Aqui publicarei os meus escritos ---- versos, poemas e poemetos.
Fico grato, desde já, se você se dignar a lê-los. Ao menos, levemente.
Ao seu dispor, agora e eternamente.
Mykola Szoma
segunda-feira, 30 de março de 2009
"Não Esqueças de Mim" e "Para Osnovyanenko"
Não esqueças de mim
Taras H. Shevchenko
maio - junho 1840
St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Viajarás para longe,
verás muitas coisas;
ficarás admirado, tristeza sentirás, ---
não te esqueças de mim, meu irmão!
Para N. Markevych
Tras H. Shevchenko
9.05.1840 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
Shchoma Mykola Opanasovych
Banduresta, pombo plúmbeo!
Parabens, irmão meu:
tens tu asas, e tens forças,
sob os céus da pátria, para voar!
Estás voando para a Ucrânia ---
ali te esperam. Lá tu vais cantar.
Eu, contigo voaria
--- porém, lá não me conhecem!
Não há quem me recepcione.
Aqui, também sou estranho.
Serei órfão sempre
--- qualquer pátria, que eu escolha,
não terá me ganho.
Então, por que sofre o coração aflito?
Sem família --- solitário,
suspiros aspira pelo rincão ucraniano
--- das estepes e dos vales padece saudades!
Lá os ventos são mais fortes,
como irmãos conversam ---
varrendo campinas;
a topolya lá tem vida e tem liberdade:
suas folhas se espalham
pelo azul dos mares;
lá os mares desmontam a costa
que limita as suas ondas e,
lá Deus a sua glória aposta!
Cômoros das tumbas confabulam ---
lá nas estepes, com todos os ventos.
Tristes lembranças contam ---
eu escuto os seus lamentos:
"Na Ucrânia, antigamente, acontecia algo
--- não terá mais volta.
Deixou, de outeiros, o salto!"
Gostaria eu ter asas
--- voaria para a pátria.
Choraria com os ventos,
lembrando o passado...
Porém, não quis o destino
--- deu me a sorte de ser peregrino.
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N. Markevych (Mykola Andriyovych Markevych, 1804 - 1860) Poeta ucraniano, músico, etnógrafo, historiador. Shevchenko encontrou-se com Markevych, pela primeira vez em 1840, em St. Petersburg.
Bandurysta "Banduryst" --- nome de um poema encontrado na única coleção de poesias de Markevich (Melodias ucranianas)
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Para Osnovyanenko
Taras H. Shevchenko
1839 St. Petersburg
Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)
Quebram ondas as encostas;
cresce a lua sobre as colinas,
como antes sempre crescia...
Não existe mais a Sich, nem
existe aquele que a conduzia!
A Sich não mais existe
--- restos de juncos ficaram, que
às águas do Dnipro,
suspirando, indagaram:
"Nossos filhos estão onde,
para que lugares foram?"
Grasnam gaivotas, alegres voando;
mas a sua voz parece um choro ---
pelas crianças perdidas;
Sopram ventos, o sol encandece:
dos cossacos, a estepe fenece!..
Por todos os campos, das estepes vastas,
espalhados se avistam tristes túmulos kurhany;
Perguntam ao vento e às tempestades:
"Para onde reinar foram os nossos passados?
De que pátria se orgulham hoje,
como banqueteiam --- onde se perderam?
Voltem pronto! Vejam em volta ---
de trigo as searas já amadureceram.
Foi ali que seus cavalos pastos acolheram,
foi lá que, sob os pés, o capim arramalhava e,
foi lá, que do tátaro e do polaco, o sangue deitava.
Voltem já! É tempo!"
"Não, não voltarão! ---
As ondas do mar disseram. ---
Não voltarão nunca; para sempre se perderam!".
É verdade. O mar azul sabe!
Esta foi a sorte deles:
Não voltarão os muito esperados;
nem voltará a liberdade;
nem voltarão os zaporozhtsi
--- não vestirão os hetmany
os seus vermelhos zhupany!
Maltrapilha, ficou órfã.
--- Sobre as margen do Dnipro lamenta.
Triste a vida sua... Ninguém acalenta...
O inimigo ri de tudo...
Ria, ria enquanto podes!
Mas, não ria muito. Tudo finda
--- honra nossa ainda vive!
Não morremos... Voltaremos.
Contaremos o que vimos e o que fizemos,
qual foi a verdade e quem mente à toa ---
De quem somos filhos. De quem, a coroa.
Nossa duma, nosso canto
são eternos, não perece o seu objeto...
Junto ao povo a nossa glória:
A glória da Ucrânia!
Sem enfeite de ouro e de prata,
sem pedras preciosas.
Sem a lingua jactanciosa,
mas vivaz na fala:
verdadeira e clara.
Assim é --- confirma a história e,
também, os otomanos.
Sempre falo a verdade;
mesmo que não tenha eu talento!
A verdade sempre vence, qual for o advento.
Mais ainda
--- nos rodeia a Moskovshchyna,
tudo nos é estranho.
"Não compactue", --- poderás dizer-me:
Disto o que resultaria?
Farão pouco caso, do teu choro raso,
que em teus prantos lhes darias.
Zombarão da sorte tua...
Viver junto a eles, não concorde!
Derrotá-los quereria, se um poder tivesse.
Se a força dos meus anos assim o pudesse.
Cantaria, então, em versos, o poder da glória
--- pagaria os meus gastos ao som da vitória!
Perambulo pelas neves, abrindo caminhos:
"Mas não façam muito barulho --- ó, varzeas e prados!"
Além disso, mais não posso.
E tu, bem o sabes:
quando detens força, o povo respeita.
Tens palavra firme --- o seu canto é notório;
conte lhes as glórias --- da Sich, dos kurhany,
cada qual quando ergueu-se
e quem dorme calmo em seus "aposentos".
Conte a história dos tempos remotos,
os milagres que houveram e sumiram
nos idos de outrora. Conte ao mundo.
Que todos escutem! Porque a Ucrânia
morreu tantas vezes... Porque a glória
dos cossacos sempre a levantara!..
Otomano, águia plúmbea nossa!
Deixe que eu chore ---
que relembre a pátria minha,
se possível, que a ela retorne
p'ra ouvir do mar as ondas
segredar aos ventos
como a morena de olhos castanhos
sob a sombra dos salgueiros
cantarola "Hrutsya".
Que se alegre, em terra estranha,
o meu coração pacato;
antes que se estenda, para sempre,
numa tumba, num anonimato.
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Osnovyanenko (Kvitka Hryhoriy Fedorovych, 1778 - 1843) --- Um clássico da prosa ucraniana. Osnovyanenko era o seu pseudônimo. Escrevia ucraniano e em russo. Foi um dos primeiros a congratular-se com a publicação de "Kobzar" de Taras H. Shevchenko.
"Quebram ondas as encostas" --- O poeta
teve em vista as encostas da ilha "Fortytsia" do rio Dnipro.
Sich (Zaporizhs'ka Sich) ---
Sich (fortaleza) dos kozaky de Zaporizhzhya, que tinha suas instalações principais na ilha de "Fortytsia" (séc. XVI - XVIII).
kurhany --- pequnos outiros, com vegetação rasteira, sobre os túmulos
duma --- idéia (pensamento). Pode significar "Conselho Nacional" de Estado.
Moskovshchyna --- tudo o que se refere a Moskoviya (suas terras, seu povo, sua lingua). Moskoviya era o nome original da Rússia.
Hrytsya --- Canção popular deste nome.
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03/30/2009
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