Eugênio e Margarida
(Em homenagem a Bernardo Guimarães
--- escrevi o poema nos anos de 1990)
"O cravo é você,
eu sou a margarida".
Dise-lhe ela sorrindo
afagando-lhe os seus
-- os dele, braços...
"Fique com a rosa, que
eu gostaria de guardar
o meu cravo". -- Bravo!..
Tomando a flor
os seus olhos ardentes
de ternura e de paixão
brilharam. Brilharam!..
Como se fora uma pudica
e uma tímida virgem.
-- Ambos, por instantes calaram.
"Eu amo você".
-- E você?..
Lera a Margarida,
no olhar do mancebo,
a pergunta que ele não fez!
E como uma flor que
do seu cálice entrega o perfume
ao sopro das variações das virações
ela expandia os seus afetos inocentes...
Em sua ingênua candura que
amorfanhava do coração as ilusões.
Era outubro. Parecia tudo rubro.
Manhã risonha e brilhante.
As chuvas já tinham lavado os horizontes
envolvendo a terra num místico véu
de saudades e de malancolia.
O ar -- tão transparente,
o céu azul -- tão límpido e puro...
Permitima ver-se ondulações das
últimas colinas ali distantes,
dos mais remotos longes...
O tapete orvalhado dos espigões
reluzia do sol os raios cintilantes.
A aragem da fresca manhã
sacudia da coma dos arvores
da noite as lágrimas choradas.
O peito do mancebo largamente respirava
através dos campos e das colinas da terra natal.
Aromas silvestres bafejavam-lhe a fronte
brincando com seus cabelos.
Não era bem detê-los! São só cabelos!..
Ela sorria.
Ela cantava.
Ela brincava como se fora uma borboleta
por entre os canteiros florescidos do jardim.
Assim!!! Enfim!..
Pelas sombras do pomar
apanhava flores e frutos.
Com suas alegres tarvessuras
provocava o mancebo acanhado
forçando-o a sair daquele seu estado
constangido e acanhado.
Era outubro.
Manhã era risonha e brilhante.
As chuvas já tinham lavado os horizontes.
Era Eugênio e Margarida -- a rosa e o cravo.
Anos de 1990
São Caetano do Sul
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