quinta-feira, 30 de abril de 2009

Haidamaky --- Os Terceiros Galos

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

De novo, a Ucrânia foi escravizada
--- malditos lyakhy. Mais uma vez.
Mais uma vez entristeceram-se: a
Ucrânia toda, com ela o Chyhyryn.

Mais uma vez passou-se Makovia
--- o grande dia festivo da Ucrânia.

Também, passou toda a nobreza ---
os vendilhões profanos e desumanos.
Se embeberam de sangue humano;
mas, em taças de vinho se afogaram.

Baniam os cismáticos. Crucificavam.
Odiavam!.. Nada mais podiam tomar.
-- Os haidamaky, esperavam calmos,
até que os ladrões fossem sonhar...

Deitaram-se os inimigos. Não sabiam,
que outros dias não mais veriam. Não!

Adormeceram para sempre os lyakhy.
Contavam dinheiro ainda, os traidores.
Ninguém do povo os conhecia. Agora,
o seu ouro as suas cabeças encobria.

Todos dormiram para sempre...
Pois, que tenham um sono eterno leve!

Neste instante, a lua navegava tranquilo.
Os ceus, as estrelas, a terra, os mares,
refletiam a luz do luar. As gentes agiam
de tal modo, que Deus não podia ignorar.

A face prateada da lua, espargia sorrisos
sobre as estepes da nossa terra Ucrânia;
iluminando ... e, talvez tenha visto a órfã:
a pobre Oksana --- lá de Olshana. Será?

Pode estar ela submissa, gemente de dor.
Yarema não sabe? Não sabe, nem ouve?..
Saberemos depois. Agora, ouçamos esta.
Tocarei, cantando outra
--- não é o cantar de mulheres,
é a dança dos cossacos que vai ecoar.

Eu canto a desgraça do país cossaco!..
Ouçam e aprendam --- cantem aos filhos;
que os filhos escutem, cantem aos netos
de como os cossacos baniram os lyakhy,
porque não souberam honrados governar.

Murmurava a Ucrânia,
lastimando-se murmurava
--- muito tempo se deplorava.
Pelos séculos a fio
as campinas das estepes,
com o sangue de seus filhos
--- como rios, irrigava.
Muitos anos se passaram,
té que os rios todos secaram.
As campinas ainda verdejam;
sobre elas, espalhados,
os grandes túmulos pretejam
Pouco importa que são altos;
ninguém os conhece!..
--- São kurhany!
Azuis como nuvens densas
--- caidas restaram,
após as tempestades
que um dia passaram.
Ninguém chora
por seus ocupantes
--- ninguém se lembra deles.
Somente uma brisa leve,
sobre a lájea se estende;
somente a orvalhada
a sua lágrima enchuga
no floral da tumba.
Ao calor do sol,
tudo se transforma
--- nem orvalho, nem a brisa
deixam restos. Viram sombra.

E os netos?
Não são coisas deles
--- são escravos de senhores.
Embora que muitos,
mas ninguém conhece
quem era o Honta e
onde lhe fazer uma prece.
Em que tumba
Zaliznyak foi sepultado?

É um triste pesadelo!
Verdugo tomou a conta
de um povo inteiro ---
marasmo invadiu as mentes:
ninguém mais se lembra
dos bravos cossacos.

Murmurava a Ucrânia,
lastimando-se murmurava
--- muito tempo se deplorava.
Pelos séculos a fio
as campinas das estepes,
com o sangue de seus filhos
--- como rios, irrigava.
Dias e noites eram de gritos e
de troadas de canhões --
a terra toda estremecia...
Tristeza vem à memória,
enquanto o coração sorri.
Iluminada lua minha! Tu,
que lá no alto estás pindurada,
esconda-te por trás dos montes
--- não queremos mais o teu brilho...
Veja o sangue derramado nas águas
dos rios Ros e Alta e, do rio Sena.
Um vasto mar de sangue... Por que?

E agora! Faremos o que!?
--- Vamos esconder-nos
por trás dos montes,
para não termos de chorar,
quando a velhice nos abraçar!

Nos confins da abóbada celeste
brilha a lua solitária; junto às margens
do Dnieper largo, vagueia o cossaco --
poderá estar saindo de uma noitada.
Os seus passos lentos dizem
que está muito cansado... --- Poderia
estar levando o fardo de ser despresado.
Só no mundo e é pobre.
Como, alguém assim, seria amado?
Disse ela que o amava
--- pouco importava que andasse
todo remendado. O amor era velado.
Esperasse mais um pouco,
que a sorte haverá de ter chegado...
Porém, o coração chora ---
pressentindo algo doloroso;
poderia ser o que?
Sem resposta, por amor implora!

Passou a desgraça e todos silenciaram.
Parece que partiram para outras plagas.
--- Nem sombra de si deixaram.
Os cães não mais latem,
os galos não cantam;
somente, por trás dos montes,
de alguns lobos, os uivos se ouvem.
Pouco importam dos lobos os uivos.
São os passos vagarosos do nosso Yarema!
--- Seu destino não é a Oksana em Olshava.
Não é este o dilema!
O Yarema se dirige até a Cherkassy ---
quer falar com os infieis lyakhy.
Os terceiros galos agora cantaram...
As margnes do Dnieper largo,
aos olhos do Yarema, se magnificaram.

"Ai! Dnipro, meu Dnipro largo e poderoso!
Muito sangue cossaco tu já levaste para o mar
--- levarás mais ainda, fiel amigo!
Avermelhaste as azuis águas;
porém, não te saciaste...
Mas esta noite serás embriagado.
Esta noite: um infernal dia santo,
por toda a Ucrânia, ressoará.
Muito, muito, mas muito sangue
--- um sangue da nobreza lyakhy
pelas estepes verdes correrrá.
Ressussitarão os kozaky; também,
os hetmany, em seus dourados zhupany.
"Não haverá mais taverneiro,
nem haverá nenhum lyakhy;
--- nas campinas das estepes
apenas o brilho da bulava se verá!"

Oh! meu Deus... Assim será?

Andava, pensando assim, o mal vestido Yarema,
segurando um tarani bento em suas mãos.
O Dnipro fingiu estar ouvindo o seu pensamento e
levantou vagas enormes de ondas azuis,
tangendo, com chibatas de juncos, as margens
cobertas de salgueiros... E, não mais parou!

Os trovões se enfureceram,
relâmpagos se incendiaram.
De ponta a ponta, as nuvnes se rasgaram.
Não notaram que o Yarema
de tão pensativo, deles nem se apercebia
--- só pensava na sua Oksana. Ela sofria?

"Está longe a minha querida.
Não a vejo... longe dela.
--- Ela de mim lembra?..
Talvez, nunca a veja!"

Lá ao longe... Lá daquele vale,
ouve-se o canto dos galos --- ku-ku-ri-ku!

"E Cherkassy!.. Deus querido!
Que ainda eu chegue a tempo!"

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Cherkassy --- Cidade às margem do Dnieper (nome antigo, hoje: Dnipro)
zhupany --- Vestimenta tipo casaco longo
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04/30/2009

Haidamaky --- Festividades em Chyhyryn

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Senhores, nossos hetmany! Que tal se vos levantasseis.
Que tal se vos levantasseis para verdes aquela Chyhyryn
que vós construistes --- na qual festejos celebrastes!
Terieis chorado tanto... Não terieis reconhecido,
nem um puco, das glórias dos kozaky, nas ruinas
que apenas restaram dela.

Aqueles espaços, parecia um mar gigante vermelho,
ocupados pelos exércitos, diante de seus bunchuky
--- em tempos idos. Parecia tudo em brasas queimar.
E, quando o todo poderoso, em seu cavalo murzelo,
a sua bulava menear --- o mar se põe a flamejar...

Do mar as águas fervem e se esparramam
pelas estepes e pelas encostas ---
a desgraça não sobrevive diante delas.

E os kozaky...
O que dizer-se há de? Tudo passado;
e, tudo aquilo o que passou,
não se recorda, irmãos-senhores,
para que não se saiba nada dele...

Mas, que proveito haveria, se o recordardes?..
Tereis lembranças tristes e chorareis. Tão só!
Porém, valeria a pena darmos um olhada na Chyhyryn
--- antiga cidade sede dos cossacos.

Lá dos bosques, por entre as brumas,
a lua prateada se apresenta ---
vez por outra, avermelhada se mostra,
de face redonda parece em brasa; não
apenas brilha --- como que sabendo
que a sua luz, ao mundo todo,
pouco ou nada representa:

Que as labaredas dos incêndios
iluminarão e aquecerão
as terras vastas da Ucrânia.

Já entardecia... Em Chyhyryn
silenciava tudo --- parecia um ataúde.

Melancolia e tristeza (Assim sentia-se,
por toda a Ucrânia, na noite de Makoviya,
quando as facs se afiavam e se benziam).
Não se ouvia o povo: a praça toda vazia,
apenas morcegos se divertiam; e,
nos pastos das estepes, corujas chirriavam.

Mas onde está o povo? Junto ao Tyasmyn
--- numa densa floresta.
Reunidos: velhos, crianças, ricos e pobres;
aguardam o dia de grandes festejos.

Numa densa floresta, no verdejante carvalhal,
com os seus cavalos amarrados pastando,
os kozaky selam os seus elegantes murzelos.
E... já estão todos de prontidão.

Para onde irão eles? Consigo a quem levarão?

Vejam só, quem está com eles!
Estenderam-se, pelas brumas do vale,
como se mortos estivessem. Nada se ouve...
Eles são os haidamaky.
Ao lamento da Ucrânia, os corvos se reuniram;
levarão para os lyakhy o castigo ---
uma vingança pelo sangue que derramaram e,
pelos incêndios que promoveram.

Receberão em troca --- dos haidamaky,
o nobres lyakhy, chamas ardentes do inferno.
--- Jamais se brinca com os kozaky!

Na encosta, de uma colina de carvalhos,
estacionavam carroças cheias de tarani.
Disseram:
"... era um presente da bondosa senhora "

Sabia ela o que presenteava ---
nada pois a reclamar.
Que ela continue a governar;
não se injurie, antes de ouvir!
Entre as carroças, não espaço onde parar:
parece até de pásaros um bando, vindos
lá de Smilyanshchyna e lá do Chyhyryn.
Eram cossacos de toda ordem
--- simples soldados, starshina;
tratar de assunto singular se reuniram...

Todos de túnicas pretas, como se fossem um
--- eram os maiorais dos senhores kozaky.
Confabulavam, andando de um lado ao outro...
Vez outra, apontavam para o Chyhyryn.

Depois, um a um:

Starshyna Um:
O Velho Cabeçudo algo está tramando.

Starshyna Dois:
Cabeça inteligente, fica no seu vilarejo, parecendo nada saber; mas,
quando percebes --- Holovatyi está em todo lugar. "Quando sozinho
não consigo dominar, --- diz, --- ao filho repasso".

Starshyna Três:
O filho também é um mestre! Ontem eu encontrei-me com Zaliznyak.
Contou-me ele a seu respeito, que é dele só! "Diz que um dia será um
Koshovyi; talvez, até possa ser um Hetman, caso ..."

Starshyna Dois:
E para que Gonta? e Zaliznyak? Para o Gonta, pessoalmente..." ela escreveu:
"Quando, --- dizendo..."

Starshyna Um:
Silêncio, por favor; parece que estão telefonando!

Starshyna Dois:
Não é não; é o povo que está alvoroçando.

Starshyna Um:
Estão se alvoroçando, até que os lyakhy ouçam.
Oh! Cabeças velhas e inteligentes: quanta imaginação; maquinam tanto até que conseguem
fazer da relha uma sovela. Quando se pode ter um saco, não se pede a sacola. Comprastes armorácia, então deveis come-lá; que chorem os nossos olhos, embora tenham de sair para fora das suas órbitas: viram o que compraram; dinheiro não se perde à toa!
Geralmente, temos pensado muito --- mas, não em voz alta, nem em voz baixa; porém, os lyakhy acabam por desconfiar de nós --- eis no que consiste o segredo, em ficarmos a ver navios! Que Conselho é aquele? Por que eles não se comunicam conosco? Como seria possível fazer o povo se calar, para que não se alvoroçasse? Não são dez pesoas apenas; mas, graças a Deus, toda a Smilyanshchyna, quando não toda a Ucrânia. Ouçam! Estão cantando. Deu para ouvir?

Starshyna Três:
É verdade. Alguém está cantando. Vou silenciá-los.

Starshyna Um:
Não, não os silencie. Apenas, que cantem mais baixo.

Starshyna Dois:
Ali, parece que é o Volokh! Não aguentou o velho bobalhão; precisou cantar e pronto!

Starshyna Três:
Mas, o seu canto é inteligente! E sempre uma canção diferente. Acheguemo-nos sorrateiramente, para ouvirmos melhor --- enquanto aguardamos o telefone tocar.

Starshyna Um e Dois:
E, porque não? Vamos!

Starshyna Três:
Muito bem, vamos.

Os dois se aproximaram --- esconderam-se por trás de um sobro. Sob a castanheira
sentado, o cego kobzar cantava; à sua volta, os kozaky zaporozhtsi e os haidamaky.
O kobzar, em tom de melancolia e em surdina cantarolava.

Kobzar:

"Ai! valáquios, valáquios,
de vós poucos restaram;
E vós, moldávios,
agora não sois mais senhores.
Vossos senhorios
aos tártaros se venderam
--- aos sultãos dos turcos.
Estais agrilhoados
--- oprimidos e subjugados!

Não vos entristeçais;
façais uma reza boa,
irmanai-vos conosco
--- nós somos kozaky.
Lembremo-nos juntos de Bohdan,
o velho hetman nosso.
Então, sereis livres
--- senhores de si próprios.

Assim, como nós,
com as vossas tarani bentas,
tendo à frente o pai Maksym
--- com a Sich nossa,
juntos faremos bailar
dos lyakhy a nobreza.

O bailar será tamanho
que o inferno rir-se-á de si.
A terra toda tremerá... E...
o céu, de ponta a ponta, se inflamará...
Que grande baile, este será!"

O Cossaco
Dançaremos! Canta verdade o velho; mas, será?
E se ele não fosse o volokh, que kobzar seria dele!

Kobzar
Realmente, não sou volokh. Há muito tempo estive em Voloshchyna; daí o povo
chamar-me de volokh --- nem sei porque.

O Cossaco
Não importa. Cante mais uma. Talvez alguma sobre o pai Maksym!

O Haidamaky
Não muito alto, para a starshyna não ouça.

O Cossaco
Mas o que tem com isso a starshyna? Se ouvir, escutará; caso tenha com que ouvir.
Vamos lá. Nós temos um só starshyna --- o pai Maksym. Quando este ouvir, então
até nos pagará. Cante nos, o velho de Deus; não ligue para o que ele diz.

O Haidamaky
Mas é assim mesmo, o homem; disto eu sei também. Porém, o negócio é: não assim
os senhores, como o são os subordinados, ou --- enquanto o sol não aparece, o orvalho
carcome os olhos.

O Cossaco
Mentira! Cante, o velho de Deus; qualquer que sabes. Senão, adormeceremos.

Todos juntos
Verdade, adormeceremois. Cante-nos qualquer uma.

Kobzar (cantando)

"Voa águia cinzada
sob a abóbada celeste;
Pelos bosques das estepes
passeia o pai Maksym.
Voa águia cinzada,
atrás dela vão os filhotes;
Pelas campinas passeia o Maksym,
atrás dele vão os rapazes.
São seus filhos, crianças suas, ---
pensa assim em se indagando:
Melhor será beber, ou será matando?
Talvez, dançar --- então começam a
bailar, até que a terra toda trema e,
o riso se estabeleça, sem descanso.

Hidromel, vodka; não de cálice ---
mas, de concha-púcaro se bebe...
O inimigo, de olhos fechados,
do caminho se espaneja.

Assim é o otomano
--- nossa águia cinzada!
É guerreiro, e se diverte,
mas com toda a força ---
A sua morada será sempre
à sombra de um sobro.
Não tem ele nem choupana,
nem jardim, nem lago pequeno...
Estepes abertas e mares azuis
são o seu caminho! Todo ele ---
é o seu ouro e a sua glória.
Estremeçam pois, hostis lyakhy,
cães ferozes e cruentos...
--- Zaliznyak vai ao encontro
e o seguem os haidamaky".

O Cossaco
Isto é o suficiente! Basta: nada há a completar, verdade.
Muito bem cantado! O que se quer, isto pode-se cantar. Obriagdo, obrigado ---

Haidamaky
Temo, parece-me algo não estar claro. O canto dele foi sobre os haidamaky?

O Cossaco
Como tu és besta, na verdade! Não ouviste que o canto dele foi sobre os lyakhy?..
P'ra que estes cães raivosos --- os pagãos, se arrependessem; que o Zaliznyak está
chegando, e que vem seguido pelos haidamaky. Que os lyakhy serão exterminados...

Haidamaky
Serão enforcados e torturados! Isto é bom..., por Deus, muito bom! É assim mesmo!
Pagaria até uma moeda, se não a tivesse gasto em bebida ontem! Pena! Pois então que a velha tricoteie, haverá mais carne --- Debita na conta, por gentileza, amanhã darei o troco.
Cante mais uma sobre os haidamaky.

Kobzar
Não me achego ao dinheiro. Quero apenas que me ouçam, enquanto não me tornei rouco.
Se enrouqueço --- um cálice de água benta, um segundo e, depois, aos meus cantos me arremeto. Ouçam, do começo:

"Dormiam os haidamaky
nas verdejantes florestas;
seguros, pastavam os cavalos,
todos selados e de prontidão.
Também dormiam as senhoras
com os senhores lyakhy
em seus aposentos
ao lado de bebuns e taverneiros.
Encheram a cara de vodka e,
se ..."

Todos
Pessoal, silêncio! Parce que estão chamando. Ouçam! Mais uma vez... ó!

"Tilintou o telefone, tilintou!"
--- ecoou o som pela floresta.
"Vamos, gente. Rezem todos
--- eu termino o meu canto
já andando, pelo caminho".

Largaram-se à estrada,
só se ouvia o gemer dos sobros.
À mão, o mais simples ---
carregar tudo nas costas.
Apetrechos dos haidamaky
transportar pelas carroças.

Segue atrás, cantando,
o Volokh de novo:

"Dormiam os haidamaky
nas verdejantes florestas..."
Claudicante, cambaleia,
já sem sentido murmura.

"Cante outra, santo velho!" ---
As carroças já nas costas,
quebradas não andam.

"Está bem, meninos! Esta agora!
Assim, assim! Muito bem, meninos!
Vamos, firmes!.. Corvos altaneiros!
Todos dançando!"

O chão geme --- a terra se contorce.
Os haidamaky, com as carroças,
dançam tanto que a poeira estremece
e o Kobzar toca.

E, ainda cantando:

"Oi! Hop taky tak!
--- o cossaco chama a Handzya:
"Venha Handzya, vou beijar-te.
Vamos Handzya até o padre:
lá, vamos a Deus rezar.
Não há trigo nem um pouco,
podes cozinhar lentilhas".
Casou-se o cossaco, ficou triste ---
nada tem na vida.
Os filhos dormem na sarapueira
--- o cossaco sempre canta:
"Na choupana ty-ny-ny,
na despensa ty-ny-ny;
linda esposa minha ---
se tiver, asse-me uma tenca,
ty-ny-ny, ty-ny-ny!"

"Muito bem! Muito bem!
Mais uma! Mais uma!"
Gritaram os haidamaky.

"Ui! Ai! Eis a graça!
Fermentaram a bebida os lyakhy;
mas, nós vamos embebedar-nos
--- serviremos aos senhores nobres,
desfrutando das suas senhoras...

Oi! Hop taky tak!
O cossaco chama:

"Minha senhora, meu passsarito!
Minha senhora, sorte minha!
não tenhas vergonha --- dê-me a tua mão.
Passearemos um pouco juntinhos.
Deixemos que os outros tenham sonhos ingratos
--- juntos cantemos uma linda canção.
Sim! Uma linda canção.
Sim! Uma linda canção.
Sim! Uma linda canção.
Minha senhora, meu passsarito!
Minha senhora, sorte minha!"

"Mais uma vez, mais uma!"

"Ora assim, ora assado;
seja lá como for.
Mas que seja um cossaco,
e que seja o moço jovial ---
que ao menos dentro de casa
tenha-me para o seu festim.
De um velhote eu tenho medo
--- um folgazão, comigo não...
Ah! Se um jovem houvesse,
e que me amasse. Assim..."

"Eh-eh!, seus doidos. Não enraiveçam!
Porque exaltar-se assim! E tu,
velho cão bravo, rezas porque
fizeste asneira com as pagãs!
Para os diabos! Fechem a boca!"
Gritou assim o otomano.

Calaram-se todos.
Até a santa igreja descobriram
--- o diácono cantava lá...
Os popy andavam com os turíbulos.
Silentes, os paroquianos peroração ouviam;
enquanto os popy, por entre as carroças,
aspergiam água benta, com os hissopes.
Seguiam-se-lhes os estandartes
e cantares sacros se ouviam.
Parecia até que era
o Grande Dia da Páscoa Santa

"Rezem, irmãos amados. Rezem! ---
Assim teve o começo a fala dos popy. ---
Ao redor da santa cidade Chyhyryn
uma muralha d'outro mundo se erguerá
--- os umbrais das portas nossas
aqui ninguém --- jamais profanará.
E vós deveis cuidar da nossa Ucrânia:
que ela --- vossa mãe, jamais padeça,
nem desfaleça em mãos estranhas.
Já desde o Konashevych até agora
as labaredas não se apagaram sobre nós
--- morre o povo simples; e os que restam,
descalsos perambulam e lotam as prisões.
Nascem filhos não batizados ---
são filhos dos nossos cossacos.
O que dizer sobre as mulheres!..
As flores vivas dos nossos jardins
--- colhidas pelos lyakhy, amorfanhadas
como o foram as suas mães...
Todos seus sonhos sendo destruidos.
Os seus irmãos também padecem ---
escravos do inimigo todos se tornaram;
não mais se reconhecem --- vergonha,
e mais vergonha é só o que conhecem!

Rezem, meus filhos! Rezem!
Juizo final os lyakhy darão p'ra Ucrânia ---
até que os montes farruscos estremeçam.
Recordem os hetmanes justos:
Onde estão os túmulos deles?
Onde estão os restos do glorioso Bohdan?
Ostrianytsia em que tumba se encontra?
Onde sepulto está o Nalyvaiko? Não há!
Suas cinzas somente, os ventos carregam
--- todos, vivos ou mortos, foram queimados!

Aquele Bohun? Aquele inverno?
Ingul congela como todos os anos ---
Bohun não poderá levantar-se para atulhar-se
de corpos de seus inimigos --- os lyakhy.
Os lyakhy se divertem, enquanto Bohdan dorme!
Tudo se colore de vermelho --- Zhovti Vody e Ros verde.
Korsun velho entristecido:
não tem com quem dividir a sua sorte.
Também, a Yalta chora:
"Triste a vida!
Eu me definho, empalideço...
Por onde andará o Tarás?
Não há nem sinal dele...
Os filhos abandonaram o pai!"

Irmãos, não chorem por nós.
As almas dos justos são fortes
--- são assistidas por arqui-estratega São Miguel.
Ainda não chegou a hora dos castigos
--- dos montes farruscos. Ainda é hora de rezar!"

Todos rezavam.
Rezavam os cossacos de toda a sua alma.
Como crianças se fizeram --- da tristeza se abstiveram.
Pensaram algo... algo novo, o que teria de acontecer
--- as tumbas suas de lenços brancos se cobririam!..
Glória total. Do povo a vontade se fez resplandecer.
Lenços brancos tremulando
--- serão um dia arriados?..

O diácono cantando:

"Que morra o inimigo!
Em mãos os tarani! Benzidos já?"

Os sinos repicaram...
Em uníssono, todos gritaram:
"Benzidos já ficaram!"

O coração até gela de pavor!
Santificados estão os tarani!
A nobreza padece destruida!
Chegou o dia da desforra! ---
As armas brilharam,
como jamais antes,
por toda a Ucrânia.

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Chyhyryn --- Cidade junto ao rio Tyasmin (afluente à direita do Dnipro) nas terra da
Kyivshchyna. Bohdan Khmelnytsky tinha transformado Chyhyryn em
residência dos hetmany
bunchuk --- Bastão de autoridade militar. Deriva do nome truco.
bulava --- Bastão de comando, clava
Makoviya (dia de Makoviya) --- Nome popular do dia das festividades da Igreja (1 de
agosto, no antigo calendário). Neste dia, eram apresentadas e benzidas
as armas (facas) usadas nos combates contra a nobreza polonesa.Tyasmyn
Tyasmyn --- Rio afluente do Dnirpo da margem direita
tarani --- Arma de ataque; feita de madeira resistente com ponta de aço. Era usada para
a demolição de paredes das fortes militares. Os haidamaky acreditavam que
eram um presente da bondosa senhora (Yekateryna II). Junto com estas armas
havia uma "Hramota" (autorização legal --- tipo decreto) para fossem usadas
para a aniquilação da nobreza polaca.
bondosa senhora --- Yekateryna II, Imperatriz da Rússia
Smilyanshchyna --- (Smila) Cidade junto ao rio Tyasmin, nas vizinhanças de Chyhyryn
starshina --- Oficialato militar
Velho Cabeçudo --- No original "Staryi Holovatyi". Era o último juiiz dos exércitos de
Zaporizhzhya. O nome verdadeiro era Pavel Holovatyi.
Gonta --- Ivan Gonta foi sotnik (comandante de sótnya). Foi comandante dos cossacos,
formados de camponeses servos, a serviço dos dos magnatas poloneses da
família dos Pototsky. Foi executado pela shlyakhta polonesa.
sotnya --- Grupamento militar de 100 homens
Volokh --- Era o cego kobzar que acomapnhava os haidamaky. Nome bastante difundido
na Ucrânia no séc. XVII, eram os remanescentes valáquios (descendentes dos
godos-dácios e ancestrais dos atuais moldávios)
Maksym --- (Zaliznyak Maksym) Lider dos cossacos da Ucrânia da margem direita, foi
aprisionado pelo exército tsraista e exilado para a Sibéria.
Voloshchyna --- Pequeno ducado da Moldávia (terras de Volokh)
tenca --- (ou tinca) Peixe comum em vários paises europeus
popy --- padres (pop = padre, sing.)
Konashevych --- Petr Konashevych Sahaidachny foi hetman ucraniano de 1614 a 1624
Ostrianytsia --- Stepan Ostrianytsia foi hetman que comandou a revolta dos kozaky
de 1638
Bohun --- Ivan Bohun, libertado ucraniano do jugo polones
Ingul --- Rio ucraniano na região de Kirovohrad
Zhovti Vody --- Cidade ucraniana, junto ao rio Amarelo (rika Zhovta)
Ros --- Rio afluente da margem direita do Dnipro
Korsun --- Cidade ucraniana, fundada em 1032 por Yaroslav, o Sábio
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04/30/2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Haidamaky -- Tytar

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Bosque, souto
--- total calmaria;
navega silente a lua,
estão reluzindo as estrelas.
Venha, querida, ---
estou esperando:
ao menos, por uma hora
--- ó, minha namorada!

Apareça, pombinha minha!
Arrulharemos um pouco,
suspiros viveremos...
Esta noite,
para terras distantes,
estarei de partida.
Apareça!.. Ó, minha colibri
--- és tu o meu coração...
Apareça, enquanto
ainda estão pertinhos
os nossos caminhos.

Ciciaremos um pouco...

Ah! Que tristeza
é tudo em mim!..

Yarema assim cantava,
vagando junto ao bosque
--- enquanto esperava a sua Oksana;
mas, ela não chegava...

No ceu, as estrelas reluziam, e
a clara lua prateava.
Salgueiros ouviam os rouxinois,
enquanto apreciavam reflexos seus
nos espelhos do fundo dos poços...

Cada vez mais, sobre os viburnos,
os rouxinois cantavam, pareciam saber
que o cossaco a sua amada esperava.

Yarema, já cansado --- a muito custo,
pelo vale, junto à floresta, perambula:
ao redor, nada escuta e nada vê.
Pensa, apenas:

"Por que serve-me a formosura,
se a sorte não tenho,
nem a felicidade se compraz comigo!
Perco à toa os meus anos jovens.
Sozinho no mundo, sem parentes;
nem tenho um destino --- sou apenas
um talo de erva sequiosa.

Sou um arbusto sem folhas,
que brotou em terra estranha.

Soprarão os ventos, tombarão o talo seco
--- e ninguém de mim se lembrará.
A razão? Ninguém a sabe!.. Talvez,
porque sou um órfão. E, outra não há.

Na verdade, um amor eu tinha:
ela dizia que era minha. Mas verdade,
na verdade foi mentira.
--- Ela não me amava."

E as lágrimas rolaram.
Coitado, chorou!
Secou, com a manga, o rosto:

"Que Deus te proteja. Agora, já vou!
No caminho distante, buscarei a sorte
--- talvez ela esteja depois do Dnipro...

Reclinarei a cabeça, pensando em ti!
E tu, porventura, terás chorado por mim?

Nem verás como um corvo
terá bicado os meus olhos
--- olhos castanhos, acariciados por ti.
Os olhos do cossaco, que um dia beijaste ---
que eram só teus; agora, só meus. Por que?

Pois então me esqueça.
Não mais lembres de mim
--- nem do teu juramento,
que um dia fizeste.
Dê a outro o teu coração.
Sou um simples mortal;
e tu, uma tetarivna.
Se um dia ouvires,
que em campos estranhos repousei
--- faça uma oração breve. Assim,
um descanso tranquilo terei!"

No bordão apoiou a cabeça e,
de novo, chorou. Chorou muito...
Até que um barulho se ouviu: algo crepitou!
Junto ao bosque,
qual um coelho acautelada,
aproxima-se a Oksana.

Esqueceu o choro
--- correu até ela;
os dois se abraçaram.

"Coração!" --- desmaiaram.

Muito tempo assim ficaram. Apenas:
"Coração!" --- de novo, calaram.

"Basta, meu pássaro meigo!"
"Mais um pouco,
mais... mais... ó, meu amado!
Beba a alma minha!.. mais... e mais.
Ai!.. Como estou aflita!"
"Pois descanse, minha estrela!
Tu do ceu caiste!"

Estendeu uma coberta.
Sorridente, como estrela,
ela sentou-se calma --- ele, junto dela.

"Fiquemos juntinhos ---
sintamos o mundo, como se fossemos
debruçados numa janela".

"Coração meu, minha estrela,
onde estiveste luzindo?"
"Atrasei-me hoje:
papai adoentou-se;
fiquei ao lado dele..."
"De mim, nem te lembraste?"
"Quão mesquinho és tu;
Deus que te Perdoe!"
As lágrimas brilharam.
"Não chore, querida. Brincadeira".
"Brincadeira!" --- Sorriu.
Encostou no ombro dele e,
quase, adormeceu.

"Sim, Oksana, estou brincando;
e... tu choras de verdade. Mas,
não chores.Veja os meus olhos.

Amanhã estarei longe.

À noitinha, estarei em Chyhyryn
--- tornando-me um dos haidamaky.

Ficarei rico --- terei ouro e prata,
serei respeitado; terei glórias;
terás roupas e terás sapatos...

Serás uma bela e vaidosa pavoa,
p'ra que eu possa admirar-te
como uma senhora hetman,
até que me leve a morte".

"Pode ser que tu me esqueças!
Sendo rico, viajarás a Kyiv
com os cavalheiros outros;
terás outras amizades ---
esquecerás a tua Oksana!"

"Mais bela que tu, no mundo haveria?"

"Até pode haver... --- Eu não saberia."

"Tu a Deus ofendes, falando assim.
Mais bela que a minha Oksana não há:
nem no ceu, nem cá na terra, e
nem após o azul dos mares, --- nem alhures.
Mais bela que a minha Oksana não há!"

"Estás dizendo o que?
Reflita um pouco: não exageres!"
"Mas é verdade, minha cara!"

A conversa foi-se indo, foi-se indo e,
não terminava... Beijos e abraços e,
mais beijos... --- Juramentos davam.

Depois, Yarema contava
como seria a vida futura.

Unidos p'ra sempre: ouro e sorte teriam.

Mas, o mais importante:
os lyakhy, uma vez por todas,
a Ucrânia livre deixariam.

Que a sorte esteja com eles
e que o Yarema dos combates retorne,
para que, ao lado de Oksana,
os destinos da Ucrânia transforme.

Foi fastioso ouvi-los, meninas!
"Vejam só! Parece verdade ---
Foi entediante!.."

Pois bem,
quando os pais souberem --- desta estória,
que vós agora vós estais lendo,
que pecado não terá sido para a boca cheia!..

Então, depois... que Deus me perdoe,
será muito engraçado! Ainda mais, se vos
contasse que o cossaco de olhos negros,
debaixo da sombra de um salgueiro,
abraçado à querida sua, triste chora.

A Oksana, como pequena pombinha,
arrulha, arrulha... e geme...
--- cobrindo de beijos o seu namorado.

Também chora e, vezes desmaia.

Cabecinha encosta:
"Meu amado, minha vida!
Ó, meu falcãozinho!
Não vá... fique comigo!"

Tanto amor e juramentos,
que o salgueiro se contorce.

Ouvir quereis, meninas!
Não, não conto ---
a conversa deles é muito picante;
tereis sonhado à noite
--- e é ultrajante!..

Que os dois se distanciem, --- se separem
assim como se encontraram: de mansinho,
bonitinhos. Que ninguém os veja. Para que:
as lágrimas da coitadinha ninguém sinta; e,
também, as do seu cossaco.

Pois que assim seja...
Qu o destino os separe agora;
mas, que no futuro,
a sorte possa uni-los de novo.
Veremos. Assim vive o povo...

Brilham luzes nas janelas ---
são do tytar os ricos aposentos.
Algo deve estar acontecendo!..
Visitemos já, para o sabermos.
Cuidado tomemos, p'ra que não nos vejam!

Quisera não ter visto, p'ra que não contasse!

Por causa das gentes, é vergonhoso;
uma dor na alma e no coração...
Vejam só!.. São os confederados.
Gente reunida para as liberdades defender.
Defendem o que? Desgraçados...
Que a mãe deles seja maldita
--- o dia e a hora que os viu nascer!

Vejam o que se passa
nos aposentos do tytar:

Infernais filhos.
As chamas inflamaram a todos
--- labaredas tomaram a conta da mansão.
Num canto, se apoiando na parede,
o velho taverneiro, feito um cachorro uiva;
ao lado dele, os confederados berram:
"Queres viver? Entregue-nos o dinheiro!".

Agora, ele calado; não respode.

Ataram as mãos cansadas dele,
jogaram o seu corpo ao chão --- e, nada,
nem uma palavra só. --- Emudeceu?..

"Talvez a dor não lhe é tanto!
Que tal carvão queimando!
E o betume derretido?
Vamos aspergi-lo! Assim! Está esfriando?
Mais brasa precisamos!..
Alguma coisa deves falar, seu miserável!
O velhaco nem se lamenta!..
Mas que finório teimoso! Esperem um pouco!"

Encheram de brasa a botina...

"Crave-se um prego no sincipúcio!"

Coitado! Não aguentou o santo castigo;
Tombou o sofredor --- não resistiu!
Partiu... Uma alma se perdeu,
sem uma chance, ao menos
de ter-se confessado!..

"Oksna, filha minha! --- um íltimo suspiro e morreu.

Os lyakhy --- paralisados e pensativos,
então, se perguntaram: "Fazer o que, agora?
Senhores do Conselho! Pensaremos algo ---
com ele nada podemos mais fazer!
Podemos queimar o templo!"

--- Um vozerio!
"Que Deus nos perdoe!
Acreditamos todos em Deus!"
Amotinavam-se os lyakhy.
Gritaram: "Quem é?"
Batia à porta a Oksana.
"Mataram o meu pai, mataram!"
Ao chão caiu como uma pedra,
e desmaiou.

Da turba o lider,
sobre os presentes,
acenou a sua mão e,
todos de pronto silenciaram
--- como se cães domesticados fossem.

Abriu-se a porta e a Oksana:
"Yarema, onde estás tu?"

Yarema, muito distante,
trilha caminhos desconhecidos
--- canções cantando
de como o Nalyvaiko
tenha lutado com os lyakhy.

Tombaram os lyakhy;
com eles, tombou a Oksana.

Ouvia-se uivo de cães em Olshana
--- ora latiam, depois silenciavam...

A lua brilhava; as pessoas dormiam.
O tytar, também dormitava...
Não mais levantaria:
adormeceu para sempre.
As luzes que um dia foram acesas,
se apagaram. Se apagaram p'ra sempre.
Parece que o morto suspirou.
Um silêncio triste,
dos aposentos a conta tomou.

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tytar --- Administrador eclesial, responsável pelo templo e pelas coisas relativas ao
suprimento das necessidades eclesiais
tetarivna --- Filha do tytar
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04/21/2009

sábado, 18 de abril de 2009

Catarse moral

As tumbas do mundo se abriram.
Catarse moral dos humanos pariu
--- tantas desgraças, insultos:
seculares cadeados cairam, agora.
Tudo, que era escondido, emergiu!

Mas por que demorou, tanto tempo,
a moral de fachada se auto - ruir?..
Um sepulcro --- caiado por fora; lá,
por dentro, fedia as desonras:
assim salpicava-se os dias do vir!..

Mas não basta as lájeas se abrirem
-- é preciso fazer-se autópsias reais.
Descobrir-se o que foi vilipendiado --
pela soberba dos homens, é vital. E,
partir em restauro da base moral...

04/18/2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Aos promotores dos bem-feitos de gerúndios factóides

Os catecúmenos lançaram as suas vozes pelos espaços,
acharam-se no direito de o mundo todo persuadir, de que,
em nome do ide do grande Mestre, teriam o direito próprio
de o seu reino pessoal e específico construir.

Exímios promotores de bem-feitos de gerúndios factóides,
dolarizam a fé dos humildes. Aos prostrados se abstraem;
distraindo-se a si mesmos. -- São atores perfeitos! Lentes.
Leem, por entre linhas, o pensar dos subjacentes.

Alguns --- letrólogos formados, buscam espaços culturais.
Encontram, no desabrigo dos despresados, seus ideais...
Porém, quando se sentem estimulados pela miséria e dor,
de posição mudam; tornam-se transfigurados!..

De catecúmenos, que um dia foram, não mais se lembram;
são menestreis do saber pleno. Conversa deles é diferente:
agora são doutores. Da vida são fautores!.. Conversam sós!
--- Que estupidez é esta?.. Respondam, senhores!

04/17/2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um pensamento meu... Será otário?

Encurtaram-se todos os caminhos do mundo.
As paralelas se encontraram mesmo antes do infinito,
globalizando os sonhos dos vendavais do ocidente que,
por causa das suas latitudes, não se entenderam; como
se os ventos seus fossem os ventos únicos do universo.

As chuvas ácidas das nuvens cinzas se gaseificaram ---
não mais cairam... Assim, o solo não mais umidificaram.
Gigantes cúmulus-nimbus se formaram. O ceu taparam!
Os homens, como que petrificados, imunes se fizeram --
não mais água beberam! Os mares salgaram!

Dos oceanos, os vapores não mais foram se destilando...
Nem os continentes se uniram em tectônicos choques --
aos poucos, foram se separando! O que teria acontecido?
Das cordilheiras dos continentes, quem teria a ousadia:
fazer apenas uma festança de confraria?..

Das Cordilheiras Andinas, quem estaria a base retificando?
Eu, cá comigo, fico pensando e, na medida dos pensares,
imagino qual seria hoje o fado dos primevos habitantes ---
que teriam descoberto, antes dos brancos, o Gran Chaco?
Deveia ser dificil, com eles, o Jogo de Buraco!

Mas, as minhas ponderações, vou terminando por aqui!
Não quero que os outros tenham idéias falsas sobre mim
-- sou um pacato pensador "itinerário": ora aqui, ora ali;
porém, viajo seguro sempre: nas mãos um mapa-mundi e,
no coração, o relicário das coisas do ideário!..

04/16/2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Haidamaky --- Os Confederados

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Abra a taberna; Ó, taverneiro maldito!
Ou terás de arrepender-te... Abra logo!
Derrubem as portas, até que apareça
o velho trapaceiro inutil!"

"Esperem! De uma vez só, agora!
Usar açoites ---
Orelha de porco! Resolveste tu
ainda brincar conosco?"

"Eu? Com os senhorees?
Que Deus me livre!
Agora, permitam-me levantar,
senhores preclaros magnatas!" (Sussurra: "porcos!")

"Senhor Coronel, destrua!"

Arrombada caiu a porta... e o chicote
passeia ao longo do lombo do 'malvado'.

"Meus cumprimentos, porco endemoniado.
tenha meus respeitos, filho do capeta!" E,
mais chicote, chicoteando o lombo do 'malvado'.

O taverneiro se contorcia e gemia adoidado:
"Não brinquem comigo, senhores. Tenham pena!
Por favor, adentrem!"

"Mais chicote! E... mais uma!.. Basta!
Perdoa-nos; Ó, maldito!
Boa tarde em sua casa. Onde está a filha?"

"Morreu, senhores".

"Estás mentindo, seu 'malvado'!
Vai mais chicote!"

Lançaram-se de novo.

"Meus senhores, bons amigos,
juro que ela já está morta!"

"Estás mentindo de novo, seu malvado!"

"Se é mentira,
que Deus me castigue!"

"Não evoque o Deus à toa.
Nós é que punimos. Logo confesse!"

"Por que eu esconderia;
se está viva, que eu seja maldito!.."

"Ah! Ah! Ah! ah!.. Capeta, senhores,
litania (de missa) promove.
Tenham bênçãos todos!"..

"Que sinal da cruz eu faço
--- nem sei como é".

"Assim, veja..."

O lyakh se persigna e,
seguindo-se-lhe o judas
o sinal-da-cruz imita...

"Bravo! Bravo! Persignaram-se.
Mas, por um tal milagre,
comes e bebes queremos, senhores!
Estão nos ouvindo, vós que sois batizados?
Comes e bebes!"

"Já, já... Vai agora!"

Todos urros deram, como se animais fossem
--- urram os lyakhy; os garsons
as mesas de todos servem.
"Jeszcze Polska nie sginiela!" ---
Cada qual bebido, a seu modo grita.
"Mais bebida, taverneiro!"

Taverneiro --- o batizado, em disparada
--- da adega para a choupana:
traz bebida, serve a todos à vontade;
Os confederados gritam: "Traga-nos hidromel!"
Já sem sentidos o taverneiro ---
parece arco de "canga de coice",
encurvado sobre si mesmo.

"Cadê os címbalos!
E cadê os pratilheiros?
Toque agora, seu psyavira!"
A taberna estremece ---
o krakowyak cresce;
dominam a valsa e a mazurka.

O taverneiro,
cochichando consigo mesmo:
"Coisas da Nobreza!"
"Basta! Agora, cante!"
"Por Deus, não sei cantar!"
"Sem falso juramento, cão imundo!"
"E, que canção? A mais engraçada?"

"Era uma vez Gandzya,
pobre e mutilada.
Juramentos fazia,
orações praticava
--- suas pernas eram enfermas:
Nem sempre ela andava.
Não podia fazer a barshchyna;
porém, aos encontros amorosos,
de mansinho --- às escondidas,
entre os arbustos e ervas,
sempre disposta estava".

"Chega! Basta! Esta não é boa:
os Cismáticos gritaram".

"Qual, então seria? Poderia ser esta?
Aguardem, um pouco. Tento recordar-me..."

"Diante do senhor Khvedirko
o pagão vive tremendo
--- anda para a frente e,
para trás volta...
Ele teme o senhorio Khvedor".

"Chega, agora! A vez do pagamento!"

"Estás brincando, senhorio:
pagar o que hei de?"

"Pelo que ouvistes.
Não se aborreça; ó, pobretão!
Não brincamaos. Dinheiro à mesa!"

"De onde tirarei os ducados?
Nenhum grosche eu tenho ---
sou rico de misericórdia do senhorio".

"Não minta, cão imundo! Confesse!
Vamos lá, senhores
--- chicotadas nele!"

Começaram de chicotes os sibilos
--- batizando o infiel pagão de novo.
Açoitaram, e açoitaram
--- que só a pena voou...
"Juro por Deus, nem polushka tenho!
Podem devorar o meu corpo!
Nem polushka! Gritos! Socorro!"

"Já te socorremos".
"Esperem um pouco, direi algo".
"Estamos ouvidos, fale;
porém, não minta.
Mesmo estando morto,
não sairás com mentira".

"Não, em Olshana..."
"Está o teu dinheiro?"
"Meu!.. Deus que me guarde!
Não, eu digo, que lá em Olshana...

Os Cismáicos co-habitam
--- de três a quatro famílias,
numa única choupana".

"Disto nós sabemos,
porque nós os esbulhamos".

"Não, não é isto... desculpem-me...
Para que não tenhais surpresa,
para que o dinheiro vosso seja...

Saibam que lá em Olshana
há uma clerezia...
lá há um tytar...
a sua filha Oksana!
Deus a guarde! Que senhorita!
Que bondade!
E o dinehiro! Embora, não seja dele.
Pouco importa. É dinheiro mesmo".

"Se é dinheiro, tanto faz!
Diz verdade o pagão imundo.
Para ter-se a certeza da verdade,
é seguir só o caminho, até a cidade.
Todos a caminho!"

Foram os lyakhy até a Olshana.
Debaixo de um escabelo
um confederado bebum
--- não consegue levantar-se; e,
o resto do galinheiro grita:
“My zyjemy, my zyjemy,
Polska nie zginela”.

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lyakh --- designação com os ucranianos identificavam os poloneses
Jeszcze Polska nie sginiela! --- A Polônia não morreu ainda!
psyavira ---(ukr.) Diziam os poloneses, a respeito dos rusynos (os ucranianos), de que cada rusyno era um cão (sobaka) e que a sua fé (vira) era uma fé de sobaka (sobacha vira). Em polones, "psyavira" (fé de cão).
krakowyak --- dança polonesa
mazurka --- dança polonesa
barshchyna --- No tempo da servidão, er o trabalho obrigatório e gratuito do campones para o seu senhor
Cismáticos --- Designação pejorativa dos ortodoxos, dentro da RezcPospolita. Em ucraniano seria "rozkol'nyky". Os que não seguiam a fé dos uniatas greco-católicos).
Khvedirko e Khvedor --- é o mesmo personagem
ducados --- Antiga moeda de outro do império Áustro-Húngaro e da Rússia
groshi --- Moeda russa. Aqui, equivale a nenhum vintém eu tenho
polushka --- Moeda de troco,
equivalia a 1/4 de kopeika que, por sua vez, equivalia a 1/100 de rublo antigo
clerezia --- Classe clerical, pertencente a Igreja Católica Romana tytar (ktytar) --- Sinificado original do grego, fundador ou construtor do templo cristão; depois, o que cuidava das coisas e das necessidades do templo
My zyjemy, my zyjemy, Polska nie zginela” --- Nós estmos vivos, nós estamos vivos; a Polônia não morreu.
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04/15/2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Imaginação dos gatos de lá

Havia quatro gatos pingados
mais quatro gatos tra-la-lá.
Resolveram fundar um reino
daqueles que só haveria lá.

Convidaram até um sapo ---
era amigo de um dos gatos,
dizia ser entendido em tais
assuntos de criação. E era.

Só que faltava-lhes a idéia:
não convidaram a perereca
que era a mãe deste sapo.
Daí, a encrenca. Confusão!

A perereca traria consigo
um tal de sabido falcão ---
era guarda dos campos da
esplanada do reino, então.

Como a escritura da terra --
a base do centro do reino,
não se dispunha em mãos
-- os gatos rugiram: Miau!..

Não é que deu certo! Perto
daquelas paragens, surgiu
-- e não era miragem, leão
de topete e tudo. Barbudo!

Resolvido o problema vital,
instalou-se o trono normal:
assentou-se o juiz, o seu
escrivão e a bela mediatriz.

O veredito do reinol edito
ainda não se fizera valer,
quando um eco distante
--- de uma gata errante,
fez-se, pelo reino, ouvir:

"Do preâmbulo da lei maior,
deste reino inusitado, faço
--- espero seja decretado,
o texto ora vos apresentado."

E recitou, o seu poema, a
gata angorá, a conhecida
Nélia dos Santos Szoma:

"O rugir dos mares e,
o ruido das ondas;
Os ribeiros de Deus
aplanam as leivas...

Os chuviscos destilam
as pastagens do doserto.

Os campos e os vales
se vestem de alegria e,
cantam com júbilo
as glórias ao Senhor!"

Assim nascia um estado.
Feliz, alegre e animado...
De brincadeira, é verdade;
mas a vida será verdade?
Dizemos sim. Ingenuidade!

04/14/2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Haidamaky --- Halaida ou Yarema

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Yarema! hersh-tu, filho de campones inculto?
Vá buscar e traga-me a egua,
leve os pantufos para a sua patroa;
para a estalagem traga mais água.
Rache mais lenha e varra a casa,
vistorie os patos e os perus;
desça até o porão, e
visite o pasto de vacas.
Com mais presteza --- Ó, kham!..
Mas, faça tudo com calma!
Depois de tudo realizado,
corra depressa até a Olshana:
A esposa do patrão ordenou.
Não demore --- não fique parado, não!"
E foi o Yarema cabisbaixo
--- de si próprio, não se dispõe.

Assim, logo bem de manhã,
o taberneiro tiranizava o cossaco.
Yarema se contorcia e se dobrava
--- ainda não sabia, que tinha asas.
Que aos ceus chegaria, se tentasse voar;
por isso, se contorcia --- vergando-se ao chão...

Meus Deus querido, que condição!
Não é facil o mundo, quando se quer viver:
Queremos apreciar os raios solares,
queremos escutar as ondas do mar,
dos pássaros queremos o canto ouvir e,
o cochicho das rochas dos desfiladeiros,
queremos de perto sentir.
E, melhor --- no silêncio do bosque,
da morena as carícias e o aroma fruir.
Meus Deus querido, como é bom viver!

Pobre do Yarema, no mundo sozinho
--- sem irmãos, sem pais, não tem amigos!
serviçal-lacaio de um taberneiro.
Cresceu à beira de estrada; porém,
não murmura da sorte, nem xinga os outros.
Por que ralhar aos outros, se eles nem sabem
a quem dar carinhos, a quem castigar?
Pois que se divirtam... O destino, vai deles cuidar
O pobre do mundo, só da própria corcova pode esperar...

Muitas vezes, por trás da parede, em silêncio chorava,
mas não porque o coração reclamava; lembranças, ou
coisas que via e não concordava. Então, chorava...
Assim a vida exigia. Enxugava as lágrimas... ao trabalho!

De que serve uma choupana,
de mão o carinho, e
grandes palácios, se não há
com quem partilhar o coração e a alma?
Pobre Yarema --- considera-se rico...
Desabafar com alguém, ele pode;
ouvir canções de quem e dar gargalhadas:
tem a morena de olhos castanhos --- brilham como estrelas;
mãos branquinhas e macias --- que abraçam com carinho.
Ela também chora, ri e de amor desfalece; depois, revigora...
Até parece espírito santo,
nas calmarias das noites,
sobre o amado repousa.

Assim é o meu Yarema
--- sozinho, porém rico!

Também fui assim, um dia.
E acabou tudo, mulheres!..
O tempo voou, nem vestígio ficou
--- o coração saudoso empacou...
Por que nada ficou?

Por que nada ficou? Por que tudo acabou?
Mais leve seria o choro e,
mais facil seria as tristezas derramar.
As pessoas más tiraram,
queriam tudo açambarcar:
"Para que deixar-lhe a sorte?
Por que não surripiar, ---
Ele até parece bem-fadado..."

Bem-fadado; porém, todo endividado e,
também, cauteloso e resguardado ---
lágrimas miudas, nem é bom chorar!
Fado meu! Oh, sorte minha!
Estarás andando onde. Poderás voltar?
Talvez, possa eu ver-te em sonho...
--- mas, não tenho sono. Não posso sonhar!
Queiram perdoar-me, gente boa:
se estou falando à toa, sem nexo;
cada qual tem seus fastios
--- seus momentos de desvarios!..

Pode ser, que mais uma vez nos encontremos;
mas, por enquanto, eu vivo me arrastando,
para ver se me encontro com o Yarema,
em qualquer parte deste mundo.
Talvez, um dia... Não sei.

Gente minha, triste é o mundo
--- onde podemos nos abrigar?
Para onde o fado nos carrega,
para lá devemo-nos vergar, ---
em silêncio e prazenteiros,
p'ra que ninguém saiba
do coração as mágoas,
que nos querem trucidar!

Que a bondade dos outros se espalhe,
como um sonho, dos que teem a sorte.
Mas ao pobre, que está só pelo fadário,
não se dê algum abrigo. Nem imaginário!

Não é bom contar os fatos,
mas não sei calar comigo...
Fluem frases doloridas, lágrimas dos olhos:
Nem o sol as seca. São demais molhadas.
Reparti-las quero com aqueles que, talvez,
jamais tenham chorado. Sempre riram...
--- Mas, não riram nunca; são paredes que
são mudas, não falam. São sós, se calam!

Todavia, voltarei à taberna ---
quero ver o que se passa lá.
Assim é a vida. E quem a governa?
--- Eu digo, a taberna.

O taberneiro --- o dono dela,
que nem se aguenta mais ereto...
Conta suas moedas, sob um lampião aceso,
para guarda-las em segurança, no colchão...

A filha do taberneiro mofa no leito.
Maldito pois o taberneiro seja ---
ele afogou a vida dela na bebida!

Aquelas mãos, que já macias foram,
agora murchas, empalidecidas, nem
calor mais sentem, nem mais busto,
que encolheu emurchecido, adoram...

Não conversa com ninguém, só chora.
De si para si --- mas não louca ainda,
a pagã não batisada, baixinho murmura:
Assim pai é, assim será a filha sua...
Do capeta todo esse dinheiro. Sou nua!..

No chão da taverna, deitada a velha
--- enrolada num edredão rasgado...

O taberneiro continua de todos desligado.

Por onde andará o Yarema?
Disseram que pegou o seu bornal
e se lançou mundo afora. Até Olshana.
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Halaida (Yarema Halaida) --- O substantivo nominal "halaida" deriva do advérbio "hala",
que significa "sem abrigo" (bezprytul'nyi), "vadio ou vagamundo" (volotsyuha).
Em registros populares históricos (encontrados no séc. XX), colhidos da
tradição oral, Halaida é considerado como uma personalidade histórica.
Shevchenko reconhece ser Yarema Halaida como uma realidade, todavia, em
seus escritos, ele seria como que uma personagem "meio-imaginado".
hersh-tu --- do heb. e significa "estás ouvindo-me?"
campones inculto --- no original está "kham" que quer significar "campones inculto".
Olshana --- Um pequeno lugarejo na antiga guberniya de Kiev, onde Shevcehenko
serviu como "kazachok" (menino criado) na fazenda do senhorio Engelhardt
(um latifundiário).
o taberneiro tiranizava o cossaco --- No verso, "cossaco" tem a significação de
campones das estepes ucranianas.
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04/13/2009

Quatro gatos tra-la-lá

Um deles, se dizia ser angorá.
O outro seria um siberiano? ---
Se é que siberiano gato há.
Os dois outros, gatos comuns,
destes que se vê alhures ---
deliciando os infantis do povo:
Sempre agradam as gentes!..

Todos, cada qual à sua moda,
cantavam a toada do tra lá lá...
Até que um dia, um frangote,
destes --- mesmo sem bigode,
pretendeu puxar o seu arcote
da canção de bronze tra lá lá.
Infernal barulho sentiu-se lá!..

Voltando um pouco, esclareço:
os dois outros, siameses eram.
Porém, os seus miados só, e
somente, sonatas tocavam...
Não se impuseram no tra-la-lá.
Um deles, ficou do lado de lado;
o outro, criou "asas" e tralhou!..

Mas não confundam os quatro ---
quero dizer os quatro gatos, com
os do Reino da Cocada. Ó, Não!
São diferentes... São pertinentes
ao mundo das prosopopéias dos
protonautas navegantes --- Agora
extintos, porque são hilariantes!..

São quatro gatos mui hilariantes.
São protonautas navegantes. É?
Meditem só por uns instantes, e
tereis idéias bastantes. São eles
os grandes heróis, dos populares
contos --- das novas gerações,
dos incríveis ideais ambulantes!..

04/13/2009

sábado, 11 de abril de 2009

Haidamaky --- Introdução

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Existia no passado uma garbosa,
magnata e formosa senhora;
Seu poder media sempre
com os moscovitas;
outras vezes, com os germanos e,
depois, com as hordas e sultãos...

Assim eram os tempos,
que se perderam no passado...

Era shlyakhta, sempre arrogante,
noite e dia banqueteava;
tendo o rei sob a bulava,
fazia tudo o que queria...

Não era assim sob o reinado
de Stefan Bathory, ou de Jan Sobienski:
duas figuras de outra feita; ---
Eram diferençados. Coitados,
tranquilamente governavam...
As dietas --- parlamentares, farfalhavam;
as vizinhanças fronteiriças silenciavam:
apenas observando como os Monarcas,
do polones trono, fugidos escapavam...

A shlyakhta toda,
em tons de vigoroso protesto,
slogan uníssono gritava:
"Nie pozwalam! nie pozwalam!"
Os parlamentares gritam,
enquanto os magnatas,
do povo as choupanas queimam
--- e seus sabres amolam.
Longos anos assim se passaram
--- até que os bravos Poniatowski
no trono da Polônia se firmaram...

Tentaram os Poniatowski,
da nobreza a shlyakhta acalmar...
Não conseguiram!
--- Quizeram, não se houveram!..
Por que será? Talvez,
algo diverso tentaram.

Tentaram com "nie pozwalam" acabar.
Em troca receberam:
uma Polônia em labaredas ---
nobres senhores enfurecidos... Gritando:
"Palavra dos altivos, em vão é o teu intento!
Pagão e traidor --- vendido aos moscovitas!"

E de repente, Jan Pac e Jusef Pulawski,
um grito da shlyakhta ecoaram ---
a Confederação do Bar, anunciaram.

Os confederados se espalharam:
pela Polônia, pela Volynia,
pela Lituânia, pela Moldova e,
pelas terras da Ucrânia.

Dispersaram-se, como podiam;
esqueceram a sua maior tarefa:
salvar a liberdade... Uniram-se,
com os vendilhões nefastos,
para solapar os desejos do povo.

Destruiram o que havia
--- igrejas queimaram...
Neste tempo, os haidamaky
suas armas santificaram.

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shlyakhta --- (pol. szlachta) Nobreza
ou senhores feudais da Polônia
bulava --- Bastão de comando, usado por alguns líderes de destaque
Stefan Bathory --- (1533 - 1586) Príncipe
da nobreza húngara, foi um dos melhores reis escolhidos da Polônia (ReczPospolita,
1576 -1586). Residia em Grodno.
Jan Sobienski (Jan III ou John III; 1629 - 1696). --- Um dos mais notáveis monarcas da Comunidade Lituana Polonesa>
Foi Rei da Polônia e Grão Duque da Lituânia. Pretendeu implantar uma monarquia hereditária, ao invés da eletiva.
"Nie pozwalam! nie pozwalam!" --- (lat. "liberum veto", eng. "I freely forbid", port. eu não permito). Era um dispositivo
do Parlamento da Polônia, segundo o qual, os parlamentares em uníssono gritavam o slogan, para que imediatamente uma sessão fosse suspensa e todas as resoluções nela tomadas perdessem seu efeito.
Poniatowski --- Importante familia da nobreza polonesa. Conde Stanislaw ou Stanislas Augustus Poniatowski (1676 - 1762), Cavaleiro da Ordem da Águia Branca a partir de 1726. Foi o último Rei da RezcPospolita (1764 - 1795), quando a Polônia conheceu a sua tripartição e
deixou de existir com império. Toda a política dos Poniatowski era orientada
para o relacionamento com a Kateryna II, imperatriz da Rússia.
Yusef Pulawski (1704 - 1769) Chefiou a Confederação (Confederação do Bar, 1768) formada pela nobreza (shlyakhta) polonesa, que se opunha às interferências da Kateryna II nas questões da Polônia.
A família Pulawski contava com estrito apoioda igreja católica romana. Em 1772,
a resistência dos opositores foi quebrada e a Polônia foi tripartida.
Michał Jan Pac (1728 - 1787) --- Tomou parte na Conefederação do Bar.
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04/11/2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Haidamaky

Haidamaky
Dedicatória para Vasyl Ivanovych Hryhorovych
(22 abr. 1838)

Taras H. Shevchenko
7 abr. 1841 St. Petersburg

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Tudo segue, tudo passa --- e nunca termina.
Mas, de onde veio? E, vai para onde?
Nem o sábio, nem o tolo nada disto sabem.
Alguns vivem... outros morrem... outros se colorem;
alguns murcham e fenecem, morrem para sempre...

Folhas secas os ventos sempre carregam.
O sol se levanta, como é do seu costume;
as estrelas, como sempre, seguem a jornada.
Também tu, de rosto branco, sairás às noites
para observar os astros pelos ceus vagando...
o
Ouvirás o marulhar das águas do rio e do poço
e lembrarás das profundezas dos mares; farás
sementeiras --- como nos jardins da Babilônia.
Também saberás o que será dos filhos nossos.

Tu não conheces e não conhecerás a morte!..
Adoro conversar contigo --- fazer os escólios,
como se com um irmão, ou com irmã fosse;
Tinir os teus pensamentos que tu cochichaste.
Mais um conselho te peço, da tristeza o que farei?

Eu não estou sozinha, também não sou órfã,
--- tenho filhos; mas, o que com eles eu faria?
Contigo os guardaria? --- Que pecado, a alma está viva!
Ou, talvez --- para ela, no mundo do além melhor seria.
Se alguém decifrasse aquelas palavras choradas ---
que antigamente, com tanta candura, ela derramava!
Que no silêncio, dos segredos do coração, soluçava.
Não, não guardarei! a alma está viva!..

Como os ceus azuis ---
que infinitos são e sem limites;
também, assim a alma:
não conhece as origens
e jamais poderá findar...

Onde, então, ela se esconde
após a partida? --- Vãs palavras!
Lembrem-se apenas dela,
como passageira do mundo.

Ao inglório é doloro deixar este mundo.
Lembrem-se meninas, ---
ela não pode ser esquecida!
Ela vos amou, fazia vos carícias;
dos destinos vossos se fazia partilhar...

Permaneçam em repouso, filhos;
enquanto o sol não despontar.
Por mim, pensarei comigo mesma:
onde um atamano possa encontrar.

Haidamaky, filhos meus!
O mundo é vasto, liberdade, ---
Por que não correis as terras;
por que não buscais a sorte!..

Filhos meus, ainda infantes ---
desarrazoados e imprudentes!
Quem acolheria-vos nos braços,
senão a própria mãe, que vos
acalentou os sonhos d'antes?..

Filhos meus! Águias bravos!
A caminho da Ucrânia, ---
se as desgraças lá houverem,
não serão elas dos outros.
Haverá gente decente e boa
que não dará vez à morte.

Aqui... aqui. Tudo é estranho!

Embora, entre em choupana,
ela será nua. Será um riso...
És um estranho!.. A verdade
está com eles --- não é a tua.

Aqui todos são letrados,
são folhetins impressos.
Do sol, até raios julgam:
"Deveriam nascer d'outro lado,
nem tanto aquecer poderiam;
O seu brilho assim se faria..."

O que, pois, responder-lhes?

Ouvir apenas... A razão, talvez,
esteja com eles: Pode ser, que
o sol não esteja nascendo certo.
Que os letrados razão tenham;
pois que encabecem o mundo!..

Então, o que de vós diriam?

Conheço a vossa glória!
Desdenharão-vos, farão zombaria
--- lançarão no depósito do esquecimento.
"Que descansem, --- dirão,
--- repousem tranquilos,
até que o pai se levante
e nos conte, conforme queremos,
sobre os passados hetmany.
Por enquanto, o pateta conte,
com suas palavras mortas, ---
colocando à nossa frente,
um tal de Yarema
usando postoly. Idiota! Idiota!
Parece até que pouco bateram.

--- Nada aprenderam.

Dos kozaky e dos hetmany
restaramm os altos kurhany,
nada mais o que guardemos;
mesmo estes, já destruidos.

Mas ainda ele prega
--- para que ouçamos,
dos startsi, os cantos.

É inútil o passado, caro amigo:
quando se quer o dinheiro e,
também a glória;
melhor que me cantes
a Matriosha, a Parasha
--- a nossa alegria;
dos sultães os aposentos
e, das suas esporas.

Eis, toda a glória!

Por que, então, cantas:
"O mar azul geme"
mas, sozinho, chora
s.
Choras tu e o tua tribo,
um bando de farrapos!.."

Ensinaram-nos algo
--- é verdade. E, muito obrigado!

Vestimenta quente... Pena!
Pois, que não me serve.
E, a palavra inteligente sua
de mentiras ferve.

Queiram desculpar-me...
Não mais quero ouvir-vos.
Não saudarei, eu submisso,
ao sábio povo abstruso ---
Que me deixem! sou um louco;
vivendo ao acaso, cá no meu casebre.

Cantarei meus cantos tristes ---
chorarei sozinho, como um infante. Cantarei,
do mar as ondas, como se levantam;
como os ventos sopram;
como os campos escurecem,
cobrindo-se de kurhany e,
às tempestades revelando os seus segredos.

Ao meu canto, --- descortinam-se os kurhany.
Aqueles outeiros altos, de cossacos repletos,
até às costas do mar, vão cobrindo estepes...
Otomanos montam murzelos,
com os seus bunchuky,
pavoneiam-se... As encostas,
entre os juncos, roncam, gemem --- embravecidas.
Parecem estar contando algo terrívrl.

Se ouvir o canto, ficarei entristecido;
então, perguntarei aos mais antigos:
"Por que vós, pais nossos, estais aflitos?"
"Tristes, filho!
Dnieper poderoso conosco zangou-se
--- a Ucrânia chora..."

Também choro; entretanto,
otomanos garbosos já avançam,
sotnyky com os senhores e,
também, os hetmany; todos dourados,
na minha choupana entraram
--- sentaram-se junto a mim e,
sobre a Ucrânia, o debate começaram.

Como a Sich foi erigida.
Como os kozaky, em seus baidaky,
venciam as corredeiras
--- por entre os estreitos e,
investiam ataques.

Navegavam azuis mares,
se aqueciam em Skutary; assim como,
acendiam os seus cachimbos
nos incêndios da Polônia. Depois,
voltavam para a Ucrânia e,
felizes, só banqueteavam!..
"Toque a kobza! Encha a taça, taberneiro!"
--- gritavam os cossacos.
O taberneiro sabe, enche a taça,
nem um pouco se arrepende;
o kobzar tangeu as cordas,
foi só a pena que voou ---
os cossacos se esbaldaram:
a Khortytsya estremeceu!
Já dançaram a metelytsya,
começaram o hopak;
todos erguem a taça
--- que se esgota num só gole.

"Se diverta o senhorio, sem os seus zhupany;
se diverta o vento, varrendo as campinas.
Que se toque a kobza. Que as taças se encham,
até que a liberdade se levante e a nossa sorte!..".

Mãos na cintura, dobrando os joelhos
--- jovens com os velhos.
"Assim, filhos! Bem... bonito!
Sereis seus próprios senhores!".

Otomanos nos seus banquetes,
como se em Conselho estivessem.
Andam pausados, ponderam assuntos:

Impaciente a comunidade,
não mais suportando, bateu os pés
--- algo reclamando.

Eu, da minha parte, apenas observo.
Enchugo as lágrimas e calmo sorrio.

Observo, sorrio, enchugo as lágrimas, ---
não me sinto tão sozinho,
há com quem viver no mundo!
Na minha choupana, ou numa campina,
há cossacos divagando, sargetas gemendo.
Na minha choupana, ondas do mar azul tangem,
estão tristes os kurhany, os álamos murmuram e,
a menina canta "Hrytsya" --- lento e suave.
Não estou sozinho.
Há com quem findar os meus dias...

Eis, onde está o meu tesouro
--- está no dinheiro e, é aqui
que está a minha honra!

Pelo auxílio, --- fico grato;
enquanto eu for vivo:
uma palavra morta, será o bastante,
para que derrame a minha lágrima,
no meu breve e solitário instante...

Adeus! Saude pra todos.

Está na hora da partida
--- o caminho é longo.
Pois que andem, --- quiçá encontrem
o velho cossaco,
que saudará os meus filhos,
com as lágrimas nos olhos.

Para mim, agora, basta.
Direi apenas: Senhor eu sou
--- senhor sobre os senhores.

Sentado assim, num canto da mesa,
em meus pensamento, eu medito:
A quem pedir? Quem será meu guia?

Para fora da janela, o dia amanhece;
a lua se apaga, o sol se aquece.

Haidamaky se levantam
--- orações já fazem e, agora,
já equipados, ao meu lado se puseram.
Tristemente, cabisbaixos --- como órfãos,
diante de mim se renderam:
"Tua bênção, --- disseram, --- pedimos,
enquanto forças temos:
buscar a sorte nossa queremos.
Este mundo é vasto;
será que podemos?"

"Esperem um pouco... e, tenham paciência;
o mundo não é choupana nossa e, vós sois
pequenos infantes ainda...
Tolos e imprudentes.
De quem tereis a liderança?
Quem vos guiará? Infortúnio..., crianças!

Triste é-me assim vê-los!

Cuidei de vós, alimentei-vos
--- crescestes grandes e fortes.
Quereis partir pelo mundo;
mas lá, tudo está diferente:
letrados são todos agora,
--- não como antigamente.

Perdoeis-me, por não vos ter dado letras.

Embora eu mesmo tenha muito apanhado;
o que, tem-me valido as dores, é que
em troca, o meu espírito foi cultivado!
"Tma", "mna" conheço; porém, "oksiya"
mesmo até hoje, de tudo desconheço...

O que quer pois, que possam dizer-vos,
vamos filhos. Vamos procurar a sorte!..

Temos um pai honrado (embora, postiço).

--- Ele dará um conselho sábio,
porque é muito traquejado ---
andou pelo mundo; sabe como
é dificil vaguear sozinho. Mais ainda:

Ele é de alma pura; de origem, cossaco.
Lembra ainda das canções
que a sua mãe o ninava; quando,
entre os sons de uma kobza,
as histórias do cego kobzar narrava.

Ele adora a Ucrânia e sofre por ela...
Vive seus pensamentos e as suas glórias.
Vamos nós, com ele, ao Conselho magno.
Talvez, tenhamos agora a hora distinta, que
nos faça resgatrmos a nossa honra infinda!

Não é facil vagar pelo mundo.

Vamos, meninada!
Não pereci no estrangeiro,
também vós tereis a sorte.
Sereis recebidos como gente
de um passado inquebrantável
--- rijo e forte, sem medo da morte!

Depois, voltem para a Ucrânia!"

Seja bem-vindo, meu pai, nesta casa!
Abençõe, nos teus estuários,
os meus filhos todos
nos caminhos muito distantes!

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Haidamaky --- Do turco "haydamak", que no original significa "atacar". Na Ucrânia
eram designados assim os camponeses participante de ataques
armados contra os opressores aristocratas poloneses e contra os
clérerigos poloneses, no séc. XVIII, da Ucrânia da Margem Direita.
O verso "Tudo segue, tudo passa --- e nunca termina." e alguns seguintes, reverberam
as palavras do escritor bíblico Eclesiastes.
atamano --- chefe ou lider entre os cossacos
Yarema --- Talvez, a referência se faça a Yarema Vyshnyvetsky que, na época, era
considerado como inimigo (na Polônia) dos ucranianos ortodoxos.
postoly --- Calçado especiial, usado pelos camponeses ucranianos
startsi --- Pessoas idosas versadas em algum passado histórico ucraniano
Matriosha, Parasha --- Referência a paródias irônicas, em voga na época, sobre os
romances que retratavam a pequena burgusia.
sotnyky --- Chefe de sonya.
sotnya --- Cmpanhia de cossacos
Skutary --- hoje, Üsküdar de Istambul
Khortytsya --- Um forte numa ilha do Dnieper, onde estava instalado o centro
administrativo da Sich
metelytsya --- Dança ucraniana. Outras danças: hopak, kolomiyka, hutsulka
"Tma", "mna" conheço; porém, "oksiya" --- "tma" e "mna" são designativos de sílabas
na gramática do búlgaro antigo (ou da lingua eclesial-eslava) e "oksiya"
é a denominação do acento diacrítico da lingua.
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04/09/2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Não mais Nintendo. Mudou?

Quer parecer-me até
que algo, no reino, mudou.
O meu analítico faro
coisas novas detectou...

Não mais se palestra à toa ---
por "horas" a fio e sem um final.
Também, a conversa não é mais banal.
Não se contam histórias
de coisas que tais e, que
mais pareciam novelas
de vida --- familiares reais.

Quer parecer-me até
que o trato --- o contato abstrato
de abraço de amigo, não ser mais
um grande perigo. E não é tão fatal,
nem é tão sincero, como um dia já foi.
--- Entortou as costelas...
Alguns ossos quebrou, ---
por sorte, só por isso ficou.

Quer parecer-me até
que algo, no reino, mudou.
O nome do sábio reinol (adotivo),
não sei porque cargas d'água, mudou
--- agora, se chama Mintendo.
Para mim, acho bom! Melhorou...
Pelo menos, já se pode entendê-lo:
qual proposta a sua. Qual a sua razão.

Descartada, se foi a revinda
--- aquela que vinha logo após
os acasos reflexos
de infindos pruridos mentais desconexos.
--- Diga-se, de passagem,
para alguns eram bem-vindos...

O palavreado discursivo mudou.
Tem como base o Livro ---
não uma simples leitura,
de um escrito qualquer:..

Esperemos o que será feito,
depois que o segundo vigário,
em não se sentindo satisfeito,
pular do frágil andor
deste falado "relicário".

04/07/2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sepultura Profanada

Taras H. Shevchenko
9 out. 1843 Berezan

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Ó mundo, pátria querida,
Ucrânia minha,
por que causa foste devastada,
por que causa, mãe nossa, tanto padeces?

Por acaso, antes que o sol nascesse,
a Deus não fizeste preces? --- Ou,
aos filhos, de confiança indignos,
não deste princípios?

"Zelava por todos e também rezava.
Dias e noites não dormia
--- aos pequeninos cuidava.
Os princípios e os costumes ensinava.

Como que de flores, os jardins desabrochavam
--- filhos meus benditos, a sua terra governavam.
Também eu sobressaia, neste mundo vasto...
Oh! Ó, Bohdan!
Filho meu tolo e imprudente!
Veja a tua mãe agora
--- a sorte da tua Ucrânia.

Tinha os meus sonhos:
baloiçava o teu berço e cantava
o meu fado triste; --- Embalava-te,
em choro, esperava a liberdade...

Oh! Ó, Bohdan! Bohdanochek,
caso eu soubesse,
no berço eu te afogaria
--- junto ao coração meu,
o sono eterno te daria.

As estepes minhas e os prados
--- vendidos aos estranhos foram.

Filhos meus esparsos
pelo estrangeiro foram
--- trabalho de outros executam.
Dnipro -- meu irmão mais velho,
vê, aos poucos, secar o seu leito;
parece esquecer de mim
--- deixar-me sem jeito.
Os meus túmulos --- kurhany,
moscovitas estão profanando...

Que cavouquem e profanem
--- o que buscam não é deles.

Também cresçam os traidores,
que auxiliem, aos moscovitas,
a manipular o povo. Para que
despir consigam, da mãesinha,
a sua velha camisola rota...

Auxiliem --- oh, desumanos!
a manter em cativeiro a Ucrânia".

Retalhada em quatro partes;
de kurhany, a tumba profanada.
Quiseram achar o que lá?
O que teriam ali guardado
os pais antigos? Que assim o fosse.

E, se ali achassem aquilo,
o que foi guardado,
os filhos não chorariam e,
a mãe não estaria triste...

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Oh! Bohdan ---
Referência a Bohdan Khmelsnytsy, por cuja conta a Ucrânia foi ao
Império Tsarista, depois da Guerra de Libertação de 1648 - 1754.
Bohdanochek --- Forma carinhosa de Bohdan

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04/06/2009

A Canção de Sentinela de Prisão

A Canção de Sentinela de Prisão
Pesnya karaulnoho u tyurmy
Excerto do drama "Nevesta"

Taras H. Shevchenk
Dez. 1841 St. Petersburg

Tradução (da versão em russo)
de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

O velho e altaneiro voievoda,
fazia exatos quatro anos,
que tinha ido para a guerra.

Como de costume era,
deixara trancada a sua esposa,
de trás de uma pesada porta de carvalho
--- com uma pesada fecahdura.

O velho, além de ser muito enciumado,
foi valoroso e persistente lá em combate.

Quatro anos se passaram
e a guerra já tinha terminado.
O voievoda, à sua casa havia retornado.

A sua esposa. Dela o que tinha restado?
Com a tristeza, que sentia, havia deliberado:

As janelas e a porta,
de tudo seriam transformados.

Passado um ano --- enquanto
envolvia em fraldas o filho Yan,
canções cantava a respeito
do seu idoso senhorio:

"Ai, que bom! Nana, meu filho Yan, nana!..
Que os tártaros tenham findo o voievoda ---
ou os tártaros o tenham findo,
ou os lobos o tenham devorado!
Ai, que bom! Nana, meu filho no leito macio".

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Voievoda (voivoda) --- designação antiga dos príncipes soberanos da
Moldávia, da Valáquia, e de outros povos eslavos.
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04/06/2009

sábado, 4 de abril de 2009

Perebendya -- O humorista

Perebendya
Taras Shevchenko
1839 St. Petersburg

Tradução de Mykola Szoma.
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Perebendya, um velho cego
- quem não o conhecia?
Estava em toda parte,
a sua “kobza” tocando ---
sempre presente se fazia.

E quem toca, é muito conhecido
- todos eram lhe gratos,
por espantar-lhes suas mágoas;
porém, ele sozinho, andava só e aflito.

Levando a vida de abandono,
nem possuía um abrigo seu.
Neste mundo não lhe coubera
um lar paterno e um telheiro
– vivia só, ao léu...

Seus lábios tristes pranteavam de infortúnio
e a cabeça branca, por anos envelhecida,
tingia de rara lucidez seus olhos verdes
que, em quantos dele se aproximavam,
uma luz límpida de um saber suave enchia...

E o velho, já cansado, a “kobza” dedilhando
nem se importava – nem mesmo os ouvia!?

Cantava apenas os seus cantos sonolentos
- dos verdes prados, qual brisa suave, murmurando...
Lembrava tempos passados – um dia fora jovem!
Quanta saudade retratavam seus olhos embaçados.

Agora, qual órfão, só e sem ninguém no mundo,
aos poucos, de cansaço o semblante seu se cobria.
Calmo despede-se, dos presentes à sua volta
- precisa descansar... Amanhã será um novo dia!
Sua cabeça branca, na fria cerca orvalhada,
já adormecia. Kobza, silente e debruçado, dormia.

Se em risos o coração se desmanchava
- então os olhos choravam de cegueira,
porque não tinham provado dos ventos a meiga brisa
que outrora, por razões não óbvias, ignoravam.

Assim era o Perebendya:
velho e muito quimérico!..
Ao ruão dedica um canto;
depois, à Horlytsya passa.

Às meninas, nas pastagens ---
canta Hrytsya e Vesnyanka

Aos rapazes, em tavernas ---
Serbyna e Shynkarku tocava.

Com os casados banqueteava
(onde uma sogra má havia).
Ali, ele dos álamos lembrava e,
do destino perverso falava; depois
--- entre os arvoredos tudo terminava.

Onde um bazar havia,
ali do Lázaro o poema recitava;
ou, para que soubessem,
em tom melancólico contava,
de como a Sich arruinavam.

Assim era o Perebendya.
--- Velho e quimérico humorista!
Começava cantando; depois,
caia num riso. E terminava ---
Sempre, como um menino, chorando.

Sopram ventos,
tempestades rugem.
Vão varrendo os campos.

Num kurhan-outeiro, o kobzar sentou-se;
tirou da sacola a kobza e tangeu as cordas.
Ao redor seu vastos prados, como se ondas
de azuis águas --- lá dos mares,
de mormaço os ares encheram...

Por detrás de cada outeiro,
outros outeiros emergem...
Mais além, --- nada se avista;
sombriamente, algo se perde de vista.

Grisalho o bigode e o velho topete
baloiçam ao vento. Olhos choram,
e a cegueira sua todos ignoram!...

Os ventos cessaram...

O velho se esconde por trás dos outeiros,
para que ninguém o veja triste.
Para que os ventos levem --- as suas palavras,
pelos campos, como se elas de Deus fossem.

O coração, às vezes conversa com Deus,
às vezes a Sua glória proclama; enquanto
o pensamento, sobre as nuvens navega...

Como águia navega, plana nas alturas
--- espaços azuis, com asas, fustiga;
repousa nos raios solares... E indaga:
Em que aposentos eles dormem --- e,
de que modo se levantam. Por que?..

Ouve o cochichar dos mares.
Quer saber do monte: "Por que ele é mudo?"
Voa de novo às nuvens --- beirando os céus.

A terra é triste... --- Muitos pesares e dores.
Na vastidão da sua largura, refúgio não há...
Nem mesmo, para Quem tudo sabe;
nem mesmo, para Quem tudo houve:
O que dizem os mares, onde o sol dorme.
Não há quem O aceite. No mundo, não há...

Entre todos, ele é só, como um sol distante.
Conhecido é do povo... --- a terra o carrega;
Porém, se soubessem que ele é sozinho ---
que canta nas tumbas, com os mares parola,
das suas palavras divinas não fariam risos...
Talvez, o chamariam de tolo e de simplório
--- para longe dele se afastariam.

"Que pelas águas passeie!" --- diriam:

Muito bem. Oh, kobzar velho!
Muito bem que ainda tu andas:
canções fazes e palestras,
sobre os kurhany promoves!

Também tu, o meu amado,
perambule como podes ---
cante, do coração, cantos;
p'ra que não ouçam os teus prantos.

Para que não te desprezem,
indulgente sê com todos!..
Salte fora... Patrão manda
--- é p'ra isto que ele é rico.

Assim era o Perebendya.
--- Velho e quimérico humorista!
Começava cantando; depois,
caia num riso. E terminava ---
Sempre, como um menino, chorando.

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Nota:
"Ao ruão dedica um canto;
depois, à Horlytsya passa."

poderia ser:

"Ao ruão dedica um canto;
depois, à pombinha
um cantar devota."

Perebendya --- Humorista fantasista e excêntrico.
ruão --- Pelo do cavalo alazão, que tem as crinas e a cauda brancos
Horlytsya --- Uma canção dançante: " Oh!, menina-pombinha se agarra ao cossaco"
Hrytsya e Vesnyanka --- duas canções populares; a segunda, uma canção primaveril.
Serbyna e Shynkarku --- duas canções populares; Serbyna de origrn Sérvia
Sich --- Refere-se à Sich Zaporozhs'ka, criada no séc. XVI, nas regiões do Dniprovia.
A Sich foi extinta em 1775, por um decreto (ukaz) de Yekateryna II.

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04/04/2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Prychynna -- A louca

Prychynna
Taras H. Shevchenko
1837 St. Petersburg

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Gemia furioso o Dnieper largo,
uivantes ventos se agitavam ---
vergando os ramos dos salguiros,
enormes vagas de ndas levantavam.

Prateada a lua naquele instante
por trás das nuvens se escondia,
como se fora uma pequena nave,
por sobre as ondas, se embalava.

Galos ainda não tinham cantado,
em parte alguma havia gente inda.
Só corujas nos bosques chirriavam
e freixos, por vezes, crepitavam.

Num dia assim, ao pé do monte,
juntinho àquele bosque,
cuja imagem flutua sobre as águas,
alguma coisa --- branco, vagueia.

Pode ser uma sereia
a sua mãe buscando?
Ou, à espera do amado,
não a ninfa vagando
--- mas uma linda donzela,
que não sabe (pois é louca)
o que está fazendo.

Quiromante assim dissera,
para que sofresse menos,
pela meia-noite ali estivesse
--- à espera do seu amado,
o cossaco, que se foi no ano.
Prometeu voltar um dia;
mas, talvez tenha morrido
em terras longes, espartano.
Não com seda leve
foram seus olhos cobertos,
nem lavado foi seu rosto
com lágrimas puras:

Falcão sugou os seus olhos,
em terra dos outros,
devoraram o seu corpo
os lobos ferozes,
--- esta foi a sua sorte!

Em vão a espera ---
ele não mais volta...
Não fará carícias nela,
não desfará trança longa sua,
jamais atará o lenço nela.
Não dormirá com amada
--- numa tuma foi sepultado!

Assim foi o fado dela... Oh, meu Deus amado!
Por que tanto a castigas, ela é tão jovem?
Porque louca --- tem se apaixonado
por aqueles olhos de cossaco?
Que a perdoe!.. A quem amar deveria?
Sem pai e sem quem lhe deu a vida ---
órfã, só... Como um pássaro em longes terras.

Dê-lhe a sorte, muda-lhe o fado, --- ela é jovem,
para que não seja, por estranhos, zombado.
É culpada a rola por ter se entregue ao pombo?
Ou culpado foi o pombo, pelo falcão devorado?..

Se aflige e murmura, entendiada, pelo mundo,
voando de um lado a outro, procurando o que?
A feliz pombinha voa livre pelas alturas,
chegando até aos páramos divinos --- indagando
por onde anda o seu amado. E ela o procurando.
Quem mais lhe dizer algo poderia?
E quem, a seu respeito, alguma coisa saberia.
Em que plagas dormida o seu querido:
na escuridão de um bosque cerrado, ou
nas águas velozes do Danúbio, sacia o seu cavalo.
Poerá estar com outra. Partindo seu amor com ela.

Então, já esqueceu a sua morena, --- justo ela?

Se tivesse de uma águia as asas,
no além do mar azul, o seu amado encontraria.
Se vivo estivesse, amá-lo-ia, --- a outra, sufocaria;
se já morto estivesse, ao lado dele na tumba cairia.

Um coração não ama, para com outros partilhar ---
não será este o seu desejo.

Porém, é Deus que assim o determina.

Nem mais viver, o coração almeja
e, muito menos, padecer de tristeza.
"Sofra, sofra", --- diz o pensamento.

Meu Deus! Meu Deus! Por que o padecer.
Assim é a sua sorte, assim é o fado dela!

Vagando ela calada, perambula pelas encostas.

O Dnieper largo não se alvoroça,
embora os ventos quebrem as negras nuvens...
Por fim, cessaram as ventanias ---
deitaram-se junto às águas azuis dos mares,
para doar-se a um repouso e ver a lua emergir.


Por sobre as águas, por sobre os bosques,
a calmaria se estendeu. E tudo ficou mudo.
E eis que, da brusquidão do Dnieper largo,
nas ondas emergiram pequeninos infantes:
"Aquecer-nos queremos! --- vozes bradaram,
--- os ceus já estão no ocaso!"
(Estão todos desnudos;
parecem carriços --- são tranças,
de meninas cabelos cacheados).

"Estarão voces todas aqui? ---
ouviu-se uma voz de mãe . ---
"A hora chegou do jantar, todas p'ra casa!"
"Brincaremos ainda por mais tempo e
cantaremos mais uma nossa canção:

Oh! Ah!,
De colmo a nossa vida e o alento!
Quando a mãe deu-me a vida
--- deixou-me sem batismo...

Ó luar, vem encantar-nos!
Vem jantar conosco!..

Temos um cossaco entre os juncos,
entre os caniços e, um anel de prata,
que reflete o espelho d'água
por sobre a copa da mata...

Um jovem moreno, de olhos castanhos,
encontramos ontem entre os arvoredos.

Ilumine mais --- Oh, prateada lua!
todas as campinas,
para que possamos divertir-nos mais
--- nós somos meninas!
Enquanto feiticeiras-corujas voam,
e os galos não cantaram inda,
ilumine nossos campos...
Para que possamos ver quem por ali anda:
quem, por entre aqueles carvalhos,
a sua vida demanda!

Oh! Ah!,
De colmo a nossa vida e o alento!
Quando a mãe deu-me a vida
--- deixou-me sem batismo..."

As ínfidas sem batismo
às gargalhadas se lançaram...
Do bosque, em resposta,
surdos ruidos e zumbidos,
pelos espaços, se propalaram.

Contritas as ínfidas não batisadas,
perceberam --- algo perpassando
os troncos arbóreos até ao topo...

Era aquela menina que vagueava e,
sonâmbula perdia-se no bosque:
Foi este o sortilégio, que
a quiromante vaticinara...

Bem no topo de um extremo galho,
de pé ela postou-se... Olhou à sua volta
e, como uma pedra, ao chão lançou-se!
Mas, as sereias suas amigas, silentes,
em seus braços a acolheram. Afagaram
o seu rosto meigo. E se embeveceram!..

Os terceiros galos já tinham cantado.
As sereias, cumprindo a tarefa sua,
mergulharam nas águas do Dnieper.

Pelos prados ecoou
um canoro som
de um coral diferenciado:

o gorjeio de cotovia, em seu voo vertical;
o rabilongo cuculando, em dissílabo tonal;
o rouxinol trinando, num gorjeio sem igual!

Lá, de tras dos cômoros e dos montes,
avermelhados os horizontes se avistam
e um lavrador --- ao som desta cantoria,
corta a terra, revirando-a com um arado.

Atrás daqueles bosques,
onde derrotados senhores-polacos eram,
sobre as águas, sombras se alevantam...
Entre as sombras, os kurhany azulecidos,
como outeiros, envelhecidos despontam!..

Murmuraram os folhames, lá no bosque
--- cochicharam, entre si, os sarmentos.

Junto à estrada castigada, na beirada
--- debaixo da sombra de um carvalho,
dorme a menina... Só e abandonada!..
Dorme ela. Não escuta os cantares ---
aquele canto da cotovia, do rabilongo,
do rouxinol. --- Para ela, nada diriam...

Entre os arvoredos, de um carvalho,
aparece de saida um cossaco.
Vem montando um cavalo murzelo
--- que quase não anda;
de tão lento de cansado,
que indolente ele pisa.

"Exausto te sentes, companheiro!
Breve terás um repouso:
Não distante está a choupana
--- onde a menina, te espera;
haverá de abrir-te a porta...

Talvez, já tenha aberto ---
não para mim, mas para outro...
Vamos presto, meu cavalo amorado.
Pressa tenho de 'starmos em casa!.."

De tanto cansado, nem mais anda
--- o cavalo só tropeça.
O coração do cossaco dores snte
--- até parece que, dentro dele,
o veneno de uma serpente cresce.

"Eis o carvalho de copa frondosa...
Será que é ela! Oh, meu Deus... é ela!
Adormeceu, apoiando-se na janela ---
Com a mão na aldrava,
ela por mim esperava!.."

Pulou do cavalo --- correu...
"Meu Deus, oh!.. Deus meu!"
Abraçando a menina, gritou...
Não mais é possil.
Tudo acabou.

"Por que separar-nos, agora?
Que sorte ingrata,
a pregar-nos este fim!.."
Soltou gargalhadas, qual louco
--- e cabeçadas de desgosto
contra os carvalhos desferiu!

Vão para os campos, ceifar os trigos,
do vilarejo as meninas. --- Cantam alegres;
colhendo as flores pelas searas. --- Assim:

E foi aqui que, contra os tártaros,
bravos irmãos nossos lutaram...
E foi aqui que, em despedida,
mães se separavam de seus filhos.

E mais além, à sombra de um carvalho
--- pousa triste um cavalo extenuado;
junto a ele, um cossaco airoso
--- entre os braços fortes,
acaricia o seu amor mimoso.

Curiosas as meninas
(a verdade seja dita)
sorrateiras se fizeram;
ao chegarem
--- bem mais --- perto;
do que viram, se frustraram.
--- Do cossaco era o cadáver!

De virada, no pé deram.
Nunca mais ali voltaram.

Reuniam-se os casais
--- p'ra enchugar lágrimas doridas;
reuniam-se os amigos
--- para cavar sepulturas;
Chegaram os padres com as cruzes
--- para os sinos dos finados vibrar.

Tudo foi, segundo as normas;
--- como manda o figurino. ---
Junto à estrada, duas tumbas.

Que os dois em paz repousem!
Que ninguém mais lhes pergunte
por que foram mortos?

Sobre a tumba do cossaco ---
um ácer, um bordo,
e um garboso abeto;
sobre a tumba dela ---
uma rosa-de-gueldres à sua cabeça.

Quer cucar (o cuco)
sobre as sepulturas;
também quer o rouxinol
trinar, --- só às noites;
enquanto a lua não empalidece.
Até que a mãe-d'água --- a sereia,
nas águas azuis do Dnieper se aqueça.

04/03/2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Думаючи я сам зі мною

Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Думування ж мої, думування!
Чомуж ви для мене такі мучіння?
Чомуж перемінилися ви,
на зім”ятому листочку,
у поразкові рядочки
і, також, немов заплачки?..

Ваша ціль показником бути
десь якихсь координатів –
якіб керували мої кроки
тривко йдучи та ступати.

Не такеж то ось і сталось: я плачу
— яке решіння можу дати?
Гляну на лівий бік, тінь бачу;
на правому боці, нічого не пізнаю.
Якеж велике ось перехрестя!..

Або втечу,
або загину в якімсь майбутьнім!..
Якажто є трагедія!
Чи є хтось щоби мене послухав?

Думування ж мої, думування!
Чомуж для мене ви такі мучіння?

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Переклад із португальської мови.
Перекладач: Щома Микола Опанасович
Автор оригиналу, на португальській мові:
Щома Микола Опанасович
(Mykola Szoma)
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04/01/2009