segunda-feira, 13 de abril de 2009

Haidamaky --- Halaida ou Yarema

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Yarema! hersh-tu, filho de campones inculto?
Vá buscar e traga-me a egua,
leve os pantufos para a sua patroa;
para a estalagem traga mais água.
Rache mais lenha e varra a casa,
vistorie os patos e os perus;
desça até o porão, e
visite o pasto de vacas.
Com mais presteza --- Ó, kham!..
Mas, faça tudo com calma!
Depois de tudo realizado,
corra depressa até a Olshana:
A esposa do patrão ordenou.
Não demore --- não fique parado, não!"
E foi o Yarema cabisbaixo
--- de si próprio, não se dispõe.

Assim, logo bem de manhã,
o taberneiro tiranizava o cossaco.
Yarema se contorcia e se dobrava
--- ainda não sabia, que tinha asas.
Que aos ceus chegaria, se tentasse voar;
por isso, se contorcia --- vergando-se ao chão...

Meus Deus querido, que condição!
Não é facil o mundo, quando se quer viver:
Queremos apreciar os raios solares,
queremos escutar as ondas do mar,
dos pássaros queremos o canto ouvir e,
o cochicho das rochas dos desfiladeiros,
queremos de perto sentir.
E, melhor --- no silêncio do bosque,
da morena as carícias e o aroma fruir.
Meus Deus querido, como é bom viver!

Pobre do Yarema, no mundo sozinho
--- sem irmãos, sem pais, não tem amigos!
serviçal-lacaio de um taberneiro.
Cresceu à beira de estrada; porém,
não murmura da sorte, nem xinga os outros.
Por que ralhar aos outros, se eles nem sabem
a quem dar carinhos, a quem castigar?
Pois que se divirtam... O destino, vai deles cuidar
O pobre do mundo, só da própria corcova pode esperar...

Muitas vezes, por trás da parede, em silêncio chorava,
mas não porque o coração reclamava; lembranças, ou
coisas que via e não concordava. Então, chorava...
Assim a vida exigia. Enxugava as lágrimas... ao trabalho!

De que serve uma choupana,
de mão o carinho, e
grandes palácios, se não há
com quem partilhar o coração e a alma?
Pobre Yarema --- considera-se rico...
Desabafar com alguém, ele pode;
ouvir canções de quem e dar gargalhadas:
tem a morena de olhos castanhos --- brilham como estrelas;
mãos branquinhas e macias --- que abraçam com carinho.
Ela também chora, ri e de amor desfalece; depois, revigora...
Até parece espírito santo,
nas calmarias das noites,
sobre o amado repousa.

Assim é o meu Yarema
--- sozinho, porém rico!

Também fui assim, um dia.
E acabou tudo, mulheres!..
O tempo voou, nem vestígio ficou
--- o coração saudoso empacou...
Por que nada ficou?

Por que nada ficou? Por que tudo acabou?
Mais leve seria o choro e,
mais facil seria as tristezas derramar.
As pessoas más tiraram,
queriam tudo açambarcar:
"Para que deixar-lhe a sorte?
Por que não surripiar, ---
Ele até parece bem-fadado..."

Bem-fadado; porém, todo endividado e,
também, cauteloso e resguardado ---
lágrimas miudas, nem é bom chorar!
Fado meu! Oh, sorte minha!
Estarás andando onde. Poderás voltar?
Talvez, possa eu ver-te em sonho...
--- mas, não tenho sono. Não posso sonhar!
Queiram perdoar-me, gente boa:
se estou falando à toa, sem nexo;
cada qual tem seus fastios
--- seus momentos de desvarios!..

Pode ser, que mais uma vez nos encontremos;
mas, por enquanto, eu vivo me arrastando,
para ver se me encontro com o Yarema,
em qualquer parte deste mundo.
Talvez, um dia... Não sei.

Gente minha, triste é o mundo
--- onde podemos nos abrigar?
Para onde o fado nos carrega,
para lá devemo-nos vergar, ---
em silêncio e prazenteiros,
p'ra que ninguém saiba
do coração as mágoas,
que nos querem trucidar!

Que a bondade dos outros se espalhe,
como um sonho, dos que teem a sorte.
Mas ao pobre, que está só pelo fadário,
não se dê algum abrigo. Nem imaginário!

Não é bom contar os fatos,
mas não sei calar comigo...
Fluem frases doloridas, lágrimas dos olhos:
Nem o sol as seca. São demais molhadas.
Reparti-las quero com aqueles que, talvez,
jamais tenham chorado. Sempre riram...
--- Mas, não riram nunca; são paredes que
são mudas, não falam. São sós, se calam!

Todavia, voltarei à taberna ---
quero ver o que se passa lá.
Assim é a vida. E quem a governa?
--- Eu digo, a taberna.

O taberneiro --- o dono dela,
que nem se aguenta mais ereto...
Conta suas moedas, sob um lampião aceso,
para guarda-las em segurança, no colchão...

A filha do taberneiro mofa no leito.
Maldito pois o taberneiro seja ---
ele afogou a vida dela na bebida!

Aquelas mãos, que já macias foram,
agora murchas, empalidecidas, nem
calor mais sentem, nem mais busto,
que encolheu emurchecido, adoram...

Não conversa com ninguém, só chora.
De si para si --- mas não louca ainda,
a pagã não batisada, baixinho murmura:
Assim pai é, assim será a filha sua...
Do capeta todo esse dinheiro. Sou nua!..

No chão da taverna, deitada a velha
--- enrolada num edredão rasgado...

O taberneiro continua de todos desligado.

Por onde andará o Yarema?
Disseram que pegou o seu bornal
e se lançou mundo afora. Até Olshana.
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Halaida (Yarema Halaida) --- O substantivo nominal "halaida" deriva do advérbio "hala",
que significa "sem abrigo" (bezprytul'nyi), "vadio ou vagamundo" (volotsyuha).
Em registros populares históricos (encontrados no séc. XX), colhidos da
tradição oral, Halaida é considerado como uma personalidade histórica.
Shevchenko reconhece ser Yarema Halaida como uma realidade, todavia, em
seus escritos, ele seria como que uma personagem "meio-imaginado".
hersh-tu --- do heb. e significa "estás ouvindo-me?"
campones inculto --- no original está "kham" que quer significar "campones inculto".
Olshana --- Um pequeno lugarejo na antiga guberniya de Kiev, onde Shevcehenko
serviu como "kazachok" (menino criado) na fazenda do senhorio Engelhardt
(um latifundiário).
o taberneiro tiranizava o cossaco --- No verso, "cossaco" tem a significação de
campones das estepes ucranianas.
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04/13/2009

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