Sergei Orlov
Stikhotvoreniya. Rossiya -- Rodina Moya
Biblioteca de Poesia Soviética Russa
Moskva 1967
O Pão Comunal
Tradução de Mykola Szoma
Desde a infância eu vivi em comuna
P'ra lá de Byisk nos montes de Altai.
Sob o vasto céu do distante junho
estendia-se o espaço de suas terras.
Ali, como se num verde oceano,
tudo era comum em suas minúcias:
Quintais, casas, também a "banha"
-- comum aos homens e mulheres.
Desvios havia -- era bom estar atento.
Porém, não quero julgar aqueles dias;
apenas vejo com os olhos de criança.
Tenho um olhar indulgente ao feito ali.
"Serebristy", azuis, nuvens estenderam
um manto fresco em tempo de calor --
Fontes do brilho dos álamos radiantes
que se vergavam, sob o vento comunal.
Sobre um fundo azulado, imponentes
montanhas, formavam as cordilheiras.
Entre a bardana e a relva, se agitavam
como flores: eram pássaros. Voavam!
Tirlintava a forja na outra banda do rio.
Entre nós, alguém mentia, que ali
o sol cansado, às tardes, se escondia.
E pelas manhãs, aos ceus logo subia.
No campo de instruçoes, o dia todo --
aos ventos, subia fumaça pelo telhado.
Mal construido, já muito gasto pelo uso,
ali pairava firme e alto um longo prédio.
Na entrada, agradável cheiro de alimento.
Piso todo branco, estende-se ao longo...
As mesas, com as suas pernas abertas
abundavam pães -- que iam até as portas.
Trepidava, cortando a casca crepitando...
Todo esmigalhado, qual metal enferrujado,
o redondo pão ruborizado -- ainda retinha
as marcas da folha de repolho debaixo...
Sobre as duas palmas grandes, de fato,
ele tinha sido assado pelo fogo do forno.
Guardava as suas marcas desiguais
-- todas as nervuras, linhas, e raios...
Igual para todos, o pão gratuitamente --
O pão comunal, como uma sombra e luz.
Sobre mesas longas, aplainadas, e sem
bordas, não pintadas. Na hora do almoço.
Havia o pão para o café e para o jantar;
Mas, para nós -- da rapaziada, só o arado
-- correr ao lado dele, quando se o precisa.
Com ele o sal, com ele o verde cebolinho.
Em latões velhos de flandres, já empanados,
transporta-se "obrat", tipo de leite desnatado.
E banqueteia-se, quando se tem a vontade!
Tudo distante dos risos de crianças felizes...
Rapidamente voaste -- O!, meninice nossa...
Não mais se ouve o balouçar de tuas asas.
Porém, a vida deixa sempre a consequência
-- dela jamais esquecerei. A minha vivência!
O pão comunal. Sob os pálidos ceus azuis,
eu o comi não mais de uma vez... Depois --
uma "bukhanka khleba" (um pão de forma),
cortava-se em cinco, como trofeu de espada.
Com mãos encouraçadas, juntava-se migalhas
-- todas já congeladas, como se neve prateada,
sob a artilharia antiaérea e bombardeamentos.
Como se a vida fosse a morte; e o bem, o mal!..
O pão era duro. Fora assado com fogo e dor.
Era como a própria lágrima. Mas, para a vida
jamais se mostrou amargo... Nem uma vez --
Mesmo ainda na infância. E na guerra depois.
Tenho por felicidade pessoal, exclusiva,
tudo aquilo que a vida doou para mim:
O pão comunal e redondo, feito de trigo,
e o vento forte, que sorpou em Outubro!..
1957
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"banha" ---
estabelecimento de banhos coletivos
"Serebristy" oblaka ---
nuvens bastante tênuas, alt. de 70 - 90 km,
num fundo de um céu noturno
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