quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O seu nome é qualquer

Pelas ruas vazias,
de um bairro vazio,
de gentes sem posse,
desliza, desliza
-- desliza tranquilo,
numa noite vazia,
um vulto qualquer.

Uma sombra macabra
seus ombros envolve,
num manto espesso,
de fome, de sede
-- de sede e de fome,
numa noite vazia,
noite sem lua, sombria também.

O vulto aos poucos se move.
Não anda, se arrasta...
Com nada contrasta;
nele, quase nada há.

É um anicão cansado.
Cansado se arrasta --
cansado da vida sem vida!
Outrora famoso, agora esquecido.
Perdeu-se na vida,
farejando um pedaço de pão.

Seu nome é "garrincha" da Silva Fulano;
mas, pouco importa
-- o seu nome é qualquer

Apoiado numa bengala
feita de um galho torto,
de uma árvore qualquer,
o vulto se move, desliza
na noite vazia
sem lua, sombria também.

Ainda bem que há árvores de galhos tortos
e, há os fazedores de bengala -- aos montões!

Há uma árvore mais adequada às bengalas
-- a bengala das matas do Brasil
Os bengaleiros mais ousados,
os bengaleiros marcheteiros,
artífices veros da arte de bengalas construir.

Porém, a bengala do ancião cansado,
que pelas ruas de um bairro vazio
-- de gentes sem posse, deslizava,
era bem simples...
Era de um galho torto
de uma árvore qualquer.

Era uma bengala qualquer
que apoiava um ancião muito cansado
-- um ancião de nome qualquer!

02/18/2009

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