quarta-feira, 15 de abril de 2009

Haidamaky --- Os Confederados

Taras H. Shevchenko

Tradução de Mykola Szoma
(Shchoma Mykola Opanasovych)

"Abra a taberna; Ó, taverneiro maldito!
Ou terás de arrepender-te... Abra logo!
Derrubem as portas, até que apareça
o velho trapaceiro inutil!"

"Esperem! De uma vez só, agora!
Usar açoites ---
Orelha de porco! Resolveste tu
ainda brincar conosco?"

"Eu? Com os senhorees?
Que Deus me livre!
Agora, permitam-me levantar,
senhores preclaros magnatas!" (Sussurra: "porcos!")

"Senhor Coronel, destrua!"

Arrombada caiu a porta... e o chicote
passeia ao longo do lombo do 'malvado'.

"Meus cumprimentos, porco endemoniado.
tenha meus respeitos, filho do capeta!" E,
mais chicote, chicoteando o lombo do 'malvado'.

O taverneiro se contorcia e gemia adoidado:
"Não brinquem comigo, senhores. Tenham pena!
Por favor, adentrem!"

"Mais chicote! E... mais uma!.. Basta!
Perdoa-nos; Ó, maldito!
Boa tarde em sua casa. Onde está a filha?"

"Morreu, senhores".

"Estás mentindo, seu 'malvado'!
Vai mais chicote!"

Lançaram-se de novo.

"Meus senhores, bons amigos,
juro que ela já está morta!"

"Estás mentindo de novo, seu malvado!"

"Se é mentira,
que Deus me castigue!"

"Não evoque o Deus à toa.
Nós é que punimos. Logo confesse!"

"Por que eu esconderia;
se está viva, que eu seja maldito!.."

"Ah! Ah! Ah! ah!.. Capeta, senhores,
litania (de missa) promove.
Tenham bênçãos todos!"..

"Que sinal da cruz eu faço
--- nem sei como é".

"Assim, veja..."

O lyakh se persigna e,
seguindo-se-lhe o judas
o sinal-da-cruz imita...

"Bravo! Bravo! Persignaram-se.
Mas, por um tal milagre,
comes e bebes queremos, senhores!
Estão nos ouvindo, vós que sois batizados?
Comes e bebes!"

"Já, já... Vai agora!"

Todos urros deram, como se animais fossem
--- urram os lyakhy; os garsons
as mesas de todos servem.
"Jeszcze Polska nie sginiela!" ---
Cada qual bebido, a seu modo grita.
"Mais bebida, taverneiro!"

Taverneiro --- o batizado, em disparada
--- da adega para a choupana:
traz bebida, serve a todos à vontade;
Os confederados gritam: "Traga-nos hidromel!"
Já sem sentidos o taverneiro ---
parece arco de "canga de coice",
encurvado sobre si mesmo.

"Cadê os címbalos!
E cadê os pratilheiros?
Toque agora, seu psyavira!"
A taberna estremece ---
o krakowyak cresce;
dominam a valsa e a mazurka.

O taverneiro,
cochichando consigo mesmo:
"Coisas da Nobreza!"
"Basta! Agora, cante!"
"Por Deus, não sei cantar!"
"Sem falso juramento, cão imundo!"
"E, que canção? A mais engraçada?"

"Era uma vez Gandzya,
pobre e mutilada.
Juramentos fazia,
orações praticava
--- suas pernas eram enfermas:
Nem sempre ela andava.
Não podia fazer a barshchyna;
porém, aos encontros amorosos,
de mansinho --- às escondidas,
entre os arbustos e ervas,
sempre disposta estava".

"Chega! Basta! Esta não é boa:
os Cismáticos gritaram".

"Qual, então seria? Poderia ser esta?
Aguardem, um pouco. Tento recordar-me..."

"Diante do senhor Khvedirko
o pagão vive tremendo
--- anda para a frente e,
para trás volta...
Ele teme o senhorio Khvedor".

"Chega, agora! A vez do pagamento!"

"Estás brincando, senhorio:
pagar o que hei de?"

"Pelo que ouvistes.
Não se aborreça; ó, pobretão!
Não brincamaos. Dinheiro à mesa!"

"De onde tirarei os ducados?
Nenhum grosche eu tenho ---
sou rico de misericórdia do senhorio".

"Não minta, cão imundo! Confesse!
Vamos lá, senhores
--- chicotadas nele!"

Começaram de chicotes os sibilos
--- batizando o infiel pagão de novo.
Açoitaram, e açoitaram
--- que só a pena voou...
"Juro por Deus, nem polushka tenho!
Podem devorar o meu corpo!
Nem polushka! Gritos! Socorro!"

"Já te socorremos".
"Esperem um pouco, direi algo".
"Estamos ouvidos, fale;
porém, não minta.
Mesmo estando morto,
não sairás com mentira".

"Não, em Olshana..."
"Está o teu dinheiro?"
"Meu!.. Deus que me guarde!
Não, eu digo, que lá em Olshana...

Os Cismáicos co-habitam
--- de três a quatro famílias,
numa única choupana".

"Disto nós sabemos,
porque nós os esbulhamos".

"Não, não é isto... desculpem-me...
Para que não tenhais surpresa,
para que o dinheiro vosso seja...

Saibam que lá em Olshana
há uma clerezia...
lá há um tytar...
a sua filha Oksana!
Deus a guarde! Que senhorita!
Que bondade!
E o dinehiro! Embora, não seja dele.
Pouco importa. É dinheiro mesmo".

"Se é dinheiro, tanto faz!
Diz verdade o pagão imundo.
Para ter-se a certeza da verdade,
é seguir só o caminho, até a cidade.
Todos a caminho!"

Foram os lyakhy até a Olshana.
Debaixo de um escabelo
um confederado bebum
--- não consegue levantar-se; e,
o resto do galinheiro grita:
“My zyjemy, my zyjemy,
Polska nie zginela”.

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lyakh --- designação com os ucranianos identificavam os poloneses
Jeszcze Polska nie sginiela! --- A Polônia não morreu ainda!
psyavira ---(ukr.) Diziam os poloneses, a respeito dos rusynos (os ucranianos), de que cada rusyno era um cão (sobaka) e que a sua fé (vira) era uma fé de sobaka (sobacha vira). Em polones, "psyavira" (fé de cão).
krakowyak --- dança polonesa
mazurka --- dança polonesa
barshchyna --- No tempo da servidão, er o trabalho obrigatório e gratuito do campones para o seu senhor
Cismáticos --- Designação pejorativa dos ortodoxos, dentro da RezcPospolita. Em ucraniano seria "rozkol'nyky". Os que não seguiam a fé dos uniatas greco-católicos).
Khvedirko e Khvedor --- é o mesmo personagem
ducados --- Antiga moeda de outro do império Áustro-Húngaro e da Rússia
groshi --- Moeda russa. Aqui, equivale a nenhum vintém eu tenho
polushka --- Moeda de troco,
equivalia a 1/4 de kopeika que, por sua vez, equivalia a 1/100 de rublo antigo
clerezia --- Classe clerical, pertencente a Igreja Católica Romana tytar (ktytar) --- Sinificado original do grego, fundador ou construtor do templo cristão; depois, o que cuidava das coisas e das necessidades do templo
My zyjemy, my zyjemy, Polska nie zginela” --- Nós estmos vivos, nós estamos vivos; a Polônia não morreu.
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04/15/2009

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