quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ele é um pedinte da cidade grande

Meditabundo e cabisbaixo
ele vagueia sem sentido,
pelas ruas desertas e sombrias
das grandes cidades frias.

Metrópole, megalópole
-- amontoado de pedras
de uma ex-acrópole.

Pedras, pedrinhas e pedregulhos...
Escombros, entulhos -- só bagulhos.

É a cidade dos homens
que um dia o foram e, hoje,
não mais são homens --
são hecatombes de animais
-- para alguns, são lobisomens.

São animais ou quase,
porque já se tornaram irracionais.
Na corrida pela asnice, venceram
aos seus primatas -- os ditos ancestrais.

São animais, porque
se degladiam como tais...
Se matam e se devoram,
sem ter ao menos razões reais.

São animais, porque se odeiam.
A si próprios transformam em arsenais.
Se matam e se destroem,
nada constroem. Irracionais!..

Odeiam a si mesmos e,
na pessoa de um semelhante,
se esbofeteiam a todo instante
-- vagando sem destino,
nas pernoitadas do desatino.

Meditabundo e cabisbaixo
ele vagueia sem sentido...
A tiracolo uma sacola velha
-- já rota e sem fivela para fechá-la...

Cheirando a suja bunda de tão imunda.
Quem poderá cumprimentá-lo e abraçá-lo?
Esta sacola é de esmola -- há tudo nela,
restos infectos de sobras sujas...

E boas obras ali não caberiam,
porque de gentes boas não lembrariam
-- coisas pedidas não têm valor,
embora restos de um provedor...

Meditabundo ele vagueia e
cabisbaixo, tudo meneia...

Não tem destino,
nem sonha em tê-lo;
o seu desvelo é mendigar
-- de outro modo, não mais veria
o sol nascer e nem a noite e nem o dia.

É um pedinte da cidade grande.
-- Em seu peito chora a saudade
da ex-acrópole, que já vivera,
num longínquo distante!..

E, a perdera!

10/02/2008

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