terça-feira, 31 de março de 2009

Pensamentos meus, pensamentos

Taras H. Shevchenko
1839 St. Petersburg

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- desgraça sois vós para mim!
Por que vos transformastes,
sobre folhas amorfanhadas,
em fileiras tristes, assim?..

Por que o vento não espalhou-vos,
como poeira, pelas campinas?
Por que a sorte não adormeceu-vos
como se infantes fosseis
em noites de encantos?..

A sorte ingrata trouxe-vos ao mundo
para que o mundo risse, como
se estivesse rindo de um vagabundo.

Lágrimas caidas, não vos resgataram
--- pouco a pouco, quase afogaram!..

As ondas azuis dos mares, por que
não vos destroçaram --- espalhando,
como cinzas, pelas estepes?
Depois, dizer poderiam --- aos homens,
para que nada indagassem
dos meus sofridos dias...

Por que maldigo eu a minha sina,
saber ninguém precisa. Ela é minha!
Por que sou vagabundo?
"Porque eu nada faço"
--- De mim não riam! Não sou do mundo.

Flores minhas, meus infantes!
Por que cuidei, por que amei vossas idéias?
Haverá no mundo quem chore tanto,
quanto eu chorei convosco?..

Lembro, agora...

Há sim... --- Talvez seria um coração
de uma morena, de olhos castanhos,
que choraria, mais do que tudo,
debruçada sobre estes
meus pensamentos estranhos.

Satisfeito fico.
Que elogios tamanhos!
Uma lágrima dos olhos dela ---
sinto-me senhor de tudo!
Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- desgraça sois vós para mim!

Pelas sobrancelhas negras,
pelos seus olhos castanhos
o coração meu palpita
--- parecendo escapar possa
e, os pensamentos meus,
só dela conversam,
só dela sorriem ---
em verso, em prosa.

Pelas noites negras,
dos jardins de cerejeiras verdes
e dos olhos meigos dela,
pensamentos meus vagueiam...

Pelas estepes, pelos kurhany,
que se estendem pela Ucrânia,
navegar meus pensamentos ---
cantar versos, como eu poderia
em terras distantes e estranhas.

Reunir kozky, com suas bulava
e bunchuhy, para um Conselho
--- o meu coração não desejaria,
sobre alguns montões de neve...

Que as almas dos kozaky
respeitadas sejam ---
na Ucrânia livre,
de ponta a ponta...
Como aquela liberdade,
que um dia houve e,
que já passou:

Dnieper largo --- o mar nosso,
estepes e campinas, e
o gemido dos escarpados,
os sepulcros --- montes, kurhany. ---
Assim nasceu e se escudou
a livre vontade dos kozaky.

Da nobreza gente --- dos tártaros,
cobriam-se os campos ---
os cadáveres dormiam
um gélido sono . E, ambos,
a Ucrânia e a sua liberdade,
ao sono se deram...

Ergueu-se uma sepultura, em forma de colina
--- nasceram outeiros, nasceram kurhany.
Sobre eles, suas asas, uma águia negra estende
--- uma guarda sempiterna, até parece, que os defende.

Os kobzari tudo contam,
para que o povo saiba ---
como éramos antanho...
Como somos hoje.
Eles sabem porque cantam...
Mas eu, cá comigo
--- choro apenas, sem nenhum abrigo.
Choro apenas, palavras não tenho...
Fugir do infortúnio, é o que feito eu tenho!
Mas quem não o faria
se de alma este mundo apreciasse.

--- Veria um inferno em tudo.
Haveria quem o aplacasse?..
E lá, do outro mundo,
haveria quem lhe acenasse?

Não terei sorte alguma
--- nunca a tive, por causa nenhuma.

Que os pobres vivam
não mais que três dias;
guardarei seus corpos numa sepultura.
A serpente brava manterei comigo,
para que não tenham do veneno a fonte.
P'ra que ninguém saiba como ri a morte!..

O meu pensamento, que voe ligeiro.
Como águia crocite; enquanto
o coração chora, fechado em masmorra.

Não enchuguem os meus olhos,
minhas lágrimas não secam ---
elas regam as campinas
de povos estranhos.
Haverá o dia, quando a terra de outrem
servirá de uma cortina leve, e apenas...
Até lá, fazer-se o que há de?..
Não se vive de tristeza.
Quem de um órfão tem inveja,
que Deus o castigue!

Pensamentos meus,
meus pensamentos
--- flores minhas, meus infantes!
Cultivei-vos, tornei-vos robustos,
--- o que farei de vós agora?

Mandaria-vos para a Ucrânia
para que vagasseis órfãos ---
órfãos sós de tudo,
e dormisseis sob a cercas
dos bordeis imundos?..

Vades sós... Sim!
Mas eu não --- não posso!
Ficarei aqui. Aqui me termino.

Encontrareis um abrigo
num coração prestimoso
--- de fala amável e mui carinhoso;
lá tereis toda a verdade e,
talvez, algum punhado de glória...

Minha Pátria!
Ó, minha mãe Ucrânia!
Acolha os infantes.
São travessos, irrazoáveis e, muito pedantes.
Mas eles são teus, porque são meus filhos...

São meus pensamentos errantes.

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bulava --- Bastão, um símbolo de autoridade maior
bunchuhy --- Um bordão tendo, uma das extremidades (inferior), ou ponteaguda, ou arredondada; na outra extremidade (superior), uma mecha de crina de cavalo. Era o símbolo de autoridade dos
"hetmany" e dos "otomany"

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03/31/2009

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