terça-feira, 21 de abril de 2009

Haidamaky -- Tytar

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Bosque, souto
--- total calmaria;
navega silente a lua,
estão reluzindo as estrelas.
Venha, querida, ---
estou esperando:
ao menos, por uma hora
--- ó, minha namorada!

Apareça, pombinha minha!
Arrulharemos um pouco,
suspiros viveremos...
Esta noite,
para terras distantes,
estarei de partida.
Apareça!.. Ó, minha colibri
--- és tu o meu coração...
Apareça, enquanto
ainda estão pertinhos
os nossos caminhos.

Ciciaremos um pouco...

Ah! Que tristeza
é tudo em mim!..

Yarema assim cantava,
vagando junto ao bosque
--- enquanto esperava a sua Oksana;
mas, ela não chegava...

No ceu, as estrelas reluziam, e
a clara lua prateava.
Salgueiros ouviam os rouxinois,
enquanto apreciavam reflexos seus
nos espelhos do fundo dos poços...

Cada vez mais, sobre os viburnos,
os rouxinois cantavam, pareciam saber
que o cossaco a sua amada esperava.

Yarema, já cansado --- a muito custo,
pelo vale, junto à floresta, perambula:
ao redor, nada escuta e nada vê.
Pensa, apenas:

"Por que serve-me a formosura,
se a sorte não tenho,
nem a felicidade se compraz comigo!
Perco à toa os meus anos jovens.
Sozinho no mundo, sem parentes;
nem tenho um destino --- sou apenas
um talo de erva sequiosa.

Sou um arbusto sem folhas,
que brotou em terra estranha.

Soprarão os ventos, tombarão o talo seco
--- e ninguém de mim se lembrará.
A razão? Ninguém a sabe!.. Talvez,
porque sou um órfão. E, outra não há.

Na verdade, um amor eu tinha:
ela dizia que era minha. Mas verdade,
na verdade foi mentira.
--- Ela não me amava."

E as lágrimas rolaram.
Coitado, chorou!
Secou, com a manga, o rosto:

"Que Deus te proteja. Agora, já vou!
No caminho distante, buscarei a sorte
--- talvez ela esteja depois do Dnipro...

Reclinarei a cabeça, pensando em ti!
E tu, porventura, terás chorado por mim?

Nem verás como um corvo
terá bicado os meus olhos
--- olhos castanhos, acariciados por ti.
Os olhos do cossaco, que um dia beijaste ---
que eram só teus; agora, só meus. Por que?

Pois então me esqueça.
Não mais lembres de mim
--- nem do teu juramento,
que um dia fizeste.
Dê a outro o teu coração.
Sou um simples mortal;
e tu, uma tetarivna.
Se um dia ouvires,
que em campos estranhos repousei
--- faça uma oração breve. Assim,
um descanso tranquilo terei!"

No bordão apoiou a cabeça e,
de novo, chorou. Chorou muito...
Até que um barulho se ouviu: algo crepitou!
Junto ao bosque,
qual um coelho acautelada,
aproxima-se a Oksana.

Esqueceu o choro
--- correu até ela;
os dois se abraçaram.

"Coração!" --- desmaiaram.

Muito tempo assim ficaram. Apenas:
"Coração!" --- de novo, calaram.

"Basta, meu pássaro meigo!"
"Mais um pouco,
mais... mais... ó, meu amado!
Beba a alma minha!.. mais... e mais.
Ai!.. Como estou aflita!"
"Pois descanse, minha estrela!
Tu do ceu caiste!"

Estendeu uma coberta.
Sorridente, como estrela,
ela sentou-se calma --- ele, junto dela.

"Fiquemos juntinhos ---
sintamos o mundo, como se fossemos
debruçados numa janela".

"Coração meu, minha estrela,
onde estiveste luzindo?"
"Atrasei-me hoje:
papai adoentou-se;
fiquei ao lado dele..."
"De mim, nem te lembraste?"
"Quão mesquinho és tu;
Deus que te Perdoe!"
As lágrimas brilharam.
"Não chore, querida. Brincadeira".
"Brincadeira!" --- Sorriu.
Encostou no ombro dele e,
quase, adormeceu.

"Sim, Oksana, estou brincando;
e... tu choras de verdade. Mas,
não chores.Veja os meus olhos.

Amanhã estarei longe.

À noitinha, estarei em Chyhyryn
--- tornando-me um dos haidamaky.

Ficarei rico --- terei ouro e prata,
serei respeitado; terei glórias;
terás roupas e terás sapatos...

Serás uma bela e vaidosa pavoa,
p'ra que eu possa admirar-te
como uma senhora hetman,
até que me leve a morte".

"Pode ser que tu me esqueças!
Sendo rico, viajarás a Kyiv
com os cavalheiros outros;
terás outras amizades ---
esquecerás a tua Oksana!"

"Mais bela que tu, no mundo haveria?"

"Até pode haver... --- Eu não saberia."

"Tu a Deus ofendes, falando assim.
Mais bela que a minha Oksana não há:
nem no ceu, nem cá na terra, e
nem após o azul dos mares, --- nem alhures.
Mais bela que a minha Oksana não há!"

"Estás dizendo o que?
Reflita um pouco: não exageres!"
"Mas é verdade, minha cara!"

A conversa foi-se indo, foi-se indo e,
não terminava... Beijos e abraços e,
mais beijos... --- Juramentos davam.

Depois, Yarema contava
como seria a vida futura.

Unidos p'ra sempre: ouro e sorte teriam.

Mas, o mais importante:
os lyakhy, uma vez por todas,
a Ucrânia livre deixariam.

Que a sorte esteja com eles
e que o Yarema dos combates retorne,
para que, ao lado de Oksana,
os destinos da Ucrânia transforme.

Foi fastioso ouvi-los, meninas!
"Vejam só! Parece verdade ---
Foi entediante!.."

Pois bem,
quando os pais souberem --- desta estória,
que vós agora vós estais lendo,
que pecado não terá sido para a boca cheia!..

Então, depois... que Deus me perdoe,
será muito engraçado! Ainda mais, se vos
contasse que o cossaco de olhos negros,
debaixo da sombra de um salgueiro,
abraçado à querida sua, triste chora.

A Oksana, como pequena pombinha,
arrulha, arrulha... e geme...
--- cobrindo de beijos o seu namorado.

Também chora e, vezes desmaia.

Cabecinha encosta:
"Meu amado, minha vida!
Ó, meu falcãozinho!
Não vá... fique comigo!"

Tanto amor e juramentos,
que o salgueiro se contorce.

Ouvir quereis, meninas!
Não, não conto ---
a conversa deles é muito picante;
tereis sonhado à noite
--- e é ultrajante!..

Que os dois se distanciem, --- se separem
assim como se encontraram: de mansinho,
bonitinhos. Que ninguém os veja. Para que:
as lágrimas da coitadinha ninguém sinta; e,
também, as do seu cossaco.

Pois que assim seja...
Qu o destino os separe agora;
mas, que no futuro,
a sorte possa uni-los de novo.
Veremos. Assim vive o povo...

Brilham luzes nas janelas ---
são do tytar os ricos aposentos.
Algo deve estar acontecendo!..
Visitemos já, para o sabermos.
Cuidado tomemos, p'ra que não nos vejam!

Quisera não ter visto, p'ra que não contasse!

Por causa das gentes, é vergonhoso;
uma dor na alma e no coração...
Vejam só!.. São os confederados.
Gente reunida para as liberdades defender.
Defendem o que? Desgraçados...
Que a mãe deles seja maldita
--- o dia e a hora que os viu nascer!

Vejam o que se passa
nos aposentos do tytar:

Infernais filhos.
As chamas inflamaram a todos
--- labaredas tomaram a conta da mansão.
Num canto, se apoiando na parede,
o velho taverneiro, feito um cachorro uiva;
ao lado dele, os confederados berram:
"Queres viver? Entregue-nos o dinheiro!".

Agora, ele calado; não respode.

Ataram as mãos cansadas dele,
jogaram o seu corpo ao chão --- e, nada,
nem uma palavra só. --- Emudeceu?..

"Talvez a dor não lhe é tanto!
Que tal carvão queimando!
E o betume derretido?
Vamos aspergi-lo! Assim! Está esfriando?
Mais brasa precisamos!..
Alguma coisa deves falar, seu miserável!
O velhaco nem se lamenta!..
Mas que finório teimoso! Esperem um pouco!"

Encheram de brasa a botina...

"Crave-se um prego no sincipúcio!"

Coitado! Não aguentou o santo castigo;
Tombou o sofredor --- não resistiu!
Partiu... Uma alma se perdeu,
sem uma chance, ao menos
de ter-se confessado!..

"Oksna, filha minha! --- um íltimo suspiro e morreu.

Os lyakhy --- paralisados e pensativos,
então, se perguntaram: "Fazer o que, agora?
Senhores do Conselho! Pensaremos algo ---
com ele nada podemos mais fazer!
Podemos queimar o templo!"

--- Um vozerio!
"Que Deus nos perdoe!
Acreditamos todos em Deus!"
Amotinavam-se os lyakhy.
Gritaram: "Quem é?"
Batia à porta a Oksana.
"Mataram o meu pai, mataram!"
Ao chão caiu como uma pedra,
e desmaiou.

Da turba o lider,
sobre os presentes,
acenou a sua mão e,
todos de pronto silenciaram
--- como se cães domesticados fossem.

Abriu-se a porta e a Oksana:
"Yarema, onde estás tu?"

Yarema, muito distante,
trilha caminhos desconhecidos
--- canções cantando
de como o Nalyvaiko
tenha lutado com os lyakhy.

Tombaram os lyakhy;
com eles, tombou a Oksana.

Ouvia-se uivo de cães em Olshana
--- ora latiam, depois silenciavam...

A lua brilhava; as pessoas dormiam.
O tytar, também dormitava...
Não mais levantaria:
adormeceu para sempre.
As luzes que um dia foram acesas,
se apagaram. Se apagaram p'ra sempre.
Parece que o morto suspirou.
Um silêncio triste,
dos aposentos a conta tomou.

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tytar --- Administrador eclesial, responsável pelo templo e pelas coisas relativas ao
suprimento das necessidades eclesiais
tetarivna --- Filha do tytar
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04/21/2009

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