quinta-feira, 9 de abril de 2009

Haidamaky

Haidamaky
Dedicatória para Vasyl Ivanovych Hryhorovych
(22 abr. 1838)

Taras H. Shevchenko
7 abr. 1841 St. Petersburg

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

Tudo segue, tudo passa --- e nunca termina.
Mas, de onde veio? E, vai para onde?
Nem o sábio, nem o tolo nada disto sabem.
Alguns vivem... outros morrem... outros se colorem;
alguns murcham e fenecem, morrem para sempre...

Folhas secas os ventos sempre carregam.
O sol se levanta, como é do seu costume;
as estrelas, como sempre, seguem a jornada.
Também tu, de rosto branco, sairás às noites
para observar os astros pelos ceus vagando...
o
Ouvirás o marulhar das águas do rio e do poço
e lembrarás das profundezas dos mares; farás
sementeiras --- como nos jardins da Babilônia.
Também saberás o que será dos filhos nossos.

Tu não conheces e não conhecerás a morte!..
Adoro conversar contigo --- fazer os escólios,
como se com um irmão, ou com irmã fosse;
Tinir os teus pensamentos que tu cochichaste.
Mais um conselho te peço, da tristeza o que farei?

Eu não estou sozinha, também não sou órfã,
--- tenho filhos; mas, o que com eles eu faria?
Contigo os guardaria? --- Que pecado, a alma está viva!
Ou, talvez --- para ela, no mundo do além melhor seria.
Se alguém decifrasse aquelas palavras choradas ---
que antigamente, com tanta candura, ela derramava!
Que no silêncio, dos segredos do coração, soluçava.
Não, não guardarei! a alma está viva!..

Como os ceus azuis ---
que infinitos são e sem limites;
também, assim a alma:
não conhece as origens
e jamais poderá findar...

Onde, então, ela se esconde
após a partida? --- Vãs palavras!
Lembrem-se apenas dela,
como passageira do mundo.

Ao inglório é doloro deixar este mundo.
Lembrem-se meninas, ---
ela não pode ser esquecida!
Ela vos amou, fazia vos carícias;
dos destinos vossos se fazia partilhar...

Permaneçam em repouso, filhos;
enquanto o sol não despontar.
Por mim, pensarei comigo mesma:
onde um atamano possa encontrar.

Haidamaky, filhos meus!
O mundo é vasto, liberdade, ---
Por que não correis as terras;
por que não buscais a sorte!..

Filhos meus, ainda infantes ---
desarrazoados e imprudentes!
Quem acolheria-vos nos braços,
senão a própria mãe, que vos
acalentou os sonhos d'antes?..

Filhos meus! Águias bravos!
A caminho da Ucrânia, ---
se as desgraças lá houverem,
não serão elas dos outros.
Haverá gente decente e boa
que não dará vez à morte.

Aqui... aqui. Tudo é estranho!

Embora, entre em choupana,
ela será nua. Será um riso...
És um estranho!.. A verdade
está com eles --- não é a tua.

Aqui todos são letrados,
são folhetins impressos.
Do sol, até raios julgam:
"Deveriam nascer d'outro lado,
nem tanto aquecer poderiam;
O seu brilho assim se faria..."

O que, pois, responder-lhes?

Ouvir apenas... A razão, talvez,
esteja com eles: Pode ser, que
o sol não esteja nascendo certo.
Que os letrados razão tenham;
pois que encabecem o mundo!..

Então, o que de vós diriam?

Conheço a vossa glória!
Desdenharão-vos, farão zombaria
--- lançarão no depósito do esquecimento.
"Que descansem, --- dirão,
--- repousem tranquilos,
até que o pai se levante
e nos conte, conforme queremos,
sobre os passados hetmany.
Por enquanto, o pateta conte,
com suas palavras mortas, ---
colocando à nossa frente,
um tal de Yarema
usando postoly. Idiota! Idiota!
Parece até que pouco bateram.

--- Nada aprenderam.

Dos kozaky e dos hetmany
restaramm os altos kurhany,
nada mais o que guardemos;
mesmo estes, já destruidos.

Mas ainda ele prega
--- para que ouçamos,
dos startsi, os cantos.

É inútil o passado, caro amigo:
quando se quer o dinheiro e,
também a glória;
melhor que me cantes
a Matriosha, a Parasha
--- a nossa alegria;
dos sultães os aposentos
e, das suas esporas.

Eis, toda a glória!

Por que, então, cantas:
"O mar azul geme"
mas, sozinho, chora
s.
Choras tu e o tua tribo,
um bando de farrapos!.."

Ensinaram-nos algo
--- é verdade. E, muito obrigado!

Vestimenta quente... Pena!
Pois, que não me serve.
E, a palavra inteligente sua
de mentiras ferve.

Queiram desculpar-me...
Não mais quero ouvir-vos.
Não saudarei, eu submisso,
ao sábio povo abstruso ---
Que me deixem! sou um louco;
vivendo ao acaso, cá no meu casebre.

Cantarei meus cantos tristes ---
chorarei sozinho, como um infante. Cantarei,
do mar as ondas, como se levantam;
como os ventos sopram;
como os campos escurecem,
cobrindo-se de kurhany e,
às tempestades revelando os seus segredos.

Ao meu canto, --- descortinam-se os kurhany.
Aqueles outeiros altos, de cossacos repletos,
até às costas do mar, vão cobrindo estepes...
Otomanos montam murzelos,
com os seus bunchuky,
pavoneiam-se... As encostas,
entre os juncos, roncam, gemem --- embravecidas.
Parecem estar contando algo terrívrl.

Se ouvir o canto, ficarei entristecido;
então, perguntarei aos mais antigos:
"Por que vós, pais nossos, estais aflitos?"
"Tristes, filho!
Dnieper poderoso conosco zangou-se
--- a Ucrânia chora..."

Também choro; entretanto,
otomanos garbosos já avançam,
sotnyky com os senhores e,
também, os hetmany; todos dourados,
na minha choupana entraram
--- sentaram-se junto a mim e,
sobre a Ucrânia, o debate começaram.

Como a Sich foi erigida.
Como os kozaky, em seus baidaky,
venciam as corredeiras
--- por entre os estreitos e,
investiam ataques.

Navegavam azuis mares,
se aqueciam em Skutary; assim como,
acendiam os seus cachimbos
nos incêndios da Polônia. Depois,
voltavam para a Ucrânia e,
felizes, só banqueteavam!..
"Toque a kobza! Encha a taça, taberneiro!"
--- gritavam os cossacos.
O taberneiro sabe, enche a taça,
nem um pouco se arrepende;
o kobzar tangeu as cordas,
foi só a pena que voou ---
os cossacos se esbaldaram:
a Khortytsya estremeceu!
Já dançaram a metelytsya,
começaram o hopak;
todos erguem a taça
--- que se esgota num só gole.

"Se diverta o senhorio, sem os seus zhupany;
se diverta o vento, varrendo as campinas.
Que se toque a kobza. Que as taças se encham,
até que a liberdade se levante e a nossa sorte!..".

Mãos na cintura, dobrando os joelhos
--- jovens com os velhos.
"Assim, filhos! Bem... bonito!
Sereis seus próprios senhores!".

Otomanos nos seus banquetes,
como se em Conselho estivessem.
Andam pausados, ponderam assuntos:

Impaciente a comunidade,
não mais suportando, bateu os pés
--- algo reclamando.

Eu, da minha parte, apenas observo.
Enchugo as lágrimas e calmo sorrio.

Observo, sorrio, enchugo as lágrimas, ---
não me sinto tão sozinho,
há com quem viver no mundo!
Na minha choupana, ou numa campina,
há cossacos divagando, sargetas gemendo.
Na minha choupana, ondas do mar azul tangem,
estão tristes os kurhany, os álamos murmuram e,
a menina canta "Hrytsya" --- lento e suave.
Não estou sozinho.
Há com quem findar os meus dias...

Eis, onde está o meu tesouro
--- está no dinheiro e, é aqui
que está a minha honra!

Pelo auxílio, --- fico grato;
enquanto eu for vivo:
uma palavra morta, será o bastante,
para que derrame a minha lágrima,
no meu breve e solitário instante...

Adeus! Saude pra todos.

Está na hora da partida
--- o caminho é longo.
Pois que andem, --- quiçá encontrem
o velho cossaco,
que saudará os meus filhos,
com as lágrimas nos olhos.

Para mim, agora, basta.
Direi apenas: Senhor eu sou
--- senhor sobre os senhores.

Sentado assim, num canto da mesa,
em meus pensamento, eu medito:
A quem pedir? Quem será meu guia?

Para fora da janela, o dia amanhece;
a lua se apaga, o sol se aquece.

Haidamaky se levantam
--- orações já fazem e, agora,
já equipados, ao meu lado se puseram.
Tristemente, cabisbaixos --- como órfãos,
diante de mim se renderam:
"Tua bênção, --- disseram, --- pedimos,
enquanto forças temos:
buscar a sorte nossa queremos.
Este mundo é vasto;
será que podemos?"

"Esperem um pouco... e, tenham paciência;
o mundo não é choupana nossa e, vós sois
pequenos infantes ainda...
Tolos e imprudentes.
De quem tereis a liderança?
Quem vos guiará? Infortúnio..., crianças!

Triste é-me assim vê-los!

Cuidei de vós, alimentei-vos
--- crescestes grandes e fortes.
Quereis partir pelo mundo;
mas lá, tudo está diferente:
letrados são todos agora,
--- não como antigamente.

Perdoeis-me, por não vos ter dado letras.

Embora eu mesmo tenha muito apanhado;
o que, tem-me valido as dores, é que
em troca, o meu espírito foi cultivado!
"Tma", "mna" conheço; porém, "oksiya"
mesmo até hoje, de tudo desconheço...

O que quer pois, que possam dizer-vos,
vamos filhos. Vamos procurar a sorte!..

Temos um pai honrado (embora, postiço).

--- Ele dará um conselho sábio,
porque é muito traquejado ---
andou pelo mundo; sabe como
é dificil vaguear sozinho. Mais ainda:

Ele é de alma pura; de origem, cossaco.
Lembra ainda das canções
que a sua mãe o ninava; quando,
entre os sons de uma kobza,
as histórias do cego kobzar narrava.

Ele adora a Ucrânia e sofre por ela...
Vive seus pensamentos e as suas glórias.
Vamos nós, com ele, ao Conselho magno.
Talvez, tenhamos agora a hora distinta, que
nos faça resgatrmos a nossa honra infinda!

Não é facil vagar pelo mundo.

Vamos, meninada!
Não pereci no estrangeiro,
também vós tereis a sorte.
Sereis recebidos como gente
de um passado inquebrantável
--- rijo e forte, sem medo da morte!

Depois, voltem para a Ucrânia!"

Seja bem-vindo, meu pai, nesta casa!
Abençõe, nos teus estuários,
os meus filhos todos
nos caminhos muito distantes!

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Haidamaky --- Do turco "haydamak", que no original significa "atacar". Na Ucrânia
eram designados assim os camponeses participante de ataques
armados contra os opressores aristocratas poloneses e contra os
clérerigos poloneses, no séc. XVIII, da Ucrânia da Margem Direita.
O verso "Tudo segue, tudo passa --- e nunca termina." e alguns seguintes, reverberam
as palavras do escritor bíblico Eclesiastes.
atamano --- chefe ou lider entre os cossacos
Yarema --- Talvez, a referência se faça a Yarema Vyshnyvetsky que, na época, era
considerado como inimigo (na Polônia) dos ucranianos ortodoxos.
postoly --- Calçado especiial, usado pelos camponeses ucranianos
startsi --- Pessoas idosas versadas em algum passado histórico ucraniano
Matriosha, Parasha --- Referência a paródias irônicas, em voga na época, sobre os
romances que retratavam a pequena burgusia.
sotnyky --- Chefe de sonya.
sotnya --- Cmpanhia de cossacos
Skutary --- hoje, Üsküdar de Istambul
Khortytsya --- Um forte numa ilha do Dnieper, onde estava instalado o centro
administrativo da Sich
metelytsya --- Dança ucraniana. Outras danças: hopak, kolomiyka, hutsulka
"Tma", "mna" conheço; porém, "oksiya" --- "tma" e "mna" são designativos de sílabas
na gramática do búlgaro antigo (ou da lingua eclesial-eslava) e "oksiya"
é a denominação do acento diacrítico da lingua.
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04/09/2009

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