feroz,
com suas lágrimas se embebeda e
estrangula-lhe a alma, despedaçando
o seu sofrido coração.

"Eh!, lágrimas, lágrimas minhas!
Podeis lavar a tristeza;
por que, então, não o fazeis?..

Triste! Sinto-me nauseabundo!
Nem o mar azul,
nem o Dnipro comportariam
toda a desgraça e a tristeza minhas.

Ou, terei de perder a alma minha?
Oksana! Oksana!
Onde estás tu? Olhes para mim
--- és tu a única vida minha:
tenhas compaixão de Yarema.

Onde estás tu?
Talvez, ela esteja definhando, ou
talvez, está maldizendo a sorte
--- está definhando, está maldizendo;
ou, agrilhoada pelo senhorio,
está morrendo.

Talvez, tenha lembranças de Yarema,
ainda se recorde de Olshana.
E, clame ainda:
"Coração meu, abraçe a tua Oksana!
Fiquemos abraçados para sempre!
Que os lyakhy nos maltratem,
assim não sentiremos!.."

Sopram os ventos
--- vindos do mar, passando pelo Lyman,
vergando os álamos e os choupos, ---
Toda menina se volve sempre
para o lado em que estiver se debruçando
o infortúnio da desgraça e de má sorte.
Se aflige, se entristece; depois,
esquece tudo... Depois, pode tornar-se
uma senhora de respeito;
o senhorio lyakh... Coitado! Não tem jeito!

Que me lancem ao inferno,
dêm-me um banho de sofrimento,
os trovões que me ensurdeçam;
mas, não permitam que eu veja
a minha Oksana ser de outro ---
uma senhora de um lyakhy maldito.

Recebo os castigos,
mas não desta sorte.
Oksana! Oksana!
Onde tu te encontras?"

E, as lágrimas cairam;
mas, de onde elas vieram?
Zaliznyak ordena:
"Todos, para o bosque!
Está amanhecendo...
Os cavalos, já cansados,
devem ser alimentados", ---
e silentes, os haidamaky
na floresta se esconderam.

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Chorny Shlyakh --- Antiga via mercantil, usada pelos tártaros da Criméia para
atacar as terras ucranianas e a Polônia, nos séc. XVI - XVII.
Começava no poto de ligação da Criméia com o continente e
seguia para o norte, para as bacias de Ingul, Ingultz e Tyasmin,
depois voltava-se para o ocidente --- subdividindo-se em três
outros caminhos.
yasaulos --- (deriva do turco) Chemefe dos kozaky, equivalente a rotmistrz na
cavalaria polonesa, ou a capitão na infantaria russa.
Pelado --- No original, "holyj" que significa "nú", ou "pelado"
Desgraça --- No original, "bida" que significa "desgraça"
Halaida --- Significa "abandonado", "sem familiares"
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05/08/2009

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