quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O recordar dos anos 30 de 1900

Naqueles dias sombrios não se notava a fome.
Pois, era tão presente ela, que o não comer era o normal!
Nem a barriga mais roncava, acostumada que estava
ao "eterno" vazio das tripas.
-- E reclamar para quem e por que? A fome era o normal...
O demais, não passava dos descuidos -- o "sophistiquer!"
de "La Révolution française" -- "à chaque étape"... na terra
dos russos mujique. Derruba-se o reino, em nome de que?

E por que? -- Não responda... Não quero saber!
Qual foi o motivo de tantas desgraças,
na terras dos homens que mais pareciam escravos...
Perderam seus sonhos e seus dias, sem se notarem --
todos passaram, à história, como herdeiros de bravos!..

Cada ser humano,
sentindo-se um desumano,
via no seu semelhante
restos de uma civilização ruindo.
Em cada semblante
reflexo de um rosto disforme
marcado pelo excesso de ossatura
geometricamente irregular
-- apenas cadavérica se via, sem respirar.

Cada corpo que se deslocava,
pelos corredores estreitos da vida,
parecia ser um arcabouço desajeitado
de silos corroidos, dos velhos asilos,
em processo de uma lenta destruição.

Não se houvia prantos... Não os havia.
O chorar não adiantava nem importava
-- a ninguém interessava.
Eram os mujiques russos. E bastava!..
Os sentimentos se desfizeram como fumaça.
O homem rude (que um dia era) perambulava
pelas esquinas da desfeita. Procurava algo --
não achava. "Morte" o buscado se chamava!

Das dez pragas do Egito
a primeira, no cavalo amarelo do quarto selo,
então vingava. E, o cavaleiro do cavalo negro
bestamente cavalgava: como foice e martelo,
firmes na mão, a todos ceifava. E cavalgava!
A fome que era fome de verdade, a todos os
espíritos e a todos os sopros vitais domava!
E todos choravam,
apenas a fome não chorava,
porque não tinha lágrimas --
porque não sentia e não via!
Ela não via, o que se dizia...

Dizia-se à boca pequena --
e todos, pequenos e grandes,
sem terem visto o selo da besta
sentiam sobre os seu ombros
uma ira divina,
mas não os ocidentais -
"a ira dos deuses e dos anjos também
que nos castigue à vontade, porém
não nos jogue além do além! Amen!.."

Anos trinta
foram anos medonhos!.. Tão longos, que
jamais terminavam e, cada vez mais,
os homens que os vivenciavam -- animais
irracionais se tornavam. Não choravam!..

A fome grassava.
Dominava os espaços vitais.
Os campos, que antes floriam,
sem chuva secavam -- não verdejavam mais.
A culpa não era do tempo e sim, dos iguais.

Parreiras murcharam,
seus frutos não deram.
Os trigos tombaram,
não mais vegetaram.

De sede cairam os viventes mortais e,
fracos sumiram no meio dos ossos insossos.
Naqueles dias dos anos sombrios da fome
viveram a morte total os mortais. Todos
sentiram o Apocalipse na carne. Eram assim
de Deus os sinais? E eram severos demais!..

Naqueles anos nauseabundos
cada ser humano via
no semblante do seu semelhante
restos putrefatos de uma civilização ruida.

Não estaria sendo
a "Revolução Francesa" vencida?

12/17/2009

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