Taras H. Shevchenko
1839 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- desgraça sois vós para mim!
Por que vos transformastes,
sobre folhas amorfanhadas,
em fileiras tristes, assim?..
Por que o vento não espalhou-vos,
como poeira, pelas campinas?
Por que a sorte não adormeceu-vos
como se infantes fosseis
em noites de encantos?..
A sorte ingrata trouxe-vos ao mundo
para que o mundo risse, como
se estivesse rindo de um vagabundo.
Lágrimas caidas, não vos resgataram
--- pouco a pouco, quase afogaram!..
As ondas azuis dos mares, por que
não vos destroçaram --- espalhando,
como cinzas, pelas estepes?
Depois, dizer poderiam --- aos homens,
para que nada indagassem
dos meus sofridos dias...
Por que maldigo eu a minha sina,
saber ninguém precisa. Ela é minha!
Por que sou vagabundo?
"Porque eu nada faço"
--- De mim não riam! Não sou do mundo.
Flores minhas, meus infantes!
Por que cuidei, por que amei vossas idéias?
Haverá no mundo quem chore tanto,
quanto eu chorei convosco?..
Lembro, agora...
Há sim... --- Talvez seria um coração
de uma morena, de olhos castanhos,
que choraria, mais do que tudo,
debruçada sobre estes
meus pensamentos estranhos.
Satisfeito fico.
Que elogios tamanhos!
Uma lágrima dos olhos dela ---
sinto-me senhor de tudo!
Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- desgraça sois vós para mim!
Pelas sobrancelhas negras,
pelos seus olhos castanhos
o coração meu palpita
--- parecendo escapar possa
e, os pensamentos meus,
só dela conversam,
só dela sorriem ---
em verso, em prosa.
Pelas noites negras,
dos jardins de cerejeiras verdes
e dos olhos meigos dela,
pensamentos meus vagueiam...
Pelas estepes, pelos kurhany,
que se estendem pela Ucrânia,
navegar meus pensamentos ---
cantar versos, como eu poderia
em terras distantes e estranhas.
Reunir kozky, com suas bulava
e bunchuhy, para um Conselho
--- o meu coração não desejaria,
sobre alguns montões de neve...
Que as almas dos kozaky
respeitadas sejam ---
na Ucrânia livre,
de ponta a ponta...
Como aquela liberdade,
que um dia houve e,
que já passou:
Dnieper largo --- o mar nosso,
estepes e campinas, e
o gemido dos escarpados,
os sepulcros --- montes, kurhany. ---
Assim nasceu e se escudou
a livre vontade dos kozaky.
Da nobreza gente --- dos tártaros,
cobriam-se os campos ---
os cadáveres dormiam
um gélido sono . E, ambos,
a Ucrânia e a sua liberdade,
ao sono se deram...
Ergueu-se uma sepultura, em forma de colina
--- nasceram outeiros, nasceram kurhany.
Sobre eles, suas asas, uma águia negra estende
--- uma guarda sempiterna, até parece, que os defende.
Os kobzari tudo contam,
para que o povo saiba ---
como éramos antanho...
Como somos hoje.
Eles sabem porque cantam...
Mas eu, cá comigo
--- choro apenas, sem nenhum abrigo.
Choro apenas, palavras não tenho...
Fugir do infortúnio, é o que feito eu tenho!
Mas quem não o faria
se de alma este mundo apreciasse.
--- Veria um inferno em tudo.
Haveria quem o aplacasse?..
E lá, do outro mundo,
haveria quem lhe acenasse?
Não terei sorte alguma
--- nunca a tive, por causa nenhuma.
Que os pobres vivam
não mais que três dias;
guardarei seus corpos numa sepultura.
A serpente brava manterei comigo,
para que não tenham do veneno a fonte.
P'ra que ninguém saiba como ri a morte!..
O meu pensamento, que voe ligeiro.
Como águia crocite; enquanto
o coração chora, fechado em masmorra.
Não enchuguem os meus olhos,
minhas lágrimas não secam ---
elas regam as campinas
de povos estranhos.
Haverá o dia, quando a terra de outrem
servirá de uma cortina leve, e apenas...
Até lá, fazer-se o que há de?..
Não se vive de tristeza.
Quem de um órfão tem inveja,
que Deus o castigue!
Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- flores minhas, meus infantes!
Cultivei-vos, tornei-vos robustos,
--- o que farei de vós agora?
Mandaria-vos para a Ucrânia
para que vagasseis órfãos ---
órfãos sós de tudo,
e dormisseis sob a cercas
dos bordeis imundos?..
Vades sós... Sim!
Mas eu não --- não posso!
Ficarei aqui. Aqui me termino.
Encontrareis um abrigo
num coração prestimoso
--- de fala amável e mui carinhoso;
lá tereis toda a verdade e,
talvez, algum punhado de glória...
Minha Pátria!
Ó, minha mãe Ucrânia!
Acolha os infantes.
São travessos, irrazoáveis e, muito pedantes.
Mas eles são teus, porque são meus filhos...
São meus pensamentos errantes.
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bulava --- Bastão, um símbolo de autoridade maior
bunchuhy --- Um bordão tendo, uma das extremidades (inferior), ou ponteaguda, ou arredondada; na outra extremidade (superior), uma mecha de crina de cavalo. Era o símbolo de autoridade dos
"hetmany" e dos "otomany"
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03/31/2009
Aqui publicarei os meus escritos ---- versos, poemas e poemetos.
Fico grato, desde já, se você se dignar a lê-los. Ao menos, levemente.
Ao seu dispor, agora e eternamente.
Mykola Szoma
terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
"Não Esqueças de Mim" e "Para Osnovyanenko"
Não esqueças de mim
Taras H. Shevchenko
maio - junho 1840
St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Viajarás para longe,
verás muitas coisas;
ficarás admirado, tristeza sentirás, ---
não te esqueças de mim, meu irmão!
Para N. Markevych
Tras H. Shevchenko
9.05.1840 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
Shchoma Mykola Opanasovych
Banduresta, pombo plúmbeo!
Parabens, irmão meu:
tens tu asas, e tens forças,
sob os céus da pátria, para voar!
Estás voando para a Ucrânia ---
ali te esperam. Lá tu vais cantar.
Eu, contigo voaria
--- porém, lá não me conhecem!
Não há quem me recepcione.
Aqui, também sou estranho.
Serei órfão sempre
--- qualquer pátria, que eu escolha,
não terá me ganho.
Então, por que sofre o coração aflito?
Sem família --- solitário,
suspiros aspira pelo rincão ucraniano
--- das estepes e dos vales padece saudades!
Lá os ventos são mais fortes,
como irmãos conversam ---
varrendo campinas;
a topolya lá tem vida e tem liberdade:
suas folhas se espalham
pelo azul dos mares;
lá os mares desmontam a costa
que limita as suas ondas e,
lá Deus a sua glória aposta!
Cômoros das tumbas confabulam ---
lá nas estepes, com todos os ventos.
Tristes lembranças contam ---
eu escuto os seus lamentos:
"Na Ucrânia, antigamente, acontecia algo
--- não terá mais volta.
Deixou, de outeiros, o salto!"
Gostaria eu ter asas
--- voaria para a pátria.
Choraria com os ventos,
lembrando o passado...
Porém, não quis o destino
--- deu me a sorte de ser peregrino.
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N. Markevych (Mykola Andriyovych Markevych, 1804 - 1860) Poeta ucraniano, músico, etnógrafo, historiador. Shevchenko encontrou-se com Markevych, pela primeira vez em 1840, em St. Petersburg.
Bandurysta "Banduryst" --- nome de um poema encontrado na única coleção de poesias de Markevich (Melodias ucranianas)
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Para Osnovyanenko
Taras H. Shevchenko
1839 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Quebram ondas as encostas;
cresce a lua sobre as colinas,
como antes sempre crescia...
Não existe mais a Sich, nem
existe aquele que a conduzia!
A Sich não mais existe
--- restos de juncos ficaram, que
às águas do Dnipro,
suspirando, indagaram:
"Nossos filhos estão onde,
para que lugares foram?"
Grasnam gaivotas, alegres voando;
mas a sua voz parece um choro ---
pelas crianças perdidas;
Sopram ventos, o sol encandece:
dos cossacos, a estepe fenece!..
Por todos os campos, das estepes vastas,
espalhados se avistam tristes túmulos kurhany;
Perguntam ao vento e às tempestades:
"Para onde reinar foram os nossos passados?
De que pátria se orgulham hoje,
como banqueteiam --- onde se perderam?
Voltem pronto! Vejam em volta ---
de trigo as searas já amadureceram.
Foi ali que seus cavalos pastos acolheram,
foi lá que, sob os pés, o capim arramalhava e,
foi lá, que do tátaro e do polaco, o sangue deitava.
Voltem já! É tempo!"
"Não, não voltarão! ---
As ondas do mar disseram. ---
Não voltarão nunca; para sempre se perderam!".
É verdade. O mar azul sabe!
Esta foi a sorte deles:
Não voltarão os muito esperados;
nem voltará a liberdade;
nem voltarão os zaporozhtsi
--- não vestirão os hetmany
os seus vermelhos zhupany!
Maltrapilha, ficou órfã.
--- Sobre as margen do Dnipro lamenta.
Triste a vida sua... Ninguém acalenta...
O inimigo ri de tudo...
Ria, ria enquanto podes!
Mas, não ria muito. Tudo finda
--- honra nossa ainda vive!
Não morremos... Voltaremos.
Contaremos o que vimos e o que fizemos,
qual foi a verdade e quem mente à toa ---
De quem somos filhos. De quem, a coroa.
Nossa duma, nosso canto
são eternos, não perece o seu objeto...
Junto ao povo a nossa glória:
A glória da Ucrânia!
Sem enfeite de ouro e de prata,
sem pedras preciosas.
Sem a lingua jactanciosa,
mas vivaz na fala:
verdadeira e clara.
Assim é --- confirma a história e,
também, os otomanos.
Sempre falo a verdade;
mesmo que não tenha eu talento!
A verdade sempre vence, qual for o advento.
Mais ainda
--- nos rodeia a Moskovshchyna,
tudo nos é estranho.
"Não compactue", --- poderás dizer-me:
Disto o que resultaria?
Farão pouco caso, do teu choro raso,
que em teus prantos lhes darias.
Zombarão da sorte tua...
Viver junto a eles, não concorde!
Derrotá-los quereria, se um poder tivesse.
Se a força dos meus anos assim o pudesse.
Cantaria, então, em versos, o poder da glória
--- pagaria os meus gastos ao som da vitória!
Perambulo pelas neves, abrindo caminhos:
"Mas não façam muito barulho --- ó, varzeas e prados!"
Além disso, mais não posso.
E tu, bem o sabes:
quando detens força, o povo respeita.
Tens palavra firme --- o seu canto é notório;
conte lhes as glórias --- da Sich, dos kurhany,
cada qual quando ergueu-se
e quem dorme calmo em seus "aposentos".
Conte a história dos tempos remotos,
os milagres que houveram e sumiram
nos idos de outrora. Conte ao mundo.
Que todos escutem! Porque a Ucrânia
morreu tantas vezes... Porque a glória
dos cossacos sempre a levantara!..
Otomano, águia plúmbea nossa!
Deixe que eu chore ---
que relembre a pátria minha,
se possível, que a ela retorne
p'ra ouvir do mar as ondas
segredar aos ventos
como a morena de olhos castanhos
sob a sombra dos salgueiros
cantarola "Hrutsya".
Que se alegre, em terra estranha,
o meu coração pacato;
antes que se estenda, para sempre,
numa tumba, num anonimato.
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Osnovyanenko (Kvitka Hryhoriy Fedorovych, 1778 - 1843) --- Um clássico da prosa ucraniana. Osnovyanenko era o seu pseudônimo. Escrevia ucraniano e em russo. Foi um dos primeiros a congratular-se com a publicação de "Kobzar" de Taras H. Shevchenko.
"Quebram ondas as encostas" --- O poeta
teve em vista as encostas da ilha "Fortytsia" do rio Dnipro.
Sich (Zaporizhs'ka Sich) ---
Sich (fortaleza) dos kozaky de Zaporizhzhya, que tinha suas instalações principais na ilha de "Fortytsia" (séc. XVI - XVIII).
kurhany --- pequnos outiros, com vegetação rasteira, sobre os túmulos
duma --- idéia (pensamento). Pode significar "Conselho Nacional" de Estado.
Moskovshchyna --- tudo o que se refere a Moskoviya (suas terras, seu povo, sua lingua). Moskoviya era o nome original da Rússia.
Hrytsya --- Canção popular deste nome.
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03/30/2009
domingo, 29 de março de 2009
Dumka 2
Taras H. Shchevchenko
1838 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
Shchoma Mykola Opanasovych)
Vento bravo, vento indomável!
Tu sempre parolas com os mares.
Acorda as ondas suas, levanta as vagas!
A seguir, com eles, realize uma peleja.
Indague as águas revoltas.
--- Elas sabem do meu amado.
O mar sabe tudo...
Foram elas que o levaram
para as longes plagas de terras distantes.
--- Onde o deixaram?
Em que parte das areias o abandonaram?
Se afogaram nas águas profundas,
então quebre as suas ondas;
que eu irei buscar os seus restos
no afogar dos meus infortúnios...
Tornarei-me uma sereia,
mergulhando nas águas escuras
do fundo dos mares.
Se ali encontrá-lo
--- juntarei, ao peito meu, seu peito;
depois, desfaleço.
Então, as ondas me carreguem
para onde elas queiram.
O destino, que os ventos decidam!
Se o amado, do outro lado, estiver pousado,
sabes tu --- ó, vento bravio!
Que caminhos ele trilha,
o que faz --- e, quais os seus passos...
Sabes tu, por certo: com ele conversas.
Se ele chora, também choro
--- o coração me avisa;
se ele canta, também canto.
Mas, se ele já está morto,
morrerei com ele.
Que a minh'alma se traslade
bem juntinho à dele.
Que a rosa-de-gueldres
o seu sono tanquilo meneie.
Mais tranquilo, em campo estranho,
repousará o órfão --- Seu amor,
ao lado dele, como flor vermelha,
cuidará pra sempre
--- dos raios do sol,
a sua delicada pele.
Para que não se profane
a terra-lájea da sua tumba...
Ao cair das noites,
quedarei triste meus ramos;
chorarei, pelas manhãs,
gotas de orvalho ---
para que o sol as seque
e, depois, ninguém as veja.
Vento bravo, vento indomável!
Tu sempre parolas com os mares.
Acorda as ondas suas, levanta as vagas!
A seguir, com eles, realize uma peleja.
Confabule com as revoltosas águas.
03/29/2009
1838 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
Shchoma Mykola Opanasovych)
Vento bravo, vento indomável!
Tu sempre parolas com os mares.
Acorda as ondas suas, levanta as vagas!
A seguir, com eles, realize uma peleja.
Indague as águas revoltas.
--- Elas sabem do meu amado.
O mar sabe tudo...
Foram elas que o levaram
para as longes plagas de terras distantes.
--- Onde o deixaram?
Em que parte das areias o abandonaram?
Se afogaram nas águas profundas,
então quebre as suas ondas;
que eu irei buscar os seus restos
no afogar dos meus infortúnios...
Tornarei-me uma sereia,
mergulhando nas águas escuras
do fundo dos mares.
Se ali encontrá-lo
--- juntarei, ao peito meu, seu peito;
depois, desfaleço.
Então, as ondas me carreguem
para onde elas queiram.
O destino, que os ventos decidam!
Se o amado, do outro lado, estiver pousado,
sabes tu --- ó, vento bravio!
Que caminhos ele trilha,
o que faz --- e, quais os seus passos...
Sabes tu, por certo: com ele conversas.
Se ele chora, também choro
--- o coração me avisa;
se ele canta, também canto.
Mas, se ele já está morto,
morrerei com ele.
Que a minh'alma se traslade
bem juntinho à dele.
Que a rosa-de-gueldres
o seu sono tanquilo meneie.
Mais tranquilo, em campo estranho,
repousará o órfão --- Seu amor,
ao lado dele, como flor vermelha,
cuidará pra sempre
--- dos raios do sol,
a sua delicada pele.
Para que não se profane
a terra-lájea da sua tumba...
Ao cair das noites,
quedarei triste meus ramos;
chorarei, pelas manhãs,
gotas de orvalho ---
para que o sol as seque
e, depois, ninguém as veja.
Vento bravo, vento indomável!
Tu sempre parolas com os mares.
Acorda as ondas suas, levanta as vagas!
A seguir, com eles, realize uma peleja.
Confabule com as revoltosas águas.
03/29/2009
sábado, 28 de março de 2009
Ivan Pidkova
Ivan Pidkova
Dedicatória para V. I. Shternberg
1839 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
I
Acontecia antigamente --- na Ucrânia
artilharias de canhões troavam;
Antigamente --- os zaporozhtsi
sabiamente firme comandavam.
Comadavam conquistando
as liberdades e as glórias;
Passou tudo. Acabou-se ---
restaram apenas as tumbas.
Sepulturas espalhadas
pelos nossos campos,
dão repouso merecido
aos nossos cossacos.
Envoltos, em seda macia,
descansem honrados --
os seus túmulos altivos
serão sempre respeitados.
Confabulem com os ventos
em tons de pilhéria...
Saibam eles que a glória --
a dos nossos pais-avós,
só deixou-nos plena vitória!
Netos seus nós somos:
aprendemos a segar orvalho.
Acontecia antigamente --- na Ucrânia
a plena desgraça bailava;
A tristeza entabernada com a vodka
sempre rebelde andava...
Acontecia antigamente --- a vida era boa
naquela Ucrânia, que deixou
apenas só lembranças!
Que não sejam pois, lembranças à toa.
II
Negras nuvens sobre a Lyman
--- o sol eclipsou-se,
o mar azulado como fera,
ora geme, ora uiva ---
afogando do Dnipro a foz.
"Vamos, vamos Rapaziada!
Aos baidaky! O mar se revolta
--- passear iremos.
Para onde, pouco importa!.."
Despejaram-se os kozaky,
as corvetas cobriram os rio.
"Encapele-se... Ó, mar revolto!"
--- canções ecoaram e,
as ondas, vagas levantaram.
Ondas grandes, como montes:
nada se avista --- nem dos céus,
e nem da terra, tem-se alguma pista.
Coração apavorado é o que deseja --
do cossaco a alma vive de surpresa.
O comboio continua navegando,
os kozaky alegres riem cantando
--- ao longe, gaivotas voando...
Otomano à frente
conduzindo, a esquadra,
para onde ele só sabe...
Passos largos --- caminhando,
ao longo da nave.
O cachimbo seu se apaga;
ele olha para os lados ---
pensando: onde mais há inimigos?
Torceu os bigodes negros,
ajeitou topete, por trás das orelhas,
levantou o chapeu seu --- navios pararam.
"Que o inimigo morra!
Não será em Sinop turca, otomanos
--- honrados senhores;
será em Tsarhrad. Ao sultão
faremos a nossa visita!"
"Concordamos, nosso pai otomano!" ---
Ecoou o grito.
"Grato fico a todos!" ---
Chapeu colocou sobre a cabeça.
O inferno inflamou-se e
o mar azul, cortando as naves,
novamente agitou-se.
Otomano-chefe, vendo as vagas,
ao silêncio entregou-se.
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Ivan Pidkova --- Cossaco de Zaporozhzhya, dos anos 70, do séc. XVI.
Por um breve período, Pidkova havia tomado o poder político da Moldova que, na época, encontrava-se sob as condições de vassalato da Turquia.
Foi preso pelos poloneses e executado por ordem do rei Stefano Batoriya
V.I. Shternberg (Vasilij Ivanovich Shternberg, 1818 - 1845) --- Amigo pessoal de Taras Shevchenko.
Habitavam um mesmo quarto de pensão, por ocasiaão dos estudos artísticos, em St. Petersburg
Sinop --- Fortaleza turca, na costa sul do Mar Negro. Importante porto de mar.
Tsarhrad --- Nome antigo de Constantinópolis, a primeira capital do Império Romano Oriental (até 395 d.C.), dpois, passou a ser capital do Império Bizantino (até 1453 d.C.). Com a tomada da cidade pelos otomanos, passou a se chamar de Istambul (1453 - 1918). Hoje, é a maior cidade da Turquia.
Lyman Vermelha [No poema, apenas "Lyman" = Krasny Lyman (Lyman Vermelha)] -- Cidade fundada em 1667 pelos cossacos do regimento de Izyum. Até 1925 era chamada de Lyman; depois, foi renomeada para Krasny Lyman.
Otomano (Hetman) --- O comandante dos kozaky
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03/28/2009
Dedicatória para V. I. Shternberg
1839 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
I
Acontecia antigamente --- na Ucrânia
artilharias de canhões troavam;
Antigamente --- os zaporozhtsi
sabiamente firme comandavam.
Comadavam conquistando
as liberdades e as glórias;
Passou tudo. Acabou-se ---
restaram apenas as tumbas.
Sepulturas espalhadas
pelos nossos campos,
dão repouso merecido
aos nossos cossacos.
Envoltos, em seda macia,
descansem honrados --
os seus túmulos altivos
serão sempre respeitados.
Confabulem com os ventos
em tons de pilhéria...
Saibam eles que a glória --
a dos nossos pais-avós,
só deixou-nos plena vitória!
Netos seus nós somos:
aprendemos a segar orvalho.
Acontecia antigamente --- na Ucrânia
a plena desgraça bailava;
A tristeza entabernada com a vodka
sempre rebelde andava...
Acontecia antigamente --- a vida era boa
naquela Ucrânia, que deixou
apenas só lembranças!
Que não sejam pois, lembranças à toa.
II
Negras nuvens sobre a Lyman
--- o sol eclipsou-se,
o mar azulado como fera,
ora geme, ora uiva ---
afogando do Dnipro a foz.
"Vamos, vamos Rapaziada!
Aos baidaky! O mar se revolta
--- passear iremos.
Para onde, pouco importa!.."
Despejaram-se os kozaky,
as corvetas cobriram os rio.
"Encapele-se... Ó, mar revolto!"
--- canções ecoaram e,
as ondas, vagas levantaram.
Ondas grandes, como montes:
nada se avista --- nem dos céus,
e nem da terra, tem-se alguma pista.
Coração apavorado é o que deseja --
do cossaco a alma vive de surpresa.
O comboio continua navegando,
os kozaky alegres riem cantando
--- ao longe, gaivotas voando...
Otomano à frente
conduzindo, a esquadra,
para onde ele só sabe...
Passos largos --- caminhando,
ao longo da nave.
O cachimbo seu se apaga;
ele olha para os lados ---
pensando: onde mais há inimigos?
Torceu os bigodes negros,
ajeitou topete, por trás das orelhas,
levantou o chapeu seu --- navios pararam.
"Que o inimigo morra!
Não será em Sinop turca, otomanos
--- honrados senhores;
será em Tsarhrad. Ao sultão
faremos a nossa visita!"
"Concordamos, nosso pai otomano!" ---
Ecoou o grito.
"Grato fico a todos!" ---
Chapeu colocou sobre a cabeça.
O inferno inflamou-se e
o mar azul, cortando as naves,
novamente agitou-se.
Otomano-chefe, vendo as vagas,
ao silêncio entregou-se.
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Ivan Pidkova --- Cossaco de Zaporozhzhya, dos anos 70, do séc. XVI.
Por um breve período, Pidkova havia tomado o poder político da Moldova que, na época, encontrava-se sob as condições de vassalato da Turquia.
Foi preso pelos poloneses e executado por ordem do rei Stefano Batoriya
V.I. Shternberg (Vasilij Ivanovich Shternberg, 1818 - 1845) --- Amigo pessoal de Taras Shevchenko.
Habitavam um mesmo quarto de pensão, por ocasiaão dos estudos artísticos, em St. Petersburg
Sinop --- Fortaleza turca, na costa sul do Mar Negro. Importante porto de mar.
Tsarhrad --- Nome antigo de Constantinópolis, a primeira capital do Império Romano Oriental (até 395 d.C.), dpois, passou a ser capital do Império Bizantino (até 1453 d.C.). Com a tomada da cidade pelos otomanos, passou a se chamar de Istambul (1453 - 1918). Hoje, é a maior cidade da Turquia.
Lyman Vermelha [No poema, apenas "Lyman" = Krasny Lyman (Lyman Vermelha)] -- Cidade fundada em 1667 pelos cossacos do regimento de Izyum. Até 1925 era chamada de Lyman; depois, foi renomeada para Krasny Lyman.
Otomano (Hetman) --- O comandante dos kozaky
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03/28/2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
Topolya (Álamo ou choupo)
Taras H. Shevchenko
1839 - St. Petersburg
Topolya (Álamo ou choupo)
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Ventos sopram sobre os carvalhos,
se divertem, varrendo as campinas;
Junto à estrada, vergam o choupo
-- pela terra, seus galhos dormitam.
Porte esbelto, largas folhas --
por que assim verdejam?
Vasto campo, um mar aberto
azulado, como água, brilha...
O "chumak" olha o choupo,
inclinando a sua cabeça;
dá de encontro ao pastoreio ---
alguém sentado junto à tumba,
sua flauta tristemente toca.
O coração não suporta. Chora!
Ao redor, nenhuma folha verde.
Apenas a topolya --- uma órfã,
morrendo aos poucos sozinha!
Quem teria a plantado --
a tornado assim esbelta,
depois dela se livrado?..
Deixado à morte certa!..
Contarei. Eu conheço a história.
Olhos negros se perderam
por um cossaco pobre.
Mas não soube segurá-lo;
foi-se embora para longe.
Morreu em terras estranhas.
Se ela o soubesse, antes
que se apaixonasse; talvez,
nunca dele se aproximasse.
Também ela, se soubesse,
antes que a morte o levasse,
partir nunca o deixaria...
Se soubesse, junto ao poço
água não buscaria; nem,
até a meia-noite, a seu lado,
os seus dias passaria.
O salgueiro, se soubesse,
também isto lhe diria!
Se ela soubesse,
o que não faria!..
Mas também é infortúnio
--- em saber-se antes,
o que nos espera como caminhantes.
Não saibam, meninas!
Qual será a sua sorte
-- o coração sabe...
a quem amar deve e,
não se aflijam, por erros
-- são tantos!
Descarreguem tudo em prantos.
Não demora muito
que os seus olhos negros
pálidos se tornem e
nas faces enrugadas
vermelhões se formem!..
Não demora muito!
Já, ao meio-dia, fenecerá tudo ---
desbotarão os cílios castanhos...
Amem, enquanto há tempo.
Enquanto o coração pode e
como, só ele, amar sabe!..
Ao trinar dos sabiás ---
lá nos galhos dos viburnos,
cantará cossaco um canto,
caminhando calmamente.
Cantará, até que,
da choupana saia
a morena linda ---
de olhos castanho.
Então, fará esta pergunta:
"A tua mãe não melindrou-te?"
Depois, abraçados --
começam a se amar.
O sabiá continua a trinar.
Até que, enfim, chegou a hora
--- ouvido o gorjeio, de se separar.
Ninguém os viu e
ninguém vai lhes perguntar:
"Onde estivestes ---
o que fizestes, por aí a andar?"
Só eles sabem o segredo guardar.
Amaram-se e se apaixonaram ---
o coração elanguescido desfalecia;
talvez, porque a sorte já pressentia
--- mas, dizer como, não poderia!..
Ficou só... Dias e noites perambula,
como se uma rolinha sem o pombo
--- à merce da sorte, sozinha ficara.
Ninguém ouve os seus lamentos...
Nem mais rouxinóis a encantam,
nem mais sabiás à beira
das águas, dos rios, gorjeiam.
Também, não canta, suas melodias,
a morena de olhos castanhos,
sob os galhos do salgueiro
à beira dos lagos.
Nem mais mais canta, --- será órfã?
Só... e, só, vagueia pelo mundo!
Sem um pai. Sem a mãe amada.
Entre a gente estranha,
o sol não esquenta. --- Dela ri-se.
Sem o seu cossaco, o coração bate
como se na morte a sorte buscasse!
Passa ano. E, dois já se foram
--- nem sinal há do amado;
Como folha seca, fenece aos poucos.
Como flor já murcha, ela nem se nota.
"Porque murchas, minha bela?"
--- a mãe não pergunta;
quis juntá-la a um rico velho.
Que coisa absurda!
"Filha, case! --- a velha mãe dizia ---
Não terás a vida toda.
Ele é rico, solteiraço ---
serás dona de um grande pedaço".
"Não, não quero ser dama.
Não serei esposa dele!
O enxoval de noiva,
que tenho montado,
seja, então, de leve sono
ao meu corpo findo ---
quando for sepultado...
Que os padres rezem a missa,
que as amigas minhas chorem.
--- Descansar será mais leve
ao meu corpo solteiro e jovem".
Mãe idosa não escutava
o que filha sua lhe falava.
--- Fazia o que pensava sempre
e, sempre, o mesmo desejava;
A menina, de olhos negros,
só ouvia... Nem mais chorava...
Numa noite calma ---
dessas em que se ouve
os suspiros da própria alma,
a menina foi à cartomante.
Saber quanto tempo ainda,
sem um amor de verdade,
viver poderia. Já tinha idade!
"Babucenko, minha cara,
coração meu, mãezinha minha!
Diga-me toda a verdade.
Por onde anda o meu amado?
Está vivo, com saúde, se me ama;
ou, se já de mim, nem mais se lembra?
Diga-me... ele está onde?
Se no fim do mundo... --- Irei para lá!
Babuscenko, minha cara ---
Se tu sabes, não me esconda!
MInha mãe tenta unir-me
a um rico velho de estirpe.
Ela gosta dele tanto...
O coração não aceita.
Afogar-me poderia ---
Mas, perder a alma eu não gostaria.
Se o moreno --- o meu amado,
não está mais entre os vivos,
pássaro que eu me torne ---
que ao ninho materno não mais retorne...
Oh!.. Quão triste é a minha sina!
Lá em casa me aguardam
para o meu casório".
"Tudo bem, filhinha; repouse um pouco...
Farás a vontade minha.
Também já fui jovem ---
conheço as maldades.
Passou tudo --- aprendi à bessa;
ajudo aos outros vencer a desgraça.
A tua sorte, menina, de há muito já conheço;
para tanto, um preparado próprio te ofereço".
Dirigiu-se a velha à estante antiga
--- pegou um frasco de poção flamante:
"Tome este, minha cara!
Fará ele arder o coração do seu amante.
--- Deverás ir até um poço de água,
antes do cantar dos galos;
tomarás da água fresca
com estes preparos:
--- alguns goles do flambado
com água do poço...
Terás então minorado,
do coração teu sofrido,
as saudades que tens do amado.
Va correndo
--- pra trás não retornes!
Onde houve a despedida,
terás dele os informes.
Farás um repouso breve
e quando a lua for cheia ---
tomarás mais goles deste.
Tomarás três goles,
para teres uma prova:
se o amado está vivo
ou, se está na cova...
No primeiro gole, não sentirás nada.
No segundo --- um cavalo baio, fará
uma batida de pata no solo; depois,
terás o seu namorado no seu colo.
No terceiro gole... Se nada ouvires,
melhor não saberes do acontecido!
Ouça, ainda! --- Não te persignes...
Farias tudo a perder... --- Vai agora!
Tente, ao menos, de si te aperceber".
Tomou o frasco.
Inclinou-se respeitosa:
"Agradecida fico!". --- Partiu...
Saiu para fora: "Devo ir, ou não?..
Não! Agora, não voltarei!"
Chegou em casa...
Jogou água no rosto.
Tomou o primeiro gole. Sorriu...
Tomou o segundo e o terceiro. Para trás
--- nem sinal. Não se arrependeu. Voou!
Parecia que tinha asas
--- junto ao poço já estava. Sorriu...
Caiu ao chão, se levantou, echorou.
Depois, cantou como jamais cantara:
"Navegue pelas águas, o meu amado!
Corte as ondas do mar azul ---
Também cresça mais a topolya,
que às nuvens estenda seus ramos
--- que mais seja esbelta e flexível;
entre os céus e a terra,
que viva os seus anos.
Então, pergunte a Deus
--- terei, ao meu lado,
a ventura de sentir o calor do amado?
Cresça alto, minha topolya ---
para que, do outro lado do mar azul,
possas ver a minha sorte; --- porque
deste, só tenho a desventura...
Do outro lado, está o meu amado ---
se diverte, cantigas ouvindo. Deste,
triste é o meu choro. Nada existe!..
Conte a ele, quão pacata a sorte ---
o meu coração só pensa nele!..
De mim todos riem. --- Não suporto
nem um pouco. Quero a morte!
Se a mãezinha minha, quiser
sepultar-me; então quem, poderá
cuidar dos seus cabelos brancos?
A seus anos avançados tributar
--- muitos afagos de acalantos?
Oh! Meus Deus! Ouve o pranto!
Que a topolya cresça pronto!..
-- Toque as nuvens na madrugada
para que ninguém a veja, pelo sol
das tardes, ter a copa flambada...
Que o meu amado, de mim longe,
navegue pela águas tranquilas
de todos os azuis mares."
Assim cantava e chorava,
a morena de olhos castanhos...
Por incrível que pareça,
em topolya se transformou.
Com as mãos --- agora ramos,
os céus e as campinas abarcou.
Ventos sopram sobre os carvalhos,
se divertem, varrendo as campinas;
Junto à estrada, vergam o choupo
-- pela terra, seus galhos dormitam.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
topolya --- álamo ou choupo.
A palavra "topolya" é de gênero gramatical feminino
chumak --- era o vendedor ambulante de sal e de peixe, nos séc. XVI - XIX, trazidos da Criméia
babusenko --- nome carinhoso com o qual se dirigia a pessoa idosa e experiente da vida e a quem se pedia um aconselhamento
03/27/2009
1839 - St. Petersburg
Topolya (Álamo ou choupo)
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Ventos sopram sobre os carvalhos,
se divertem, varrendo as campinas;
Junto à estrada, vergam o choupo
-- pela terra, seus galhos dormitam.
Porte esbelto, largas folhas --
por que assim verdejam?
Vasto campo, um mar aberto
azulado, como água, brilha...
O "chumak" olha o choupo,
inclinando a sua cabeça;
dá de encontro ao pastoreio ---
alguém sentado junto à tumba,
sua flauta tristemente toca.
O coração não suporta. Chora!
Ao redor, nenhuma folha verde.
Apenas a topolya --- uma órfã,
morrendo aos poucos sozinha!
Quem teria a plantado --
a tornado assim esbelta,
depois dela se livrado?..
Deixado à morte certa!..
Contarei. Eu conheço a história.
Olhos negros se perderam
por um cossaco pobre.
Mas não soube segurá-lo;
foi-se embora para longe.
Morreu em terras estranhas.
Se ela o soubesse, antes
que se apaixonasse; talvez,
nunca dele se aproximasse.
Também ela, se soubesse,
antes que a morte o levasse,
partir nunca o deixaria...
Se soubesse, junto ao poço
água não buscaria; nem,
até a meia-noite, a seu lado,
os seus dias passaria.
O salgueiro, se soubesse,
também isto lhe diria!
Se ela soubesse,
o que não faria!..
Mas também é infortúnio
--- em saber-se antes,
o que nos espera como caminhantes.
Não saibam, meninas!
Qual será a sua sorte
-- o coração sabe...
a quem amar deve e,
não se aflijam, por erros
-- são tantos!
Descarreguem tudo em prantos.
Não demora muito
que os seus olhos negros
pálidos se tornem e
nas faces enrugadas
vermelhões se formem!..
Não demora muito!
Já, ao meio-dia, fenecerá tudo ---
desbotarão os cílios castanhos...
Amem, enquanto há tempo.
Enquanto o coração pode e
como, só ele, amar sabe!..
Ao trinar dos sabiás ---
lá nos galhos dos viburnos,
cantará cossaco um canto,
caminhando calmamente.
Cantará, até que,
da choupana saia
a morena linda ---
de olhos castanho.
Então, fará esta pergunta:
"A tua mãe não melindrou-te?"
Depois, abraçados --
começam a se amar.
O sabiá continua a trinar.
Até que, enfim, chegou a hora
--- ouvido o gorjeio, de se separar.
Ninguém os viu e
ninguém vai lhes perguntar:
"Onde estivestes ---
o que fizestes, por aí a andar?"
Só eles sabem o segredo guardar.
Amaram-se e se apaixonaram ---
o coração elanguescido desfalecia;
talvez, porque a sorte já pressentia
--- mas, dizer como, não poderia!..
Ficou só... Dias e noites perambula,
como se uma rolinha sem o pombo
--- à merce da sorte, sozinha ficara.
Ninguém ouve os seus lamentos...
Nem mais rouxinóis a encantam,
nem mais sabiás à beira
das águas, dos rios, gorjeiam.
Também, não canta, suas melodias,
a morena de olhos castanhos,
sob os galhos do salgueiro
à beira dos lagos.
Nem mais mais canta, --- será órfã?
Só... e, só, vagueia pelo mundo!
Sem um pai. Sem a mãe amada.
Entre a gente estranha,
o sol não esquenta. --- Dela ri-se.
Sem o seu cossaco, o coração bate
como se na morte a sorte buscasse!
Passa ano. E, dois já se foram
--- nem sinal há do amado;
Como folha seca, fenece aos poucos.
Como flor já murcha, ela nem se nota.
"Porque murchas, minha bela?"
--- a mãe não pergunta;
quis juntá-la a um rico velho.
Que coisa absurda!
"Filha, case! --- a velha mãe dizia ---
Não terás a vida toda.
Ele é rico, solteiraço ---
serás dona de um grande pedaço".
"Não, não quero ser dama.
Não serei esposa dele!
O enxoval de noiva,
que tenho montado,
seja, então, de leve sono
ao meu corpo findo ---
quando for sepultado...
Que os padres rezem a missa,
que as amigas minhas chorem.
--- Descansar será mais leve
ao meu corpo solteiro e jovem".
Mãe idosa não escutava
o que filha sua lhe falava.
--- Fazia o que pensava sempre
e, sempre, o mesmo desejava;
A menina, de olhos negros,
só ouvia... Nem mais chorava...
Numa noite calma ---
dessas em que se ouve
os suspiros da própria alma,
a menina foi à cartomante.
Saber quanto tempo ainda,
sem um amor de verdade,
viver poderia. Já tinha idade!
"Babucenko, minha cara,
coração meu, mãezinha minha!
Diga-me toda a verdade.
Por onde anda o meu amado?
Está vivo, com saúde, se me ama;
ou, se já de mim, nem mais se lembra?
Diga-me... ele está onde?
Se no fim do mundo... --- Irei para lá!
Babuscenko, minha cara ---
Se tu sabes, não me esconda!
MInha mãe tenta unir-me
a um rico velho de estirpe.
Ela gosta dele tanto...
O coração não aceita.
Afogar-me poderia ---
Mas, perder a alma eu não gostaria.
Se o moreno --- o meu amado,
não está mais entre os vivos,
pássaro que eu me torne ---
que ao ninho materno não mais retorne...
Oh!.. Quão triste é a minha sina!
Lá em casa me aguardam
para o meu casório".
"Tudo bem, filhinha; repouse um pouco...
Farás a vontade minha.
Também já fui jovem ---
conheço as maldades.
Passou tudo --- aprendi à bessa;
ajudo aos outros vencer a desgraça.
A tua sorte, menina, de há muito já conheço;
para tanto, um preparado próprio te ofereço".
Dirigiu-se a velha à estante antiga
--- pegou um frasco de poção flamante:
"Tome este, minha cara!
Fará ele arder o coração do seu amante.
--- Deverás ir até um poço de água,
antes do cantar dos galos;
tomarás da água fresca
com estes preparos:
--- alguns goles do flambado
com água do poço...
Terás então minorado,
do coração teu sofrido,
as saudades que tens do amado.
Va correndo
--- pra trás não retornes!
Onde houve a despedida,
terás dele os informes.
Farás um repouso breve
e quando a lua for cheia ---
tomarás mais goles deste.
Tomarás três goles,
para teres uma prova:
se o amado está vivo
ou, se está na cova...
No primeiro gole, não sentirás nada.
No segundo --- um cavalo baio, fará
uma batida de pata no solo; depois,
terás o seu namorado no seu colo.
No terceiro gole... Se nada ouvires,
melhor não saberes do acontecido!
Ouça, ainda! --- Não te persignes...
Farias tudo a perder... --- Vai agora!
Tente, ao menos, de si te aperceber".
Tomou o frasco.
Inclinou-se respeitosa:
"Agradecida fico!". --- Partiu...
Saiu para fora: "Devo ir, ou não?..
Não! Agora, não voltarei!"
Chegou em casa...
Jogou água no rosto.
Tomou o primeiro gole. Sorriu...
Tomou o segundo e o terceiro. Para trás
--- nem sinal. Não se arrependeu. Voou!
Parecia que tinha asas
--- junto ao poço já estava. Sorriu...
Caiu ao chão, se levantou, echorou.
Depois, cantou como jamais cantara:
"Navegue pelas águas, o meu amado!
Corte as ondas do mar azul ---
Também cresça mais a topolya,
que às nuvens estenda seus ramos
--- que mais seja esbelta e flexível;
entre os céus e a terra,
que viva os seus anos.
Então, pergunte a Deus
--- terei, ao meu lado,
a ventura de sentir o calor do amado?
Cresça alto, minha topolya ---
para que, do outro lado do mar azul,
possas ver a minha sorte; --- porque
deste, só tenho a desventura...
Do outro lado, está o meu amado ---
se diverte, cantigas ouvindo. Deste,
triste é o meu choro. Nada existe!..
Conte a ele, quão pacata a sorte ---
o meu coração só pensa nele!..
De mim todos riem. --- Não suporto
nem um pouco. Quero a morte!
Se a mãezinha minha, quiser
sepultar-me; então quem, poderá
cuidar dos seus cabelos brancos?
A seus anos avançados tributar
--- muitos afagos de acalantos?
Oh! Meus Deus! Ouve o pranto!
Que a topolya cresça pronto!..
-- Toque as nuvens na madrugada
para que ninguém a veja, pelo sol
das tardes, ter a copa flambada...
Que o meu amado, de mim longe,
navegue pela águas tranquilas
de todos os azuis mares."
Assim cantava e chorava,
a morena de olhos castanhos...
Por incrível que pareça,
em topolya se transformou.
Com as mãos --- agora ramos,
os céus e as campinas abarcou.
Ventos sopram sobre os carvalhos,
se divertem, varrendo as campinas;
Junto à estrada, vergam o choupo
-- pela terra, seus galhos dormitam.
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topolya --- álamo ou choupo.
A palavra "topolya" é de gênero gramatical feminino
chumak --- era o vendedor ambulante de sal e de peixe, nos séc. XVI - XIX, trazidos da Criméia
babusenko --- nome carinhoso com o qual se dirigia a pessoa idosa e experiente da vida e a quem se pedia um aconselhamento
03/27/2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
Україна ж піднялася...
Як "Катюша" застогнала
-- Україна ж піднялася...
Хоча слова ще й не мала,
вже про себе багатенько знала.
Та й від тоді ж сама із собою
вкладатися в устрій стала.
Зібралися молодії хлопці
щоб почути про славу та волю.
Минулого віку, козаків згадали.
Не знали що тим же часом
собі історію нову писали ---
для себе новую долю будували!
Десятини років так проминуло,
доти хлопці не здобулися сваволі.
Піднялися аж до хмар високих
--- щоби там установити чистий,
український стяг жовтоблакитний!
Тай заспівали нову пісню волі...
А "Катюша" нам вже не потрібна.
--- Сивий стогін її мусимо забути!
Свої маємо забави. Не гармати,
а серденько миле, яке любить ---
То ж із ним будуймо дійснісьть...
А на ній, наших дітей та наші хати.
25 березень 2009 р.
-- Україна ж піднялася...
Хоча слова ще й не мала,
вже про себе багатенько знала.
Та й від тоді ж сама із собою
вкладатися в устрій стала.
Зібралися молодії хлопці
щоб почути про славу та волю.
Минулого віку, козаків згадали.
Не знали що тим же часом
собі історію нову писали ---
для себе новую долю будували!
Десятини років так проминуло,
доти хлопці не здобулися сваволі.
Піднялися аж до хмар високих
--- щоби там установити чистий,
український стяг жовтоблакитний!
Тай заспівали нову пісню волі...
А "Катюша" нам вже не потрібна.
--- Сивий стогін її мусимо забути!
Свої маємо забави. Не гармати,
а серденько миле, яке любить ---
То ж із ним будуймо дійснісьть...
А на ній, наших дітей та наші хати.
25 березень 2009 р.
Taras H. Shevchenko — Hamaliya
Taras H. Shevchenko
1842 — St. Petersburg
Hamaliya (ou Gamaliya)
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
“Oh!, não há.
Não há ventos nem vagas montantes
da nossa Ucrânia!
Haverá Conselho se aconselhando –
de como invadir os trucos?
Aqui, no estrangeiro, de nada sabemos.
Ventos soprem, lá dos Grandes Prados,
mares atravessem;
Venham secar nossos olhos
– desataviando as nossas algemas,
dissipando os pesares todos.
Dos mares azuis, as ondas se encapelem,
vagalhões levantem por sob os baidaky,
que transportam os kozaky
– chapeus cujos se avistam.
Todos estão nos seguindo…
Oh, Deus nosso! Imploramos:
Mesmo que não nos seguindo,
Tire os todos da Ucrânia…
Suas glórias ouviremos — glória dos kozaky;
ouviremos, depois o mundo deixaremos.”
Assim cantavam os kozaky em Skutari,
lastimando a sorte, choravam queixumes.
Conciliar-se com a angústia planejavam…
De Bósforo as bases trepidaram –
nada assim tinha-se antes ouvido:
o lamento cossaco se estendeu e, a pele escura
– como um touro de dor estremeceu.
Enormes vagas se alevantaram –
e, projetando-se lançaram as suas fúrias
sobre as águas azuladas do grande mar.
O mar falou do Bósforo a lingua mater –
ecoando até o Lyman e do Lyman a Dnipro.
A lingua entristecida nas ondas se espalhou…
Riu gargalhadas o nosso avô forçudo, que
até espuma nos seus bigodes se formou.
“Estás domindo? Estás ouvindo! Irmão Luzhe?
“Irmã Khortytsya?” — Zumbiu
Khortytsya aos Grandes Prados: Estou ouvindo, sim!”
As águas do Dnipro se cobriram de baidaky
e as canções ecoaram dos kozaky:
“A turca, do outro lado,
mora em casa num tablado.
Ôla, ula! Se revolte o grande mar.
Acima das rochas, que subam as ondas!
Queremos visita fazer.
A turca tem, em seus bolsos,
dinheiro — moedas de prata.
Não se trata de moedas;
dar cabo queremos, queimar tudo
– libertar nossos irmãos iremos…
Com a turca, janiçaros
e baxás em fila…
Ôla, ula! Inimigos!
Nós não somos hesitantes!
Fazemos acertos, em poucos instantes!”
Navegam tranquilos, canções entoando;
do vento os sussurros o mar atento escuta.
Á frente da esquadra, Hamaliya
na condução, o seu baidaky, timoneia.
O coração já desfalece:
o mar encapelado enlouqueceu.
Não lhes fará medo!
Por trás das vagas — quase montanhas,
cada uma das naves se escondeu.
Adormecida a Bizâncio tranquila com seus serralhos,
também Üsküdar se acalmou; mas Bósforo não dorme
– como se fosse endoidecido, ora gemendo, uivando ora:
Queira, talvez, ele do sono, a Bizâncio sua acordar.
“Não, não a acorde. Terás desgraça provocado!
A tua costa esbranquiçada na areia será atolada.
No lodo ocultarei os teus favores!..
– o mar continua encapelado. –
Não sabes tu quais os motivos que me levam ao sultanato?”
Assim, o mar lamuriante, se revoltava.
(Adoro os valentes eslavos de poupa na testa).
O velho Bósforo aquietou-se. A turca sonolenta repousava.
Em seu harém, o sultão ocioso e futil se espreguiçava.
Em Üsküdar, somente, de olhos abertos, os kozaky não dormem
– como se vigilantes fossem de um velório. Aguardam alguma ordem?
Cada qual, segundo a sua fé, em súplicas se revesam.
As ondas do mar bravio, de um lado a outro, hispidam.
“Ó, Deus amado da Ucrânia!
Não permita que pereçamos no estrangeiro
– livres kozaky, grilhões não suportamos!..
Vergonha aqui nos mancharia; também, ali
– se de tumbas estrangeiras nos levantassemos,
se diante do Juizo Teu nos apresentassemos –
de mãos com ferro agrilhoadas. Algemas não!..”
“Massacrai, exterminai!
Amordaçai os infieis-buçurmanos!” –
Ouve-se gritos atrás do muros. Serão de quem?
Hamaliya, do que se trata? O coração esmorece:
Üsküdar de todo enlouquece!
“Massacrai, exterminai!” — lá do alto da fortaleza
o Hamaliya verberou.
Canhões, em trovoada, sobre Üsküdar
– o inimigo geme, de raiva se desfaz como fumaça;
como se fora uma montanha insuperável e invencível
dos kozaky a força destruidora e destemida avança.
– Por fim, renderam-se os janízaros soldados,
rolando sós, abandonados pelos campos.
Hamaliya sobre a Üsküdar –
como se pelo inferno passeasse,
ele próprio masmorras rebenta…
“Voem, pássaros cinzentos,
ao quinhão da pátria!”
Agitaram-se os falcoeiros,
já há muito não se ouvia –
dos cristãos a lingua nobre.
Também, a noite agitou-se:
jamais tinha visto tanto festim dos kozaky.
Não! Não se apavorem, vejam –
este é o banquete dos kozaky…
Calmaria, como deve ser comum aos dias.
O festejo tomou conta. Todos se calmaram.
Não são facínoras, nem horda de malvados,
que, ao lado de Hamaliya, banqueteiam e,
silentes, de toucinho os petiscos, saboreiam.
Não é apenas uma simples churrascada…
“Iluminemos!”
Que o clarão chegue às nuvens
refletindo os mastros das nossas barcaças
– que as chamas devorem
os alabastros da Üsküdar!
A Bizâncio despertou do sono.
Arregalou os seus olhos…
Rangendo os dentes, nadou até os seus
– pensando em como podê-los ajudar…
Rugiu a feroz Bizâncio
– estendendo as suas mãos: até da continental costa navegou;
e alcançou. Ululou mais uma vez!.. Se levantou –
de pés — ereta; no sangue dos golpes de espada naufragou.
Üsküdar em chamas flambou.
Parecia que o inferno se inflamou.
Rios de sangue se formaram.
O Bósforo as suas ondas alevantou.
Como se um bando de pássaros negros,
de um viveiro florestal,
por entre as chamas e fumaça,
deslocam-se os heróis kozaky,
na sua coragem vitoriosa e infernal.
Deles ninguém escapa!
O peito seu, qualquer fogo acata:
destroem muros, e tudo o que se vê.
Recolhem ouro, e toda a prata;
em seus chapeus de longa data,
recolhem a contento em seus baidaky.
Üsküdar arde em chamas…
Chegou ao fim a belígera empreitada.
Reuniram-se, os meninos da vitória,
cachimbos — todos acenderam –
valendo-se da última brasa;
os seus baidaky balouçaram.
Nos horizontes do mar azul,
por entre os vagalhões de ondas,
se perderam… Oh!, não!
Sobre as ondas encapeladas
eles se divertem. E cantam:
“Hetmã nosso — Hamaliya,
otomano valoroso:
reuniu homens valentes e
divertir-se foi pelos mares;
buscar glórias e vitórias –
libertar seus pares…
Das mãos inimigas-turcas
resgatar os cristãos e
restabelecer os valores!
Hamaliya foi até a Üsküdar.
Ali viu os kozaky a se lamentar
– aguardando a morte e a chorar.
“Irmãos, queremos a vida.
A vida vamos conquistar!
Beberemos nosso vinho e
todos os janiçaros iremos aniquilar.
As nossas casernas — kuryni,
de tapetes iremos enfeitar!”
Sairam, pelas searas, a ceifar o trigo.
Ceifaram, ceifaram — em feixes deitaram;
depois, os kozaky, em uníssono cantaram:
“Glória Hamaliya tenhas!
– Que o mundo todo veja!
– Que todo o mundo veja!
Que a Ucrânia toda saiba,
que tu não deixaste
– aos irmãos kozaky,
perecer em terras estranhas!”
Ao som dos kozaky, a esquadra navega.
Fechando o comboio, segue a nau do Hamaliya:
como se um condor de filhinhos seus cuidasse.
De Dardanelos o vento sopra,
a Bizâncio acomodou-se:
Parece que tem medo de um ataque Monge
que encendeie, de novo, a Galata nobre. Ou,
talvez, possa evocar os atos de Ivan Pidkova.
Corta a esquadra as fortes vagas,
vencendo as ondas –
que ao sol se avermelham.
Sopra a brisa, suave e teimosa,
trazendo do mar um aroma.
Da vitória, não seria uma prosa?
Hamaliya, sopra o vento…
Eis que o mar nosso!..
Esconderam-se por trás das ondas –
ondas avermelhadas, que em nontes se ergueram.
—————————————————————————————————————————
Hamaliya — (Gamaliya) Ao longo da história da Ucrânia, entre os comandantes e oficiais dos kozaky, faz-se referência a líderes de sobrenome “Hamaliya”; todavia, não se tem notícia de nenhum deles que tenha feito alguma campanha marítima. O poema Hamaliya narra a campanha dos zaporozhtsi contra Estambul (ex-Bizâncio ou Constantinópolis)
Grandes Prados – (Velykyi Luh) grande depressão (baixada) à esquerda do rio Dnipro, onde os kozaky da Zaporizhs’ka Sich tinham se estabelecido
baidaky – barcos leves militares, usados pelos kozaky de Zaporozhzhya nas suas campanhas militares marítimas, séc. XVI - XVIII
Skutari – (Üsküdar) subúrbio de Estambul, estreito de Bósforo na Àsia Menor, onde estava o palácio do Sultão e várias grandes mesquitas. No séc. XVII (anos de 1615, 1621, 1624) aonteceram ali várias incursões dos kozaky
nosso avô forçudo — refere-se ao rio Dnipro
Luzhe — refere-se a Velykyi Luh (”Luzhe” — caso vocativo de “Luh” — caso nominativo)
Khortytsya — nome de uma ilha no rio Dnipro
buçurmanos — os que acreditam em Alá (Allha, ar muslin, muslim)
ataque Monge — “monge” aqui refere-se ao hetmã Sahaidachny, que morreu num monastério, ferido na batalha de Khotin (1622). Nunca foi monge.
Galata — parte de Estambul, destruida pelos kozaky em 1621. Tomou parte nesta batalha o hetmã Sahaidachny.
03/24/2009
1842 — St. Petersburg
Hamaliya (ou Gamaliya)
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
“Oh!, não há.
Não há ventos nem vagas montantes
da nossa Ucrânia!
Haverá Conselho se aconselhando –
de como invadir os trucos?
Aqui, no estrangeiro, de nada sabemos.
Ventos soprem, lá dos Grandes Prados,
mares atravessem;
Venham secar nossos olhos
– desataviando as nossas algemas,
dissipando os pesares todos.
Dos mares azuis, as ondas se encapelem,
vagalhões levantem por sob os baidaky,
que transportam os kozaky
– chapeus cujos se avistam.
Todos estão nos seguindo…
Oh, Deus nosso! Imploramos:
Mesmo que não nos seguindo,
Tire os todos da Ucrânia…
Suas glórias ouviremos — glória dos kozaky;
ouviremos, depois o mundo deixaremos.”
Assim cantavam os kozaky em Skutari,
lastimando a sorte, choravam queixumes.
Conciliar-se com a angústia planejavam…
De Bósforo as bases trepidaram –
nada assim tinha-se antes ouvido:
o lamento cossaco se estendeu e, a pele escura
– como um touro de dor estremeceu.
Enormes vagas se alevantaram –
e, projetando-se lançaram as suas fúrias
sobre as águas azuladas do grande mar.
O mar falou do Bósforo a lingua mater –
ecoando até o Lyman e do Lyman a Dnipro.
A lingua entristecida nas ondas se espalhou…
Riu gargalhadas o nosso avô forçudo, que
até espuma nos seus bigodes se formou.
“Estás domindo? Estás ouvindo! Irmão Luzhe?
“Irmã Khortytsya?” — Zumbiu
Khortytsya aos Grandes Prados: Estou ouvindo, sim!”
As águas do Dnipro se cobriram de baidaky
e as canções ecoaram dos kozaky:
“A turca, do outro lado,
mora em casa num tablado.
Ôla, ula! Se revolte o grande mar.
Acima das rochas, que subam as ondas!
Queremos visita fazer.
A turca tem, em seus bolsos,
dinheiro — moedas de prata.
Não se trata de moedas;
dar cabo queremos, queimar tudo
– libertar nossos irmãos iremos…
Com a turca, janiçaros
e baxás em fila…
Ôla, ula! Inimigos!
Nós não somos hesitantes!
Fazemos acertos, em poucos instantes!”
Navegam tranquilos, canções entoando;
do vento os sussurros o mar atento escuta.
Á frente da esquadra, Hamaliya
na condução, o seu baidaky, timoneia.
O coração já desfalece:
o mar encapelado enlouqueceu.
Não lhes fará medo!
Por trás das vagas — quase montanhas,
cada uma das naves se escondeu.
Adormecida a Bizâncio tranquila com seus serralhos,
também Üsküdar se acalmou; mas Bósforo não dorme
– como se fosse endoidecido, ora gemendo, uivando ora:
Queira, talvez, ele do sono, a Bizâncio sua acordar.
“Não, não a acorde. Terás desgraça provocado!
A tua costa esbranquiçada na areia será atolada.
No lodo ocultarei os teus favores!..
– o mar continua encapelado. –
Não sabes tu quais os motivos que me levam ao sultanato?”
Assim, o mar lamuriante, se revoltava.
(Adoro os valentes eslavos de poupa na testa).
O velho Bósforo aquietou-se. A turca sonolenta repousava.
Em seu harém, o sultão ocioso e futil se espreguiçava.
Em Üsküdar, somente, de olhos abertos, os kozaky não dormem
– como se vigilantes fossem de um velório. Aguardam alguma ordem?
Cada qual, segundo a sua fé, em súplicas se revesam.
As ondas do mar bravio, de um lado a outro, hispidam.
“Ó, Deus amado da Ucrânia!
Não permita que pereçamos no estrangeiro
– livres kozaky, grilhões não suportamos!..
Vergonha aqui nos mancharia; também, ali
– se de tumbas estrangeiras nos levantassemos,
se diante do Juizo Teu nos apresentassemos –
de mãos com ferro agrilhoadas. Algemas não!..”
“Massacrai, exterminai!
Amordaçai os infieis-buçurmanos!” –
Ouve-se gritos atrás do muros. Serão de quem?
Hamaliya, do que se trata? O coração esmorece:
Üsküdar de todo enlouquece!
“Massacrai, exterminai!” — lá do alto da fortaleza
o Hamaliya verberou.
Canhões, em trovoada, sobre Üsküdar
– o inimigo geme, de raiva se desfaz como fumaça;
como se fora uma montanha insuperável e invencível
dos kozaky a força destruidora e destemida avança.
– Por fim, renderam-se os janízaros soldados,
rolando sós, abandonados pelos campos.
Hamaliya sobre a Üsküdar –
como se pelo inferno passeasse,
ele próprio masmorras rebenta…
“Voem, pássaros cinzentos,
ao quinhão da pátria!”
Agitaram-se os falcoeiros,
já há muito não se ouvia –
dos cristãos a lingua nobre.
Também, a noite agitou-se:
jamais tinha visto tanto festim dos kozaky.
Não! Não se apavorem, vejam –
este é o banquete dos kozaky…
Calmaria, como deve ser comum aos dias.
O festejo tomou conta. Todos se calmaram.
Não são facínoras, nem horda de malvados,
que, ao lado de Hamaliya, banqueteiam e,
silentes, de toucinho os petiscos, saboreiam.
Não é apenas uma simples churrascada…
“Iluminemos!”
Que o clarão chegue às nuvens
refletindo os mastros das nossas barcaças
– que as chamas devorem
os alabastros da Üsküdar!
A Bizâncio despertou do sono.
Arregalou os seus olhos…
Rangendo os dentes, nadou até os seus
– pensando em como podê-los ajudar…
Rugiu a feroz Bizâncio
– estendendo as suas mãos: até da continental costa navegou;
e alcançou. Ululou mais uma vez!.. Se levantou –
de pés — ereta; no sangue dos golpes de espada naufragou.
Üsküdar em chamas flambou.
Parecia que o inferno se inflamou.
Rios de sangue se formaram.
O Bósforo as suas ondas alevantou.
Como se um bando de pássaros negros,
de um viveiro florestal,
por entre as chamas e fumaça,
deslocam-se os heróis kozaky,
na sua coragem vitoriosa e infernal.
Deles ninguém escapa!
O peito seu, qualquer fogo acata:
destroem muros, e tudo o que se vê.
Recolhem ouro, e toda a prata;
em seus chapeus de longa data,
recolhem a contento em seus baidaky.
Üsküdar arde em chamas…
Chegou ao fim a belígera empreitada.
Reuniram-se, os meninos da vitória,
cachimbos — todos acenderam –
valendo-se da última brasa;
os seus baidaky balouçaram.
Nos horizontes do mar azul,
por entre os vagalhões de ondas,
se perderam… Oh!, não!
Sobre as ondas encapeladas
eles se divertem. E cantam:
“Hetmã nosso — Hamaliya,
otomano valoroso:
reuniu homens valentes e
divertir-se foi pelos mares;
buscar glórias e vitórias –
libertar seus pares…
Das mãos inimigas-turcas
resgatar os cristãos e
restabelecer os valores!
Hamaliya foi até a Üsküdar.
Ali viu os kozaky a se lamentar
– aguardando a morte e a chorar.
“Irmãos, queremos a vida.
A vida vamos conquistar!
Beberemos nosso vinho e
todos os janiçaros iremos aniquilar.
As nossas casernas — kuryni,
de tapetes iremos enfeitar!”
Sairam, pelas searas, a ceifar o trigo.
Ceifaram, ceifaram — em feixes deitaram;
depois, os kozaky, em uníssono cantaram:
“Glória Hamaliya tenhas!
– Que o mundo todo veja!
– Que todo o mundo veja!
Que a Ucrânia toda saiba,
que tu não deixaste
– aos irmãos kozaky,
perecer em terras estranhas!”
Ao som dos kozaky, a esquadra navega.
Fechando o comboio, segue a nau do Hamaliya:
como se um condor de filhinhos seus cuidasse.
De Dardanelos o vento sopra,
a Bizâncio acomodou-se:
Parece que tem medo de um ataque Monge
que encendeie, de novo, a Galata nobre. Ou,
talvez, possa evocar os atos de Ivan Pidkova.
Corta a esquadra as fortes vagas,
vencendo as ondas –
que ao sol se avermelham.
Sopra a brisa, suave e teimosa,
trazendo do mar um aroma.
Da vitória, não seria uma prosa?
Hamaliya, sopra o vento…
Eis que o mar nosso!..
Esconderam-se por trás das ondas –
ondas avermelhadas, que em nontes se ergueram.
—————————————————————————————————————————
Hamaliya — (Gamaliya) Ao longo da história da Ucrânia, entre os comandantes e oficiais dos kozaky, faz-se referência a líderes de sobrenome “Hamaliya”; todavia, não se tem notícia de nenhum deles que tenha feito alguma campanha marítima. O poema Hamaliya narra a campanha dos zaporozhtsi contra Estambul (ex-Bizâncio ou Constantinópolis)
Grandes Prados – (Velykyi Luh) grande depressão (baixada) à esquerda do rio Dnipro, onde os kozaky da Zaporizhs’ka Sich tinham se estabelecido
baidaky – barcos leves militares, usados pelos kozaky de Zaporozhzhya nas suas campanhas militares marítimas, séc. XVI - XVIII
Skutari – (Üsküdar) subúrbio de Estambul, estreito de Bósforo na Àsia Menor, onde estava o palácio do Sultão e várias grandes mesquitas. No séc. XVII (anos de 1615, 1621, 1624) aonteceram ali várias incursões dos kozaky
nosso avô forçudo — refere-se ao rio Dnipro
Luzhe — refere-se a Velykyi Luh (”Luzhe” — caso vocativo de “Luh” — caso nominativo)
Khortytsya — nome de uma ilha no rio Dnipro
buçurmanos — os que acreditam em Alá (Allha, ar muslin, muslim)
ataque Monge — “monge” aqui refere-se ao hetmã Sahaidachny, que morreu num monastério, ferido na batalha de Khotin (1622). Nunca foi monge.
Galata — parte de Estambul, destruida pelos kozaky em 1621. Tomou parte nesta batalha o hetmã Sahaidachny.
03/24/2009
Довіряймося до неї
Я не знаю в чім є справа
алеж рицаря булава
до такого нас довела…
– Україна всеж одна!
Кажуть люди–
на Херсоні нема хліба,
а в Полтаві піднялося
– є розмова: все на п”ятак.
В якій суті, наше діло
що хтось хоче помучити
нас людей простих
ось так дуже і отак?
Мером Києва зробили
Черновецького якогось.
А Ющенко посадили
президентом Русі всеї!
І для чого?
Кажуть що дитина плаче
коли матері не баче.
Ось до стану якого прийшли!
Були колись яничари
тай розчаровані впали –
тоді коли пісеньку козачу
з за неваги не співали.
І тополя зажурилась, тай
червона калина похилилась;
– Коли доля козача
на могилу подивилась…
Гетьман Юля
– курінь новий підіймає:
славу козачу літ минулих
в новій повісті складає!
Даймо силу. Даймо довір.
Україна нас призиває –
Тимошенко хай воює:
нашу волю хай підіймає!
25 березень 2009 р.
алеж рицаря булава
до такого нас довела…
– Україна всеж одна!
Кажуть люди–
на Херсоні нема хліба,
а в Полтаві піднялося
– є розмова: все на п”ятак.
В якій суті, наше діло
що хтось хоче помучити
нас людей простих
ось так дуже і отак?
Мером Києва зробили
Черновецького якогось.
А Ющенко посадили
президентом Русі всеї!
І для чого?
Кажуть що дитина плаче
коли матері не баче.
Ось до стану якого прийшли!
Були колись яничари
тай розчаровані впали –
тоді коли пісеньку козачу
з за неваги не співали.
І тополя зажурилась, тай
червона калина похилилась;
– Коли доля козача
на могилу подивилась…
Гетьман Юля
– курінь новий підіймає:
славу козачу літ минулих
в новій повісті складає!
Даймо силу. Даймо довір.
Україна нас призиває –
Тимошенко хай воює:
нашу волю хай підіймає!
25 березень 2009 р.
А чомуж ти так журлива?
А чомуж то заплакані твої карі очі --
чи тобі вже не досить буть сумувати?
Твоя воля, немов та могутьня тополя,
тебе доведе до успіху: аж до хмари!..
Утри сльози найшвидше, та й уставай
-- червоні троянди всім людям давай!
Не журися надармо. Журба не є варта.
Життя наше не довге. А чомуж кидати?
Літа молодії минають скоріше ніж вітер
-- що листя підносить заповерхи дубів.
Та скоріше ніж каплі дощеві впадають,
що приносять напиток холодний землі...
Карі очі та брови чорняві. Вони є твої!
Подарунок від Бога -- чомуж сумувати?
Красива квітонька ти будеш назавжди
-- лишень незабудь, що не є вічні вони!
24 березень 2009 р.
чи тобі вже не досить буть сумувати?
Твоя воля, немов та могутьня тополя,
тебе доведе до успіху: аж до хмари!..
Утри сльози найшвидше, та й уставай
-- червоні троянди всім людям давай!
Не журися надармо. Журба не є варта.
Життя наше не довге. А чомуж кидати?
Літа молодії минають скоріше ніж вітер
-- що листя підносить заповерхи дубів.
Та скоріше ніж каплі дощеві впадають,
що приносять напиток холодний землі...
Карі очі та брови чорняві. Вони є твої!
Подарунок від Бога -- чомуж сумувати?
Красива квітонька ти будеш назавжди
-- лишень незабудь, що не є вічні вони!
24 березень 2009 р.
terça-feira, 17 de março de 2009
Lider sem liderança
Lider sem liderança, ele comanda
os submissíveis sem decisão.
Orgulha-se em ser o coronel da fé
da pacata tribo dos sem razão.
Disseram que leram os estatutos;
porém, em soletrando-se apenas,
não sei... Poder-se-á, ao menos,
algo mais solidamente conjeturar?
Obedecer comandos cegamente
para, da lide males, não enfrentar,
são ferramentas de que se serve
um falso lider. Assim vai dominar!
Lider sem liderança, ele comanda
os submissíveis sem decisão.
Cabe a nós -- seus comandados,
mostrar quem somos e com razão!
03/17/2009
os submissíveis sem decisão.
Orgulha-se em ser o coronel da fé
da pacata tribo dos sem razão.
Disseram que leram os estatutos;
porém, em soletrando-se apenas,
não sei... Poder-se-á, ao menos,
algo mais solidamente conjeturar?
Obedecer comandos cegamente
para, da lide males, não enfrentar,
são ferramentas de que se serve
um falso lider. Assim vai dominar!
Lider sem liderança, ele comanda
os submissíveis sem decisão.
Cabe a nós -- seus comandados,
mostrar quem somos e com razão!
03/17/2009
segunda-feira, 16 de março de 2009
Ele continua o mesmo
Ele continua sendo o mesmo
-- daqueles que não se toca,
nem que se broqueie a piroga.
Água rasa se fez à sua base
-- que ao mau cheiro acostou.
Nem um pouco, isto o notou!
Como pode-se ser tão insente,
alguém outro dia me perguntou.
Disse: "a razão imbecil ficou!.."
Para sentir-se "alguém na vida",
mesmo se passando por besta,
sempre haverá quem faça-testa!
Os apaniguados seus, da hora --
os ditos corifeus das tragédias,
são atoalhadores de comédias...
São estes os seus conselheiros.
De construções nada conhecem.
Nas comodidades se apetecem.
Jamais tiveram pensares sóbrios
-- daqueles que por si erigiram...
Que são livres, nunca sentiram!
Ele continua sendo o mesmo
-- daqueles que não se toca...
Tem seguidores. Não os troca!
03/16/2009
-- daqueles que não se toca,
nem que se broqueie a piroga.
Água rasa se fez à sua base
-- que ao mau cheiro acostou.
Nem um pouco, isto o notou!
Como pode-se ser tão insente,
alguém outro dia me perguntou.
Disse: "a razão imbecil ficou!.."
Para sentir-se "alguém na vida",
mesmo se passando por besta,
sempre haverá quem faça-testa!
Os apaniguados seus, da hora --
os ditos corifeus das tragédias,
são atoalhadores de comédias...
São estes os seus conselheiros.
De construções nada conhecem.
Nas comodidades se apetecem.
Jamais tiveram pensares sóbrios
-- daqueles que por si erigiram...
Que são livres, nunca sentiram!
Ele continua sendo o mesmo
-- daqueles que não se toca...
Tem seguidores. Não os troca!
03/16/2009
sábado, 14 de março de 2009
Apenas, é o que psso dizer-te
Sobre areia edificaste o teu pequeno império.
Queres domar os teus pelo "pavor" e tirania --
é claro, qu'estou exagerando dizendo assim;
porque capacidade tua é de um mini-arlequim.
Queres postar-te como um sábio impoluto --
daqueles que se tem por um forte "vencedor"!..
Mas, o real do dias teus não é ser um astuto;
mais parecidos são os teus atos com filisteus!
Não sabes tu retribuir -- nem mesmo àqueles
que te rodeiam e que pretendem sustentar-te,
como banzeiro, na posição de te sentires "rei".
Impetuosos os teus atos. É parca a tua grei!..
Chegou a hora de acordar! -- Os mentecaptos
passos, da tua jornada -- já enlameados, não
poderão mais sustentar-te em pé. -- A tempo,
entregue os pontos e recupere a tua boa fé!..
03/14/2009
Queres domar os teus pelo "pavor" e tirania --
é claro, qu'estou exagerando dizendo assim;
porque capacidade tua é de um mini-arlequim.
Queres postar-te como um sábio impoluto --
daqueles que se tem por um forte "vencedor"!..
Mas, o real do dias teus não é ser um astuto;
mais parecidos são os teus atos com filisteus!
Não sabes tu retribuir -- nem mesmo àqueles
que te rodeiam e que pretendem sustentar-te,
como banzeiro, na posição de te sentires "rei".
Impetuosos os teus atos. É parca a tua grei!..
Chegou a hora de acordar! -- Os mentecaptos
passos, da tua jornada -- já enlameados, não
poderão mais sustentar-te em pé. -- A tempo,
entregue os pontos e recupere a tua boa fé!..
03/14/2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
Em memória de Oksana Kovalenko -- introdução
Taras H. Chevchenko
1841 St. Petersburg
Introdução ao poema dedicado à sua amiga de infância "Maryana-Chernytsya"
(o nome verdadeiro era Oksana Kovalenko). O poema descreve a sua sorte desdita.
Tradução de Mykola Szoma (Shchoma Mykola Opanasovych)
***
Conversa o vento com os bosques
-- confabula com os carriços;
pelas águas do Danúbio,
suavemente, deslisa uma jangada.
Jangada cheia de água,
ninguém a interceptará.
-- Um pescador;
quem o deteria, no mundo não há.
A jangada foi para o mar azul, que,
enfurecido, encapelou-se.
Em vagas gigantes -- como se em montes,
o mar transformou-se;
da jangada nem lasca de um cavaco notou-se.
Não longo o caminho -- como o foi da jangada,
até as águas dos mares azuis --
terá uma órfã para as terras estranhas,
depois lá, desventuras e dores...
Então, gente boa fará pouco caso do acaso,
como as ondas gigantes geladas e,
depois, apenas ouvirão o choro da órfã...
Se alguém perguntar "onde está a esquecida?" --
dirão que ninguém a viu nem o seu lamento se ouviu.
03/13/2009
1841 St. Petersburg
Introdução ao poema dedicado à sua amiga de infância "Maryana-Chernytsya"
(o nome verdadeiro era Oksana Kovalenko). O poema descreve a sua sorte desdita.
Tradução de Mykola Szoma (Shchoma Mykola Opanasovych)
***
Conversa o vento com os bosques
-- confabula com os carriços;
pelas águas do Danúbio,
suavemente, deslisa uma jangada.
Jangada cheia de água,
ninguém a interceptará.
-- Um pescador;
quem o deteria, no mundo não há.
A jangada foi para o mar azul, que,
enfurecido, encapelou-se.
Em vagas gigantes -- como se em montes,
o mar transformou-se;
da jangada nem lasca de um cavaco notou-se.
Não longo o caminho -- como o foi da jangada,
até as águas dos mares azuis --
terá uma órfã para as terras estranhas,
depois lá, desventuras e dores...
Então, gente boa fará pouco caso do acaso,
como as ondas gigantes geladas e,
depois, apenas ouvirão o choro da órfã...
Se alguém perguntar "onde está a esquecida?" --
dirão que ninguém a viu nem o seu lamento se ouviu.
03/13/2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Carga pesada
Auto-estrada
-- cobra gigante se perdendo pelo chão.
Caminhões,
carretas,
truques...
Transportam produtos da terra:
ouro,
pedra britada,
carvão.
Num sofá debruçado
assisto a um canal de TV:
"Carga Pesada" -- ibope do dia
é o que a gente sempre vê.
Whisky com gelo e soda,
fumaça navegando pela sala...
Mas, a "Carga Pesada" por que?
Pelo asfalto das estradas
os caminhões vão deslisando;
em casa, ausente do mundo,
eu gozo as delícias da vida,
sem importar-me com a carga pesada.
Aliás, nem me pergunto:
pesada por que?
03/11/2009
-- cobra gigante se perdendo pelo chão.
Caminhões,
carretas,
truques...
Transportam produtos da terra:
ouro,
pedra britada,
carvão.
Num sofá debruçado
assisto a um canal de TV:
"Carga Pesada" -- ibope do dia
é o que a gente sempre vê.
Whisky com gelo e soda,
fumaça navegando pela sala...
Mas, a "Carga Pesada" por que?
Pelo asfalto das estradas
os caminhões vão deslisando;
em casa, ausente do mundo,
eu gozo as delícias da vida,
sem importar-me com a carga pesada.
Aliás, nem me pergunto:
pesada por que?
03/11/2009
Evocando a Natureza
De tuas pândegas entranhas
ó, Natureza!
a Humanidade toda se nutre.
Tu a sustentas rica e fartamente.
Em troca pedes, apenasmente,
que te consuma sábia e
te conserve em forma
agora e futuramente.
Ó, Natureza!
És magna mater
-- olhai por nós condignamente.
Produzi frutos do vosso ventre
às pampas
-- às centenas de milhares,
para podermos alimentar-nos
-- a nós e aos nossos filhos e
aos que virão, por força do destino,
logo mais e, depois mais tarde,
-- digo, futuramente...
Cuidar de ti?
Nós prometemos!
Faremos tudo o quê pudermos.
Até milagres "forjaremos"
para que tu possas,
por séculos afins,
nos sustentar assim:
rica e densamente!..
03/11/2009
ó, Natureza!
a Humanidade toda se nutre.
Tu a sustentas rica e fartamente.
Em troca pedes, apenasmente,
que te consuma sábia e
te conserve em forma
agora e futuramente.
Ó, Natureza!
És magna mater
-- olhai por nós condignamente.
Produzi frutos do vosso ventre
às pampas
-- às centenas de milhares,
para podermos alimentar-nos
-- a nós e aos nossos filhos e
aos que virão, por força do destino,
logo mais e, depois mais tarde,
-- digo, futuramente...
Cuidar de ti?
Nós prometemos!
Faremos tudo o quê pudermos.
Até milagres "forjaremos"
para que tu possas,
por séculos afins,
nos sustentar assim:
rica e densamente!..
03/11/2009
terça-feira, 10 de março de 2009
Ми України сини!
Сьогодні згадав я чомусь моїх батьків.
Стара мама -- мала вже понад 85 літ...
Татуся давно вже від нас відступився
-- погодився з Богом, тай з Ним усівся.
І скучно моє серце забубоніло. Загоріло!
А чому ж таке з нами буває. Хтось знає?
Коли рідня наша ще з нами, то ж вірно --
так воно і є: нехтуємо, і дуже!.. усе своє.
Тоді ж коли все загубили й осталися одні
тай сумні дні, самітно з собою потерпіли,
почули, в своїх грудях, як то скорботливо
бувати! Немов тополя серед поля. Брате!
Де ж ти мій брате! Вітри які на тебе віють?
Якими снами свої ночі ти заповняєш? Чи,
лишень питаю просто: -- наше дитинство
давно ти вже забув? Нічого не пам"ятаєш?
Наші батьки -- тато і мама, вже відійшли...
Нову оселю собі спорудили в просторах!
А ми осталися ось тут іще. Можливо що
для нас презначено якесь завдання...
То ж скористуймо час який є перед нами.
З"єднаймо всі зусилля наші -- де я, де ти.
Нехай земля, що бачила як ми прийшли,
про нас спогадає. Бо ж ми України сини!
03/10/2009
Стара мама -- мала вже понад 85 літ...
Татуся давно вже від нас відступився
-- погодився з Богом, тай з Ним усівся.
І скучно моє серце забубоніло. Загоріло!
А чому ж таке з нами буває. Хтось знає?
Коли рідня наша ще з нами, то ж вірно --
так воно і є: нехтуємо, і дуже!.. усе своє.
Тоді ж коли все загубили й осталися одні
тай сумні дні, самітно з собою потерпіли,
почули, в своїх грудях, як то скорботливо
бувати! Немов тополя серед поля. Брате!
Де ж ти мій брате! Вітри які на тебе віють?
Якими снами свої ночі ти заповняєш? Чи,
лишень питаю просто: -- наше дитинство
давно ти вже забув? Нічого не пам"ятаєш?
Наші батьки -- тато і мама, вже відійшли...
Нову оселю собі спорудили в просторах!
А ми осталися ось тут іще. Можливо що
для нас презначено якесь завдання...
То ж скористуймо час який є перед нами.
З"єднаймо всі зусилля наші -- де я, де ти.
Нехай земля, що бачила як ми прийшли,
про нас спогадає. Бо ж ми України сини!
03/10/2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
Não entre na onda dos coletivos
Não são os teus muitos amigos,
nem o pensamento positivo teu,
farão de ti um vencedor na vida.
Apenas a tua postura altineira --
diante das coisas... Entendeu?..
Não queiras lamentar os fatos,
que um dia fugiram do controle.
Terás milhares de outros tais,
que te darão a sensação feliz
de ser fautor. -- Não aprendiz!..
Onda moderna dos coletivos --
submete o homem ao social...
Não entre nesta! Pura bazófia.
O ser humano é pleno em si!..
Por si subsiste -- é individual!
Os seus valores, unipessoais,
não se submetem aos "morais"
decretos sócio-hígido-finais...
Estes poderão ser uteis, caso
não corrompam os pessoais...
Então cultive os teus pensares,
para que possas ver as coisas
como de fato são. São sociais
só no sentido de suportar, e só,
a esteira do teu exclusivo sonhar!..
03/09/2009
nem o pensamento positivo teu,
farão de ti um vencedor na vida.
Apenas a tua postura altineira --
diante das coisas... Entendeu?..
Não queiras lamentar os fatos,
que um dia fugiram do controle.
Terás milhares de outros tais,
que te darão a sensação feliz
de ser fautor. -- Não aprendiz!..
Onda moderna dos coletivos --
submete o homem ao social...
Não entre nesta! Pura bazófia.
O ser humano é pleno em si!..
Por si subsiste -- é individual!
Os seus valores, unipessoais,
não se submetem aos "morais"
decretos sócio-hígido-finais...
Estes poderão ser uteis, caso
não corrompam os pessoais...
Então cultive os teus pensares,
para que possas ver as coisas
como de fato são. São sociais
só no sentido de suportar, e só,
a esteira do teu exclusivo sonhar!..
03/09/2009
Lamentações à Nintendo
Terceiro galo acabara de cantar
na madrugada do teu pastoreio.
Chegou a hora!.. Vais acordar?
Do zero, começar tudo de novo!
Meia trintena de anos passados
-- pouco valeram nas lábias tuas.
Teus atos improbos, insustentos,
abateram os teus ditos faulhentos.
Como se Pedro, de tempos atrás,
tu te mostraste incapaz em honrar
a "coroa da cruz", que abraçaste!..
Decaiste de orgulho!.. Mancaste!..
Pela força, da força do teu cotovelo,
buscaste amansar os fieis do arraial.
Não deu certo!.. Estupidez foi a tua
-- sucumbiste! Te amoixate na rua...
De nada valeram os ditos amigos --
são falsos esteios que desfalecem.
Ao se notarem as incongruências,
todos se espalham. Desaparecem!
Permanecem de pé, tão somente,
os atos marcantes da tua presença.
E o galo cantante, da terça pousada,
mostrou-te: "a 'missão' terminada!"
03/09/2009
na madrugada do teu pastoreio.
Chegou a hora!.. Vais acordar?
Do zero, começar tudo de novo!
Meia trintena de anos passados
-- pouco valeram nas lábias tuas.
Teus atos improbos, insustentos,
abateram os teus ditos faulhentos.
Como se Pedro, de tempos atrás,
tu te mostraste incapaz em honrar
a "coroa da cruz", que abraçaste!..
Decaiste de orgulho!.. Mancaste!..
Pela força, da força do teu cotovelo,
buscaste amansar os fieis do arraial.
Não deu certo!.. Estupidez foi a tua
-- sucumbiste! Te amoixate na rua...
De nada valeram os ditos amigos --
são falsos esteios que desfalecem.
Ao se notarem as incongruências,
todos se espalham. Desaparecem!
Permanecem de pé, tão somente,
os atos marcantes da tua presença.
E o galo cantante, da terça pousada,
mostrou-te: "a 'missão' terminada!"
03/09/2009
Простори України затвердити
Куди не гляну, тебе я бачу
та чую голос твого буття...
Ти є велика! З твоїм народом,
всіх подолієш своїх зневаг!
Ой, Україно! Розвеселися --
тобі сіяє промінння щастя...
Не плач, немов дитя малеє,
ставай на ноги. Сподівайся.
Уже розбилися усі кайдани!..
Чому ж собі не довіряєш ти?
Забудь всіх ворогів бажання
-- сила в тобі! Ей, без вагання!
Хай екіпірують свої каретки --
тай кучері зготовлюють коней.
Простори України затвердити
як найскоріше для укрлюдей!
Куди не гляну, тебе я бачу
та чую голос твого буття...
Ти є велика! З твоїм народом,
всіх подолієш своїх зневаг!
09 березень 2009 р.
та чую голос твого буття...
Ти є велика! З твоїм народом,
всіх подолієш своїх зневаг!
Ой, Україно! Розвеселися --
тобі сіяє промінння щастя...
Не плач, немов дитя малеє,
ставай на ноги. Сподівайся.
Уже розбилися усі кайдани!..
Чому ж собі не довіряєш ти?
Забудь всіх ворогів бажання
-- сила в тобі! Ей, без вагання!
Хай екіпірують свої каретки --
тай кучері зготовлюють коней.
Простори України затвердити
як найскоріше для укрлюдей!
Куди не гляну, тебе я бачу
та чую голос твого буття...
Ти є велика! З твоїм народом,
всіх подолієш своїх зневаг!
09 березень 2009 р.
sábado, 7 de março de 2009
A Afogada
A Afogada
Poema da Taras Shvchenko -- "Utoplena"
1841
Tradução do ucraniano por Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
O vento nos bosques não passeia --
ele, ás noitnhas, repousa;
Em acordando -- calmamente
às ciperáceas pergunta:
"Quem é, quem é que deste lado
pentea a sua trança? Quem é?..
Quem é, quem é que daquele lado
arrotea as suas tranças?..
Quem é, quem é?" -- calmamente
pergunta-soprando.
Finalmente, adormece, até que o céu
tenha as suas bordas avermelhadas...
"Quem é, quem é?" -- perguntareis,
vós meninas curiosas e simpáticas.
Esta, do lado de cá, é a filha,
aquela, do outro lado, é a mãe.
Teria acontecido, há muito tempo,
nas terras da nossa Ucrânia.
Havia uma viuva na aldeia
morando numa casa nova.
Rosto branco, olhos castanhos
e figura de porte alto --
Vestia zhupan; era senhora,
pela frente e pelos lados.
Ainda nova, haja cobiça!
Uma mulher nova,
além de tudo viuva
-- uma horda de cossacos
sempre a seguia e seguia.
Até que, "em-desonra",
uma filha sua nascia.
Deu à luz -- indiferente;
a vizinhança há de alimentar.
Abandonou a filha na aldéia:
Que mãe insciente!..
Alguém pode duvidar?
Que mais deve-se esperar!
Os aldeãos alimentaram a pequena,
mas a viuva, aos domingos,
e aos dias semanais,
divertia-se à beça,
com casados e solteiros
-- bebendo e folgando
até que a má sorte a encontrou.
A viuva se transfomou.
Nem tinha se apercebido
de como tudo acabou.
Os anos da juventude voaram...
Infortúnio, infortúnio!
A mãe murcha e se debilita,
a filha floresce e se habilita.
A menina cresceu...
Hanna, de olhos castanhos,
tal qual um choupo,
num campo florido,
se destacou -- esbelta e alta.
"Não tenho medo de Hannusya!"
-- canta, agora, a triste "matusya";
e os cossacos, como abelhas,
zumbem da Hannusya ao redor.
Em particular, aquele "pescador"
-- animado, de cabelos ondulados,
se desfaz em suspiros
toda vez vez que, à sua frente,
se depara com a Hanna morena.
Percebeu mãezinha velha,
enlouqueceu brava:
"Vejam só, a maltrapilha pobre
-- meninota pés-descalços!
Já crescida tanto, que até namora
com a rapaziada toda...
Não será por isso. Pois que aguarde!
Não mais me respeitas?
Não, minha querida!"
E, medonha, mais enfureceu
-- até os dentes rangeu.
Muitas vezes, uma mãe fica assim!..
Então, onde estará o coração materno?
Coração de mãe?.. Oh!, tristeza,
infortúnio total, meninas!
Mãe, figura esbelta, dócil e maleável;
porém, sem um coração.
Se verga a esbelta figura,
as sobrancelhas desbotam,
sem que o percebam; e as gentes
recordarão rindo os anos passados
-- dirão: "ela é vagabunda!"
Chorava muito a Hannusya
sem saber por que.
Não sabia a razão
porque a sua mãe desvanecia,
porque a condenava e a maldizia
-- do seu rebento "em-desonra",
sempre se queixava.
Torturava-se, angustiava-se,
de nada o sofrimento valia:
como uma planta daninha
a menina Hanna crescia...
Como uma rosa-de-gueldres florescia
sob os orvalhos matutinos dos vales.
Sempre corada,
Hanna banhava-se em lágrimas.
"Enfeitiçada!.. Aguarde, pois!
-- murmurava a mãe enfurecida.
Precciso encontrar um anti-feitiço;
Vou procur uma feiticeira, agora!".
Encontrou a feiticeira e
conseguiu o anti-feitiço que,
ao cair da tarde, beber a filha obrigava.
Nada adiantou...
A mãe mais feroz se mostrava, e
-- a hora e o dia, em que à luz havia dado
a maldita, cada vez mais condenava.
"Sufocante; vamos, filha,
banhar-nos nas águas de um lago".
"Vamos, mamãe".
À beira do lago
Hanna despiu-se todinha,
ficou nua e lançou-se
sobre a sua camisola branca;
O pescador de cabelos ondulados,
de outro lado do lago, lânguido suspira...
Também eu, um dia... Longe de mim!
Que vergonha -- não devo pensar.
Como se criança fosse,
distrai-se com rosa-de-gueldres,
retorcendo as suas formas e
relaxando se aquece ao sol.
A mãe observa a filha e,
de raiva, muda fica;
Muda de cores -- amareleja, ora azulea;
Medonha, de pés descalços,
a espuma flui da boca; É quase louca,
tenta arrancar as suas tranças.
Repentinamente, joga-se sobre a filha
e, em suas tranças, se embrenhou.
"Mamãe! mamãe! O que fazes?"
Um maroiço de vagas se encapelou,
ebuliu, um gemido se espalhou --
e a onda, a ambas, abraçou.
O pescador de cabelos ondulados,
com todas as suas forças,
nas águas se lançou; nadou e nadou
-- as águas azuis ao meio rasgou,
Ainda nadou, nadou... Se aproximou!
Mergulhou, emergiu --
e, entre os seus braços,
à beira do lago, o corpo de Hanna deitou.
Com muito trabalho, as tranças macias,
das mãos congeladas da mãe, desembaraçou.
"Coração meu! Sorte minha!
Descerrem-se os olhos castanhos!
Descrtinem a vista e sorriam!
Não quereis!.. Não quereis!.."
Chora e lamenta, ao lado da Hanna;
observando o seu corpo, a beija.
Os olhos mortos estão. "Veja!..
Nada escuta, ela dormiu para sempre!"
Deitada sobre a areia branca,
mãos estendidas -- para os lados; junto a ela
a sua cruel mãezinha quase selvagem:
De olhos esbugalhados,
atormentados pelo sofrer da vida,
com as mãos, envelecidas e cansadas,
entrincheiradas na areia amarelada.
Chorou muito o pescador:
"Sem familiares no mundo.
Quem não teve sorte neste mundo
-- terá vida plena nas águas da morte!"
Levantou a Hanna, beijou o seu rosto...
As ondas gemeram de novo --
abriram-se as vagas e se fecharam.
Nem sinal atrás de si deixaram...
Desde então, o límpido lago
cobriu-se de mato -- carriço pacato;
Ninguém nele mais banhou-se
-- as meninas, ao longe, dele passa;
Se, por acaso, alguma coisa avistam,
com um sinal da cruz se despistam --
evocando o nome da maldição...
Tudo é triste e soturno ao redor do lago...
À noitinha, meninada ouça:
emerge das águas a mãe brava e
senta-se do outro lado;
Muda de cores -- amareleja, ora azulea;
Medonha, de pés descalços,
a espuma flui da boca.
Ela sempre está vestida de camisola molhada.
Calma olha para este lado
É quase louca, tenta arrancar as suas tranças.
Vez em quando, as ondas azuladas da lagoa,
trazem à tona o corpo belo da menina Hanna.
Totalmente nua, ele estremece;
por instantes, senta nas areias brancas...
Depois, desparece.
O pescador vem nadando
trazendo consigo o verde das águas
para colocar sobre a camisola branca
-- aplacando as suas mágoas.
Então beija os olhos dela --
e, também, o sabor da água.
Se despede, vai embora;
com vergonha de si próprio,
por olhar um corpo nu.
Ninguém sabe o que se passa
nas noites serenas do bosque.
Somente os ventos, com os carriços,
murmuram baixinho: "Quem é, quem é,
quem é que senta-se triste nas águas
e, desembaraça as longas tranças?"
03/07/2009
Poema da Taras Shvchenko -- "Utoplena"
1841
Tradução do ucraniano por Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
O vento nos bosques não passeia --
ele, ás noitnhas, repousa;
Em acordando -- calmamente
às ciperáceas pergunta:
"Quem é, quem é que deste lado
pentea a sua trança? Quem é?..
Quem é, quem é que daquele lado
arrotea as suas tranças?..
Quem é, quem é?" -- calmamente
pergunta-soprando.
Finalmente, adormece, até que o céu
tenha as suas bordas avermelhadas...
"Quem é, quem é?" -- perguntareis,
vós meninas curiosas e simpáticas.
Esta, do lado de cá, é a filha,
aquela, do outro lado, é a mãe.
Teria acontecido, há muito tempo,
nas terras da nossa Ucrânia.
Havia uma viuva na aldeia
morando numa casa nova.
Rosto branco, olhos castanhos
e figura de porte alto --
Vestia zhupan; era senhora,
pela frente e pelos lados.
Ainda nova, haja cobiça!
Uma mulher nova,
além de tudo viuva
-- uma horda de cossacos
sempre a seguia e seguia.
Até que, "em-desonra",
uma filha sua nascia.
Deu à luz -- indiferente;
a vizinhança há de alimentar.
Abandonou a filha na aldéia:
Que mãe insciente!..
Alguém pode duvidar?
Que mais deve-se esperar!
Os aldeãos alimentaram a pequena,
mas a viuva, aos domingos,
e aos dias semanais,
divertia-se à beça,
com casados e solteiros
-- bebendo e folgando
até que a má sorte a encontrou.
A viuva se transfomou.
Nem tinha se apercebido
de como tudo acabou.
Os anos da juventude voaram...
Infortúnio, infortúnio!
A mãe murcha e se debilita,
a filha floresce e se habilita.
A menina cresceu...
Hanna, de olhos castanhos,
tal qual um choupo,
num campo florido,
se destacou -- esbelta e alta.
"Não tenho medo de Hannusya!"
-- canta, agora, a triste "matusya";
e os cossacos, como abelhas,
zumbem da Hannusya ao redor.
Em particular, aquele "pescador"
-- animado, de cabelos ondulados,
se desfaz em suspiros
toda vez vez que, à sua frente,
se depara com a Hanna morena.
Percebeu mãezinha velha,
enlouqueceu brava:
"Vejam só, a maltrapilha pobre
-- meninota pés-descalços!
Já crescida tanto, que até namora
com a rapaziada toda...
Não será por isso. Pois que aguarde!
Não mais me respeitas?
Não, minha querida!"
E, medonha, mais enfureceu
-- até os dentes rangeu.
Muitas vezes, uma mãe fica assim!..
Então, onde estará o coração materno?
Coração de mãe?.. Oh!, tristeza,
infortúnio total, meninas!
Mãe, figura esbelta, dócil e maleável;
porém, sem um coração.
Se verga a esbelta figura,
as sobrancelhas desbotam,
sem que o percebam; e as gentes
recordarão rindo os anos passados
-- dirão: "ela é vagabunda!"
Chorava muito a Hannusya
sem saber por que.
Não sabia a razão
porque a sua mãe desvanecia,
porque a condenava e a maldizia
-- do seu rebento "em-desonra",
sempre se queixava.
Torturava-se, angustiava-se,
de nada o sofrimento valia:
como uma planta daninha
a menina Hanna crescia...
Como uma rosa-de-gueldres florescia
sob os orvalhos matutinos dos vales.
Sempre corada,
Hanna banhava-se em lágrimas.
"Enfeitiçada!.. Aguarde, pois!
-- murmurava a mãe enfurecida.
Precciso encontrar um anti-feitiço;
Vou procur uma feiticeira, agora!".
Encontrou a feiticeira e
conseguiu o anti-feitiço que,
ao cair da tarde, beber a filha obrigava.
Nada adiantou...
A mãe mais feroz se mostrava, e
-- a hora e o dia, em que à luz havia dado
a maldita, cada vez mais condenava.
"Sufocante; vamos, filha,
banhar-nos nas águas de um lago".
"Vamos, mamãe".
À beira do lago
Hanna despiu-se todinha,
ficou nua e lançou-se
sobre a sua camisola branca;
O pescador de cabelos ondulados,
de outro lado do lago, lânguido suspira...
Também eu, um dia... Longe de mim!
Que vergonha -- não devo pensar.
Como se criança fosse,
distrai-se com rosa-de-gueldres,
retorcendo as suas formas e
relaxando se aquece ao sol.
A mãe observa a filha e,
de raiva, muda fica;
Muda de cores -- amareleja, ora azulea;
Medonha, de pés descalços,
a espuma flui da boca; É quase louca,
tenta arrancar as suas tranças.
Repentinamente, joga-se sobre a filha
e, em suas tranças, se embrenhou.
"Mamãe! mamãe! O que fazes?"
Um maroiço de vagas se encapelou,
ebuliu, um gemido se espalhou --
e a onda, a ambas, abraçou.
O pescador de cabelos ondulados,
com todas as suas forças,
nas águas se lançou; nadou e nadou
-- as águas azuis ao meio rasgou,
Ainda nadou, nadou... Se aproximou!
Mergulhou, emergiu --
e, entre os seus braços,
à beira do lago, o corpo de Hanna deitou.
Com muito trabalho, as tranças macias,
das mãos congeladas da mãe, desembaraçou.
"Coração meu! Sorte minha!
Descerrem-se os olhos castanhos!
Descrtinem a vista e sorriam!
Não quereis!.. Não quereis!.."
Chora e lamenta, ao lado da Hanna;
observando o seu corpo, a beija.
Os olhos mortos estão. "Veja!..
Nada escuta, ela dormiu para sempre!"
Deitada sobre a areia branca,
mãos estendidas -- para os lados; junto a ela
a sua cruel mãezinha quase selvagem:
De olhos esbugalhados,
atormentados pelo sofrer da vida,
com as mãos, envelecidas e cansadas,
entrincheiradas na areia amarelada.
Chorou muito o pescador:
"Sem familiares no mundo.
Quem não teve sorte neste mundo
-- terá vida plena nas águas da morte!"
Levantou a Hanna, beijou o seu rosto...
As ondas gemeram de novo --
abriram-se as vagas e se fecharam.
Nem sinal atrás de si deixaram...
Desde então, o límpido lago
cobriu-se de mato -- carriço pacato;
Ninguém nele mais banhou-se
-- as meninas, ao longe, dele passa;
Se, por acaso, alguma coisa avistam,
com um sinal da cruz se despistam --
evocando o nome da maldição...
Tudo é triste e soturno ao redor do lago...
À noitinha, meninada ouça:
emerge das águas a mãe brava e
senta-se do outro lado;
Muda de cores -- amareleja, ora azulea;
Medonha, de pés descalços,
a espuma flui da boca.
Ela sempre está vestida de camisola molhada.
Calma olha para este lado
É quase louca, tenta arrancar as suas tranças.
Vez em quando, as ondas azuladas da lagoa,
trazem à tona o corpo belo da menina Hanna.
Totalmente nua, ele estremece;
por instantes, senta nas areias brancas...
Depois, desparece.
O pescador vem nadando
trazendo consigo o verde das águas
para colocar sobre a camisola branca
-- aplacando as suas mágoas.
Então beija os olhos dela --
e, também, o sabor da água.
Se despede, vai embora;
com vergonha de si próprio,
por olhar um corpo nu.
Ninguém sabe o que se passa
nas noites serenas do bosque.
Somente os ventos, com os carriços,
murmuram baixinho: "Quem é, quem é,
quem é que senta-se triste nas águas
e, desembaraça as longas tranças?"
03/07/2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Recomendações ao Rev. Nintendo
Colete os apetrechos da tua atuação
e siga o teu caminho da imaginação!
Nada mais tens a fzer aqui entre nós
-- tanto mal causaste. Que situação!
Saudade de ti não teremos. Oh!, não.
Da tua missão, fizeste uma traição --
por que moralista miséria tamanha?..
O caráter da tua postura amarfanha!..
Diluiste os anseios de gente pacata.
Só buscava na fé os seus dias fruir,
porém, com astúcia da soberbia, tu
ousaste os valores seus destruir!..
A tua joranada acabou. Aqui, basta!
Tenha bons dias em outos quintais;
caso encontres alguns, logo mais...
Poderás ser quinteiro?.. É demais?
03/05/2009
e siga o teu caminho da imaginação!
Nada mais tens a fzer aqui entre nós
-- tanto mal causaste. Que situação!
Saudade de ti não teremos. Oh!, não.
Da tua missão, fizeste uma traição --
por que moralista miséria tamanha?..
O caráter da tua postura amarfanha!..
Diluiste os anseios de gente pacata.
Só buscava na fé os seus dias fruir,
porém, com astúcia da soberbia, tu
ousaste os valores seus destruir!..
A tua joranada acabou. Aqui, basta!
Tenha bons dias em outos quintais;
caso encontres alguns, logo mais...
Poderás ser quinteiro?.. É demais?
03/05/2009
quarta-feira, 4 de março de 2009
Quem sou, não sei
Quem sou agora, eu não sei.
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
Apenas sei, que faço coisas,
que jamais fazê-las eu pensei.
Embora pouco saiba o que --
fazer pensando, sempre eu faça,
jamais me deixarei burlar pela
pobreza do saber e da desgraça!
Eu leio livros de autores tais --
cujas idéias não conheço...
Por que fariam mal algum, se
de pensares seus não apeteço?
Porém, idéias suas conhecer
faço mister. Não desmereço!..
Quem sou agora, eu não sei.
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
Assisto aos filmes, pelas TVs.
Programações especiais, que
fazem perder meu tempo à toa;
aliás, abasteço-me de informes
da cultura inútil... Me oriento --
na platéia dos insanos vidiotas,
porque, um deles também sou!
Insiro-me no círculo dos "pobres
de espírito"... Talvez, um dia --
sem que o perceba e o queira,
possa sentir-me realizado. Eu!..
Feliz e satisfeito. Ó, Prometeu!
Quem sou agora, eu não sei.
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
03/04/2009
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
Apenas sei, que faço coisas,
que jamais fazê-las eu pensei.
Embora pouco saiba o que --
fazer pensando, sempre eu faça,
jamais me deixarei burlar pela
pobreza do saber e da desgraça!
Eu leio livros de autores tais --
cujas idéias não conheço...
Por que fariam mal algum, se
de pensares seus não apeteço?
Porém, idéias suas conhecer
faço mister. Não desmereço!..
Quem sou agora, eu não sei.
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
Assisto aos filmes, pelas TVs.
Programações especiais, que
fazem perder meu tempo à toa;
aliás, abasteço-me de informes
da cultura inútil... Me oriento --
na platéia dos insanos vidiotas,
porque, um deles também sou!
Insiro-me no círculo dos "pobres
de espírito"... Talvez, um dia --
sem que o perceba e o queira,
possa sentir-me realizado. Eu!..
Feliz e satisfeito. Ó, Prometeu!
Quem sou agora, eu não sei.
Quem eu gostaria de ser,
também, saber não procurei.
03/04/2009
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