segunda-feira, 25 de maio de 2009

Haidamaky --- Lebedyn

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Eu sou a órfã de Olshana
--- sou órfã, avó.
Meu pai foi castigado pelos lyakhy e,
eu... eu tenho medo.
Tenho medo de recordar o passado,
vovozinha de cabelos brancos...
Levaram-me com eles.
Não me pergunte mais nada
sobre o que aconteceu comigo.
Eu rezei muito, chorei ---
o meu coração espedaçou-se;
as lágrimas secaram e
a minha alma mortificou-se...
Se eu soubesse
que o veria mais uma vez
--- que o vereria de novo,
suportaria as dores em dobro
e por mais de uma vez.
Uma palavra dele apenas bastaria!
Perdoa-me, minha velhinha;
talvez, eu tenha pecado ---
será que Deus, por isto,
terá me castigado?
Eu amei apenas
aquele jovem elegante
de olhos castanhos.
Eu amei apenas
do jeito que o meu coração sabia.
Quando estava em cativeiro,
não rezei por mim,
nem por meus pais --- eu rezei
por ele e pela sorte dele.
Deus que me castigue!
A verdade dEle eu aceito.
É triste dizê-lo: eu pensava
perder a minh'alma.
Se por ele não fosse,
talvez teria perdido... talvez
a minh'alma não teria sobrevivido.
Triste era! Eu pensava:
"Deus querido!
Ele é órfão, --- sem que seja eu,
quem o terá acolhido?
Quem lhe terá perguntado
qual a sorte e qual a desgraça,
ao seu redor, teria pousado?
Quem o terá abraçado,
abrindo-lhe a alma sua?
Quem, ao pobre órfão,
dará uma palavra amiga, de conforto
--- sem deixá-lo no olho da rua?"

Quando assim pensava eu,
o meu coração sorria:
"Também sou órfã: sem mãe e
sem pai. Estou só no mundo...
Também, ele sozinho vagueia.
Se souber que eu não existo,
dará fim à sua vida". Este era
o meu pensamento. --- Rezei,
rezei muito; esperei na janela.
O meu amado não apareceu
--- talvez, jamais volte:
ficarei sozinha para sempre..."

Pela face, a lágrima rolou.
A freira, a seu lado,
ficou entristecida --- nada falou.
"Minha anciã senhora!
Por favor, diga-me onde estou?"
"Meu pássaro singelo, estás em Lebedyn.
Não te levantes --- estás adoentada".
"Em Lebedyn! Há quanto tempo?"
"Pois não tão muito. Desde ante-ontem".
"Desde ante-ontem?.. Espere um pouco!..
Incêndio às margens do rio...
Taberneiro, castelo, Maidanivka...
Chamavam-no de Halaida..."
"Halaida Yarema, ele
disse que era o nome dele
--- aquele que te trouxe..."
"Onde está ele, onde?
Agora eu sei!.."
"Disse que, em uma semana,
voltaria para buscar-te".
"Uma semana! Uma semana!
Deus meu, que valha-me a sorte!
Minha anciã senhora,
a hora triste da desventura está passando!
Aquele Halaida --- meu Yarema!..
Ele é conhecido por toda a Ucrânia. Eu vi
quando os vilarejos queimavam; eu vi ---
os lyakhy tremendo de pavor, simplesmente
por ouvirem o nome dele sendo pronunciado.
Sabem todos quem é ele e de onde ele veio!
Halaida sabe a quem procura!
Ele procurou-me e me achou.
Vem buscar-me, ó águia minha!
Como é belo viver neste mundo...
Uma semana apenas;
minha anciã senhora --- restam três dias tão só.
Como o tempo demora a passar!..

“Загрібай, мамо, жар, жар,
Буде тобі дочки жаль, жаль…”

Como é belo viver neste mundo...
O que me diz, minha anciã senhora.
--- Sentes alegria, também?"

"Estou contente mais contigo, minha pequena".
"Por que, então, não cantas tu?"
"Já cantei demais na minha vida..."

Os sinos badalaram
--- era o sinal da hora de rezar.
Oksana ficou sozinha meditando e
a freira, após a sua reza vespertina,
se recolheu para repousar.

No final da semana,
na igreja de Lebedyn,
os fieis cantavam "Que se Rejubile Isaias!".
Logo pela manhã,
o Yarema e a Oksana se casavam.
Depois, à tarde --- para não contrariar o otomano,
(Que menino, cumpridor de seus deveres!)
Yarema deixava a sua Oksana:
Era preciso exterminar os inimigos
nas fogueiras de Umanshchyna.
Oksana, paciente espera ---
não virão buscá-la, os pais de Yarema,
para levá-la desta cela do mosteiro,
para a rica casa do seu amado?

Não fique tristonha, tenha a esperança
a reze a Deus. Que Ele não te abandona!

Eu, darei um pulo para outro lado
--- quero ver o que se passa
pelas bandas lá de Uman.
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"Que se Rejubile Isaias!" --- Canto eclesial, por ocasião da celebração
de casamentos (Isaiya, lykui!)
Uman --- Grande centro comercial, durante os anos 60, do séc. XVIII
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05/25/2009

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