Saudades eu sinto
dos tempos idos --
quando a aurora,
ao sol da manhã,
dos céus não nublados,
os horizontes cobria.
A tênue névoa,
à tardinha sombria
-- qual manto gigante,
em brisa ardente,
os seus braços abertos,
por sobre a terra exausta
e já sonolenta,
em sono profundo
e tranquilo envolvia!..
Saudades eu tenho
dos idos de outrora.
Quando o cão do vizinho
-- feroz e bravio,
por traz de uma cerca
ladrava raivoso e,
o gato irado ralhava --
de sono rosnava,
qual onça, no mato distante,
pulava e fugia...
Saudades eu tenho
do mundo de antanho.
Que era menor em tamanho.
Que era maior em distância
e, de sonhos felizes
-- risonhos e nutrizes,
muitas vezes bisonhos,
povoava a mente da gente
e a minha infância
que era feliz e candente!..
Saudades eu tenho
dos bancos da igreja.
Não eram macios
porém, cheios de graça.
Os anjos cantavam
nos sinos vibrantes
e, dos bronzes plangentes,
se ouviam encantos tangentes!
De veu e grinalda
a noiva sorrindo chorava
-- a sua mãezinha velhinha
com mãos, em forma de prece,
bênçãos pedia -- e silente orava.
Saudades eu tenho
dos idos passados.
Da história da bruxa
que a avó me contava.
O vovô de sorriso sisudo
dizia com voz de prudente
-- meu neto,
um dia serás como eu!..
O mundo que agora
de mim se afugenta,
será por ti relembrado
como um sonho passado.
Serás tu, então --
Ó, meu neto!..
Um protagonista
de algo novo. Talvez,
de um mundo melhor
do que este de agora
-- o qual eu terei deixado.
Tenho saudades dos idos...
Quando a aurora, ao sol das manhãs,
dos céus os horizontes distantes cobria.
10/03/2008
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