51.
Perdoe-me, minha querida.
Não seja comigo ingrata --
o deslise não foi premeditado...
Afinal, eu adoro uma mulata!
52.
Da janela do meu quarto
no quarto dela, juro, eu vi:
alguém como se embolando...
Credo! Cruz! Eu não menti.
53.
No olhar dos olhos dela
quero meus olhos cegar.
Talvez deste modo possa
do seus flertes me livrar!
54.
Da janela do meu quarto
no olhar dos olhos dela
percebi algo estranho --
eram lágrimas. Chorava ela?
55.
Dizem que o amor é traiçoeiro
-- abre a porta sem se anunciar.
O meu, limites excedeu. É feiticeiro!
Encantou-se por completo. Fez penar.
56.
Entre as flores campestres
a que mais me tocou o coração
não foi a orquídea, nem cravo;
foram os teus lábios. Satisfação!
57.
Da varanda dos meus anos
eu só guardo uma saudade
-- a de ter vindo ao mundo,
nú, despido. Sem maldade!
58.
Se o chorar fosse um alívio,
mais leve que pluma meu peito seria.
Ora, bola! Tanto, tanto choro...
Já me sinto abatido sob o peso d"agonia.
59.
Do luar da minha terra,
nos teus olhos, vejo o clarão.
Dos teus olhos, no meu peito,
sinto a dor. Esquarteja-me o coração!
60.
Se alguém pudesse, um dia,
a delicia dos teus seios saborera,
com certeza, não viveria o suficiente.
Morreria antes mesmo de o tentar!
61.
No orgasmo do nosso amor excitante
tuas coxas são a peça principal...
Sem elas o doce prazer do sexo
não passaria de um mero ato teatral...
62.
Lambuzar-me na gosma do teu sexo
é o mesmo que banhar-se nas águas do amor.
Sinto-me mais leve... Reconfortado.
Preparado a gozar as delícias da dor...
63.
De açucena guardo a beleza e o aroma;
do jasmim (gardênia) a cândida brancura.
Do teu corpo, na memória, guardo tudo.
Tu és lírio. És gardênia. És formosura!..
64.
Se na vida há certos momentos,
que nos fazem tristes. Impingems a dor;
há outras horas, menos tristes,
que nos fazem ver estrelas do amor!
65.
Nos cantos meus, os teus encantos
não há quem possa não sentir...
Caso assim pudesse, seria o mesmo
que um jardim pudesse não florir.
66.
A sua graça é a minha desgraça.
Quedo por ti, o meu peito cambaleia...
Porque de mim tu foges sempre!
-- O meu coração magoado se anuvia.
67.
Na emboscada dos seus meigos afagos
caí de corpo e alma... Por inteiro!
Desvencilhar-me agora não consigo
-- ele meteu-me, até os ossos, no atoleiro.
68.
Das lindas frases dela, recordo aquela
que ela dissera ser eu o primeiro...
Mas que metira! Tão impudica!
Já mais de cem usaram o seu canteiro.
69.
De trovador tenho a sorte.
-- Cantando vivo o meu penar.
Mas tão somente ao quatro ventos
atinge o eco do meu cantar.
70.
Não digas nada ao ver-me triste.
Faças de conta não teres me visto.
Menor é a dor, mais fraco é o corte
do espadachim, ao ver-se só à frente à morte.
Nota:
Estas quadras brotaram no balanço do ônibus
e no compasso dos trilhos do trem, quando eu
ia ao trabalho nos idos dos anos de 1980.
02/20/2010
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